Bombeiros acham carteira de desaparecido em desabamento

Um vigia que costumava dormir no segundo subsolo era procurado.

Os bombeiros encontraram nos escombros a carteira, documentos e um número de telefone do vigia e ajudante de pedreiro Edenilson Jesus Santos, de 23 anos, que está desaparecido desde o desabamento de um prédio em Guarulhos, na Grande São Paulo, na noite desta segunda-feira (2). Até as 16h desta terça-feira (3), ele não havia sido localizado.

"Acabamos de retirar do entulho a carteira com a identidade e o número do telefone. Já ligamos e deu caixa postal. O trabalho agora vai se basear tecnicamente nos cães, que vão dar suporte para a gente, delimitando locais onde a gente pode atuar", afirmou o capitão Marcos Palumbo, do Corpo de Bombeiros.

O capitão falou da dificuldade em encontrar a vítima com vida. "São nove pavimentos (cinco andares, térreo, mezanino e dois subsolos), e a vítima que estamos procurando está no segundo subsolo. A gente verifica que é uma situação bem difícil. Se a gente encontrá-lo com vida, com certeza ele vai ter muitas histórias para contar".

O pedreiro Gildásio Santos, tio de Edenilson, disse ter certeza de que o jovem está sob os escombros. "Ele trabalhava e morava aqui [obra], só ia pra casa da irmã dele no fim de semana". Segundo o tio, a família está tentando falar com o vigia desde o acidente, mas não consegue. "A esperança da família é que ele seja encontrado com vida. Estou torcendo para essa história ter um final feliz".

Irmão do vigia, Edvaldo Jesus Santos, que também trabalha na obra há 7 meses, disse que via rachaduras na estrutura do prédio. "A gente fazia um dia, e no outro dia ela estava de volta". Edvaldo também relatou a falta de equipamentos de segurança durante a construção.

O advogado da construtora responsável pelo edifício disse que essa hipótese é improvável. “Sem equipamento de segurança é impossível. Obra deste tamanho sem fiscalização não existe”, afirmou Maurício Monteagudo, que defende a empresa Salema Comércio, Construção e Projetos Ltda.

As buscas continuaram durante toda a noite de segunda-feira. Equipes com cães farejadores foram à Avenida Presidente Humberto Castelo Branco, altura do número 1.900.

Nesta manhã, o capitão Carlos Roberto Rodrigues, do Corpo de Bombeiros, informou que os cães sinalizaram uma possível localização da vítima, em um ponto a 5 metros de distância da rua e cerca de 7 metros abaixo do térreo.

"Estamos trabalhando com todo o cuidado para tentar chegar próximo a esse local sinalizado pelos cães. Estamos falando de um desabamento em camadas. Mas, no segundo subsolo, onde havia a maior probabilidade de estar o operário, existem espaços vitais isolados, onde há uma maior probabilidade de nós o acharmos", disse Rodrigues.

O ponto apontado pelos cães é uma área no segundo subsolo, a cerca de 10 metros de distância de um chuveiro encontrado aberto. De acordo com o capitão, a estrutura dos escombros foi alterada com uma movimentação de lajes, o que torna o local muito instável e de alto risco para o trabalho dos bombeiros. 

Interdições
Moradores de uma casa ao lado da construção, e que também foi atingida pelos escombros, foram retirados em segurança. Oito casas da rua debaixo foram esvaziadas por precaução, de acordo com a Defesa Civil. Os moradores foram encaminhados para residências de parentes ou abrigos. Às 7h desta terça, três residências já haviam sido liberadas.

Mais de 20 equipes dos Bombeiros de Guarulhos, Suzano e Mogi das Cruzes foram enviadas ao endereço.

O prédio que estava sendo construído na avenida, que fica paralela à Rodovia Presidente Dutra, era comercial, segundo a Prefeitura de Guarulhos.

Dificuldades
O capitão Cafer, do Centro de Operações do Corpo de Bombeiros, disse à GloboNews que a principal preocupação é com a segurança das equipes de resgate. "A preocupação é se há mais galerias para baixo. Os bombeiros vão trabalhar na área colapsada e não há informações do que há abaixo deles", afirmou.

Foi pedido que helicópteros não se aproximem muito da área, para facilitar na localização de possíveis vítimas. O Corpo de Bombeiros solicitou um reforço de iluminação para que as equipes possam trabalhar.

O operário Francisco Antônio Barbosa de Souza, de 23 anos, disse que "muita gente" trabalha na obra, mas a maioria havia ido embora às 18h, após o fim do expediente. "Alguns dormiam aí. Uma faixa de uns seis, mas hoje não estavam todos. Só havia uns dois", afirmou.

Quando o acidente aconteceu, ele já estava em casa. Souza contou que a obra estava no quinto e último pavimento. "Ia bater mais uma laje e fazer a caixa d\'água", concluiu.

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria da Construção de Guarulhos e Arujá, Edmílson Girão da Silva, afirmou que, aparentemente, a obra estava em situação regular, mas ressaltou que a qualidade do material que vinha sendo utilizada na construção precisa ser analisada.

Alvará de construção
Por meio de nota, a prefeitura de Guarulhos informou que o "alvará de construção foi emitido em 23 de novembro de 2012 para erguer um condomínio residencial de 30 apartamentos e 2 salões comerciais, totalizando 3.706 metros quadrados". No dia 14 de maio, a empresa Salema Comércio, Construção e Projetos Ltda., responsável pela obra, entrou com um pedido de substituição do projeto, acrescentando um mezanino em um dos salões comerciais. "Esse alvará foi expedido em 6/11/2013, por atender aos requisitos legais e técnicos aferidos pela prefeitura", informou o comunicado.

De acordo com a prefeitura,  "a responsabilidade sobre a execução da obra, de modo a garantir que todas as medidas de segurança estrutural do prédio e de bem-estar dos funcionários que a executavam fossem cumpridas, cabe à empreiteira, através do seu engenheiro responsável".

Tatiana SantiagoDo G1 São Paulo