Hidrantes falharam quando Corpo de Bombeiros chegou ao Memorial
Fotografias mostram atuação dos bombeiros dentro de prédio em chamas.
Do G1 São Paulo
Os hidrantes não funcionaram quando as equipes do Corpo de Bombeiros chegaram ao auditório Simon Bolívar, no Memorial da América Latina, que pegou fogo nesta sexta-feira (29), informou o Jornal Nacional. Foi necessária uma manutenção às pressas para que eles pudessem ser usados no combate às chamas.
O incêndio ocorrido na tarde desta sexta consumiu cerca de 90% do auditório. Fontes ouvidas pelo Jornal Nacional disseram, ainda, que os sprinklers também não funcionaram. Sprinklers são chuveirinhos que disparam água quando a temperatura aumenta muito. A fundação que administra o Memorial informou que vai esperar o resultado da perícia para se pronunciar sobre o problema no sistema de combate a incêndio.
O fotógrafo dos bombeiros registrou a batalha contra o fogo dentro do auditório. As imagens mostram a equipe dentro do prédio que era consumido pelo incêndio. Dois dos bombeiros - os cabos Oscar e Roberto - seriam internados pouco depois, na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), por causa da fumaça que respiraram.
O combate ao fogo no auditório se tornou um desafio aos bombeiros. Mais de 20 profissionais passaram mal. “Foi muito difícil porque aquela edificação tem uma característica em que não havia condições de exaustão da fumaça”, explicou o coronel Nilton Miranda, dos bombeiros. Quatro seguiam internados na UTI do Hospital das Clínicas neste sábado (30) e mais um bombeiro estava internado no quarto, em estado estável.
O auditório tinha auto de vistoria do Corpo de Bombeiros. O documento, emitido em janeiro deste ano, atesta que a área possui as medidas de segurança contra incêndio e é válido até dezembro de 2014. O Memorial da América Latina está com alvará vencido há 20 anos. O presidente da fundação que administra o Memorial, João Batista de Andrade, disse que o pedido de renovação do alvará está parado na Prefeitura. E que conseguiu uma outra autorização do Departamento de Controle do Uso de Imóveis (Contru).
De acordo com a administração do memorial, este é o documento que permite a realização de grandes eventos no auditório. O documento tem data de 16 de maio deste ano. É assinado por um diretor do Contru e diz que, após vistoria no auditório, foram atendidas - mediante apresentação de atestados e laudos técnicos - todas as exigências para preservar a segurança.
A Prefeitura de São Paulo declarou que o auditório tinha autorização para funcionar. Mas que o processo de liberação do alvará parou porque o Memorial não entregou todos os documentos necessários.
Perícia
A perícia vai começar a apurar a causa do incêndio no auditório neste domingo (1º). Os bombeiros ainda tiveram muito trabalho neste sábado (30) para resfriar a área atingida.
Imagens dentro do prédio mostram que uma parede de madeira precisou ser arrebentada para os trabalhos dos bombeiros. Muita água usada para apagar as chamas ainda está no ambiente. Há madeira queimada, pedaços de espuma espalhados pelo chão e tecidos. Esse material ainda continua quente por baixo e precisa ser resfriado para evitar novos focos de incêndio no Auditório Simon Bolívar.
Os bombeiros passaram o dia apagando pequenos focos. “Há bastante calor ainda. A Polícia Técnico-Cientifica está fazendo a perícia do local, e a questão estrutural será avaliada pela Defesa Civil”, disse o major Wagner Leshmer, do Corpo de Bombeiros. Não há risco de desabamento do teto, mas o piso, em vários níveis, pode ceder.
Os peritos estiveram no auditório, mas só vão começar a trabalhar depois que o local estiver completamente resfriado, o que deve ocorrer apenas neste domingo.
Feridos
Os bombeiros feridos foram vítimas, segundo o porta-voz, do chamado “flashover”, ou combustão súbita. Isso acontece em ambientes fechados, quando o material que está queimando libera gases. Quando os bombeiros abriram a porta do auditório, esses gases entraram em combustão em contato com o oxigênio. Os dois bombeiros que estão em estado mais grave tiveram queimaduras nas vias aéreas, mas não correm risco de morte.
Segundo o Memorial da América Latina, havia funcionários no auditório quando o incêndio começou, mas eles foram retirados rapidamente e não sofreram nenhum ferimento.
O auditório tem um palco central e a plateia dividida em duas metades. De acordo com a assessoria do Memorial, o forro da plateia B do auditório foi bastante danificado pelo incêndio.
O presidente do Memorial disse que toda a programação do auditório está suspensa até a reforma do espaço, que tem capacidade para 1,6 mil pessoas. Segundo ele, é preciso um laudo técnico para avaliar o prejuízo causado pelas chamas. O auditório está no seguro.
Tomie Ohtake
A artista plástica Tomie Ohtake disse que "ficou triste" com o incêndio no auditório do Memorial da América Latina nesta sexta-feira (29). Em declaração, ela se mostrou disposta a refazer a tapeçaria de sua autoria que ocupa a lateral da construção e foi atingida pelo incêndio.
"Quando Oscar [Niemeyer] me convidou para fazer o trabalho para o auditório do Memorial, fiquei feliz por ser uma obra em escala inusitada, uma tapeçaria que toma toda a parede lateral do teatro, acompanhando as duas plateias e o palco - e dentro daquela obra fantástica do Oscar. Fico triste com o incêndio do auditório. Quanto ao painel, temos que começar então a trabalhar para refazê-lo", disse em declaração enviada ao G1 pela assessoria do Instituto Tomie Ohtake.
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