VILÃ: Inflação aperta mais o bolso

Fazer as compras no supermercado saiu bem mais salgado para o fortalezense neste ano. Não bastasse toda a pressão nos preços causada em 2013, a inflação deverá continuar a ser o vilão da economia no próximo ano, segundo a previsão dos economistas. Como a meta estabelecida pelo governo, de 4,5%, há muito foi ultrapassada, a perspectiva é que os preços, sobretudo de alimentos e bebidas, sigam em alta. Ainda para este ano, a perspectiva é que a o Índice Nacional ao Consumidor Amplo (IPCA) de Fortaleza termine em 6,42% , conforme o Instituto de Pesquisa e Estratégica Econômica do Ceará (IPCE). Enquanto isso, o Banco Central prevê que o índice nacional feche o ano em 5,70%.

Segundo analistas, os alimentos impactam mais na inflação por serem itens cujo consumo não pode ser freado mensalmente. 

´Choque nacional´

"A inflação foi o choque nacional. O que pesou no regional foi mais alimentos e bebidas, mas habitação também puxou um pouco, assim como transporte", afirma Ana Cristina Lima, economista do Ipece. Esse "choque" também foi percebido pela empresária Maria do Amparo Campelo, que é responsável por fazer as compras de casa para a família - composta por ela, o marido e a filha. Segundo Maria, essa alta tem sido sentida a cada nova compra, sendo que, nos últimos dois meses, foi bem mais intensa. "Vou umas duas ou três vezes na semana ao supermercado e faço pesquisa de preço em três lugares diferentes. Tem uma diferença muito grande no preço e a gente percebe, mas até agora sempre dá para comprar, graças a Deus", comenta.

Boa parte dos produtos não perecíveis, segundo ela, são comprados uma vez por mês. Já carnes e queijos, por exemplo, são repostos semanalmente. "Quando vou fazer o mercantil para completar o que falta, sempre dá mais caro que dá última vez", diz. Apesar de afirmar que frutas e verduras têm se mantido com valores razoáveis, alimentos prontos estão sempre mais caros, segundo ela. A economista do Ipece explica que, em Fortaleza, alguns itens da cesta tiveram mais peso em 2013 por motivos variados. "A inflação começou a pressionar a partir de 2012, com o período de seca. Somos um Estado pouquíssimo autossustentável e importamos de outros, como é o caso do trigo - que refletiu no preço das massas", avalia. Além disso, por conta da estiagem, a mandioca, item típico da região, também sofreu aumento. Segundo ela, caso o dólar continue a subir, deve puxar a inflação, sobretudo dos itens que dependem de importação.

Medida efetiva

O vice-presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef-CE), Ênio Leão, também mostra preocupação com a alta do IPCA. Conforme ele, o índice deve seguir em disparada se não houver uma medida efetiva do governo. "É preciso aprender a trabalhar com um nível de inflação mais baixo. Uma vez implementada a meta, não deveria ser superada. Há uma perda de renda muito forte e um risco maior da economia ser indexada", diz.

Ênio questiona a alta constante de preços e alerta que, em muitos dos casos, eles sobem "porque no passado subiram". "Ninguém se pergunta se o preço tem que subir porque teve aumento de custo. Com isso, corre o risco de acontecer uma hiperinflação, como na década de 1980. É um passado muito recente e, na cabeça das pessoas, há o costume de indexar preços", analisa. De acordo com ele, os alimentos impactam mais por serem itens cujo consumo não pode ser freado mensalmente. Além disso, lembra, as classes mais baixas são as que sofrem impacto maior com a elevação do índice. Em relação ao IPCA de Fortaleza, ele destaca que tem seguido o nacional, compensando o ano de 2012, quando esteve mais baixo que o Brasil. (GR)