Zona Oeste do Rio vive seu verão mais quente em 30 anos
Vale se esconder em sombras e aproveitar o ar condicionado de lojas.
Moradores da Zona Oeste do Rio encaram o verão mais quente dos últimos 30 anos, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Em Santa Cruz, os termômetros já indicam que a média da temperatura do mês de janeiro alcançou a máxima média de 36,5°C; 4,1°C acima do esperado. O G1visitou o bairro nesta quinta-feira (29) e encontrou moradores e trabalhadores sofrendo muito com o calor.
Antes da máxima média atual, a mais alta registrada aconteceu em 1984: 36,4°C, na mesma estação de medição. Neste mesmo ano, a temperatura mais alta registrada foi 37,1°C, em Bangu, também na Zona Oeste.
Para driblar o calor e o mal estar, os pedestres e trabalhadores que vão aos centros comerciais de Santa Cruz usam a criatividade, mas, segundo eles, o poder público pouco faz para amenizar os riscos à saúde que a exposição ao sol pode causar.
Idosas que não podem evitar idas ao centro apelam para sombras das árvores. Terezinha Carvalho de Araujo, de 72 anos, andava com sua sombrinha, mas já sabia que precisava voltar logo para casa: "Saio cedo para voltar cedo. Minha pele não aguenta".
Falta árvore, diz idosa
Outras idosas, como sua xará Terezinha Costa Pires, 67 anos, que começou a trabalhar como distribuidora de folhetins, diz que o bairro já foi mais arborizado.
"Eles constroem um monte de prédio, e vão tirando as árvores. Assim, fica cada vez mais quente", lamentou. Terezinha bebe bastante água enquanto trabalha, e passa protetor e hidratante antes de ir para o sol. Mas apesar das precauçoes, já passou mal perto de casa. "Minha sorte foi que os vizinhos me socorreram, por causa da pressao alta", recorda.
Falta d\'água
Valeria Rocha Lopes Ferreira, mãe de Samara, de apenas 8 meses, reclama que nesta época do ano falta água em casa. Ela se preocupa com a filha. "Em casa, o bebê precisa tomar bastante banho, beber água, e muitas vezes falta".
Na opinião de Valéria, seria muito importante que o poder público providenciasse, ao menos, hospitais com ar condicionado forte e eficaz. "Se a gente passar mal nesse calor, vão nos levar para um lugar mais quente ainda, sem conforto", observa.
Há quem enfrente o calor, entretanto, por opção. Juliana Maria Freita, de 18 anos, é aspirante da fraternidade \'O caminho os pobres de Jesus Cristo\', da Igreja Católica. Ela fez um voto de pobreza, e todos os dias usa roupas feitas de um tecido grosso, bastante quente, mesmo morando em Santa Cruz. "A gente suporta, como sacrifício a Deus", conta. Juliana confessa que sente muito calor, mas bebe bastante água. "O poder público poderia colocar mais bebedouros nas ruas. Isso ajudaria muito", sugere.
Outros ainda acabam sendo beneficiados. Salvador Gama, que há 5 anos vende água de coco em Santa Cruz, disse que o movimento aumenta nessa época do ano. Ao longo desses anos de trabalho, já viu muitos clientes comprando água de coco justamente porque estavam passando mal, prestes a desmaiar. Como trabalhador desse ramo, arrumou uma estratégia para não passar muito calor, na sua rotina de trabalho. "Fico debaixo dessa árvore, e na frente da sapataria, que tem ar condicionado. Conto com a ajuda de São Pedro para trazer, de vez em quando, um ventinho gelado de lá para cá". A família do vendedor se preocupa com o fato dele trabalhar no calor, e, por isso, Salvador não abandona o boné.
Calor em toda a cidade
Na cidade do Rio de Janeiro a temperatura média registrada para este mês, até esta quarta-feira (28), é de 33,9°C. Como informou o Inmet, o esperado era de 33,1°C. Nos anos de 2006, 2010 e 2011, quando foram registradas médias de temperaturas altas na cidade, os termômetros indicavam, respectivamente, 34,6°C, 36,2°C e 34,7°C.
Do G1 Rio
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