João Paulo Cunha quebra silêncio e dispara: \'Julgamento foi uma farsa\'

O deputado petista, condenado a 9 anos e 4 meses de prisão, disse ainda que o ministro Joaquim Barbosa trabalha com informações seletivas

Há quase três anos sem grandes intervenções no plenário da Câmara, o deputado João Paulo Cunha (PT-SP) deixou a reclusão ontem para se defender da condenação no mensalão sustentando que o julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF) foi uma “peça teatral de farsa”. 

O petista disparou ataques ao STF, em especial ao presidente da corte e relator do processo, Joaquim Barbosa, dizendo que ele é um juiz que trabalha com informação seletivas. Mais uma vez, criticou a imprensa, reiterou sua inocência e negou que pense em renunciar ao mandato se for pedida sua prisão. 

“Eu sei o que fiz e o que não fiz. Eu nunca fiz nada de errado. E se tivesse que fazer, não faria aqui (na Câmara)”,disse.

A fala foi recebida por parte dos colegas como um grande ato de despedida. O petista apontou que precisava quebrar o “silêncio obsequioso” para rebater injustiças. “Sou mensaleiro de muitos anos. Passo por esse infortúnio desde 2005. Essa é uma prestação de contas aos meus 256 mil eleitores, aos senhores deputados e aos filiados do PT”, disse.

E completou: “Fiz uma opção pelo silêncio, ele acaba aproximando a gente da gente mesmo. O político tem facilidade para falar, mas pouca para se ouvir. Só percebi isso quando fui arrasado por esse processo”, disse.

O deputado fez uma comparação de sua condenação à prisão à história do líder sul-africano Nelson Mandela, que lutou contra a discriminação racial e passou 27 anos na cadeia. “Se o Mandela ficou 27 anos preso, longe de mim me comparar com o Mandela, eu suportarei também. Eu não quero é ficar sozinho lá (...) Quero que me mandem cartas”, disse.

João Paulo Cunha foi condenado a 9 anos e 4 meses de prisão em regime inicialmente fechado pelos crimes de peculato (desvio de dinheiro público), corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Como ainda resta um recurso para ser analisado pelo Supremo, seu caso deve ser definido em 2014.

A maioria dos ministros do STF acolheu acusação da Procuradoria de que ele recebeu R$ 50 mil do esquema que desviou recursos públicos para abastecer a compra de apoio no Congresso durante o início do governo Lula. (da agência Folhapress) 

Saiba mais

Ex-presidente da Câmara na época do escândalo, em 2005, João Paulo Cunha teria sido beneficiado pelo esquema para contratar uma das agências de Marcos Valério, operador do esquema, a SMP&B, para atuar na Câmara. "Essa é uma luta que não vai terminar agora, com minha prisão, do Zé (Dirceu) e do Genoino. Tem ingênuo do PT que diz que é bom acabar rápido com isso que a eleição está chegando. Ainda vou ficar muito tempo aqui com os companheiros", disse.

Em mais uma ofensiva contra o resultado do julgamento, João Paulo lançou ontem uma revista intitulada de "Nada mais que a verdade". O documento passou a ser distribuído em um dos corredores da Câmara em evento que contou com cerca de 30 deputados do PT. O texto, montando em forma de perguntas e resposta, traz documentos e nega a tese de que ele participou de um esquema de corrupção.

João Paulo Cunha aproveitou discurso para tecer duras críticas à postura do presidente do STF, ministro Joaquim Barbosa (LUCIO BERNARDO JR./AGÊNCIA CÂMARA)