HISTÓRIA DE TERROR: Projeto ajuda crianças a superar temores

Para ajudar a garotada a superar temores, o projeto “Bu: Histórias de Medo e Coragem” mostra que enfrentar o desconhecido é a melhor maneira de conviver com ele

Medo de escuro, de injeção, de cobra, de insetos, de altura, de bicho-papão, de fantasma e até de barulhos muito altos. Sentir medo é mais normal do que você imagina e, acredite, todo mundo teme alguma coisa. Seja gente grande ou pequenininha, o sentimento pode até dar um nó na garganta, mas é fundamental para nossa sobrevivência.

“Por que será que o medo nos mobiliza tanto?”. Essa pergunta martelou a cabeça dos realizadores do Programa Endesa Brasil de Educação e Cultura. Isso porque o tema mais comum nas redações infantis, de acordo com os professores, é o medo, seja lá do que for. Criado em 2011 pelo grupo elétrico Endesa Brasil, o programa ajuda na alfabetização de crianças de escolas públicas brasileiras. Neste ano, a garotada do 4º e 5º ano do Ensino Fundamental recebeu um desafio instigante: descobrir os seus medos e escrever sobre eles. A criançada soltou a imaginação e assim nasceu o projeto “Bu! Histórias de Medo e Coragem”.

Desde o mês de setembro, estudantes do Ceará, Goiás, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro foram convidados pelo programa Endesa para criar roteiros, personagens, poções e encantamentos e enfrentar os seus maiores temores escondidos no armário. Para a aventura ser ainda mais real, professores de todas as escolas públicas participantes foram treinados com a contadora de histórias paulista Kiara Terra. Assim, a garotada embarcou de vez no mundo da fantasia e aprendeu a enfrentar o desconhecido. Quer saber o resultado dessa missão? O Diarinho Plus conta para você!

Sobre medo e coragem

Pode até não parecer, mas sentir medo é muito importante. “O medo é o que torna a gente humano”, explica a contadora Kiara, também conhecida como Kikita – apelido que ganhou do pai. “Só quem tem medo de perder quem ama é que se envolve de verdade; só quem tem medo da morte vive plenamente; só quem tem medo de adoecer cuida de si mesmo. O medo é um exercício para sermos mais fortes”. Conversa vai, conversa vem, todos os envolvidos no projeto “Bu!” fizeram uma descoberta importante: “Percebemos juntos que não se termina com o medo. A gente só aprende a acolher o medo e colocar isso no mundo. Todo medroso tem no coração um desejo de acolhimento. Então a gente trabalha nesse ponto: como o meu medo me fortalece?”.

Pensando nisso, as pequenas Rayssa Rocha, 11, e Soraya Nogueira, 10, transformaram um pavor real em uma divertida história que virou até peça de teatro. “Lá na minha escola, a EMEF Juvenal Pereira Façanha (Aquiraz), tinha um homem que maltratava muito os animais. No conto, colocamos o nome dele de Calazar. Ninguém gostava dele por causa disso, então, quando ele morreu, ninguém foi ao velório porque ele era muito mau”, conta Rayssa. “Hoje não me assusto mais com isso. Acho que para superar o medo a gente deve saber que muita coisa é só nossa imaginação. As mães de crianças pequenininhas sempre dizem \'menina, vai dormir senão o bicho-papão vai te pegar\'. Minha mãe sempre dizia e eu morria de medo. Hoje, como eu sou grande, não tenho mais medo. Não é legal que os pais falem isso para as crianças. Depois a gente precisa descobrir que muitas coisas não existem”, opina a menina.

As amigas são mais uma dupla dos alunos de 143 colégios da rede pública de Fortaleza, Aquiraz, Iguatu, Caucaia e São Gonçalo do Amarante que enviaram redações sobre medo e coragem para um concurso cultural que aconteceu nos estados participantes na última segunda-feira, dia 9. Só aqui no Ceará, 1047 contos foram escritos pela garotada. A coletânea de textos vencedores em todo o Brasil dará origem a um livro, o qual será encaminhado até março do ano que vem às escolas e bibliotecas públicas das cidades participantes.

Mas o mais legal do projeto “Bu!” é que a garotada aprendeu uma coisa bem importante: nós somos maiores do que nossos medos. “O legal de escrever sobre algo que a gente tem medo é conhecer o que não conhecemos. Acho que é o desconhecido que assusta”, acredita Ingrid Vitória, 11. Junto com a amiga Maria Naiane, 11, ela criou um conto pra lá de horripilante com a história de uma bruxa sem cabeça. Medo? “Que nada. A gente já aprendeu o que fazer com ele”, garante Naiane.

Serviço:

Projeto "Bu! Histórias de Medo e Coragem", do programa Endesa Brasil de Educação e Cultura e Ministério da Cultura.
Escolas participantes no Ceará:
Aquiraz: EMEF Padre Heribert Kloss e EMEF Juvenal Pereira Façanha
Fortaleza: EM Ulissses Guimarães e EM Henriqueta Galeno
Iguatu: EMEF Carlota Távora
Caucaia: EEIEF Estevam Matias de Paula e EEIEF Luiz de Gonzaga Fonseca Mota
São Gonçalo do Amarante: EEF Joaquim Pacheco de Menezes e EEF Dona Filomena Martins