“CONTRAINTELIGÊNCIA” Abin confirma espionagens no Brasil
Brasília. O governo brasileiro confirmou ontem que operações do serviço secreto brasileiro monitoraram, em ações de contra-inteligência, representantes de países como Rússia, Irã e EUA e tentaram averiguar se houve sabotagem na explosão da base de lançamento de satélites em Alcântara, no Maranhão.
Sem detalhar as ações comandadas pela Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o diretor do órgão, Wilson Trezza, e o ministro chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), José Elito, garantiram, durante audiência no Senado, na tarde de ontem, que todas as operações respeitaram a legislação.
O principal braço de espionagem do governo brasileiro monitorou diplomatas de três países estrangeiros em embaixadas e nas suas residências, de acordo com um relatório produzido pela Abin. O documento oferece detalhes sobre dez operações secretas em andamento entre 2003 e 2004 e mostra que até países dos quais o Brasil procurou se aproximar nos últimos anos, como a Rússia e o Irã, viraram alvos da Abin.
Elito afirmou que “são fatos que aconteceram há dez anos” e não há nada de errado com operações de contrainteligência. “Trabalhamos em sintonia com os princípios constitucionais e legais e absoluta observância aos princípios éticos e morais”, completou Trezza, na audiência que reuniu deputados e senadores de diferentes comissões.
Questionado sobre o monitoramento das antenas de comunicação usadas pelos EUA em quatro cidades brasileiras, Trezza não revelou se foi constatado o uso inadequado dos equipamentos. “Toda vez que há indício de ameaça, que algo chama a atenção, vamos averiguar. Às vezes desenvolvemos atividades por um, dois, três anos até chegar a conclusão de que nada aconteceu”, disse o chefe da Abin.
Trezza também informou aos deputados e senadores que um procedimento administrativo para apurar irregularidades de conduta de um servidor federal custa, em média, R$ 134 mil. O custo da investigação interna foi usado como uma das justificativas de Trezza para a Abin ter exonerado do cargo “por quebra de confiança” sem abrir sindicância ou procedimento administrativo contra o oficial que manteve encontro suspeito com espião da CIA (o serviço de inteligência dos EUA) no Paraná.
Investigações internas
O chefe da Abin ponderou, ainda, que na gestão dele o órgão puniu mais que nas anteriores. Entre 1999 a 2007, foram 104 investigações internas. A partir de 2008, quando ele assumiu o comando da agência, foram 230, segundo o próprio chefe do órgão. “Acho que essa performance demonstra que não há intenção de escamotear a verdade ou jogar para debaixo do tapete”, disse Trezza, afirmando ainda que operações podem ser consideradas investigações internas. No entanto, há quem questione a decisão de se montar operações porque, ao contrário de sindicâncias ou procedimentos administrativos, elas não têm prerrogativa de indicar nenhuma punição. “Para quem demitiu 14, não teria o menor problema de demitir 15”, afirma Trezza que contabiliza ainda 24 suspensões e 34 advertências.
Audiência debateu espionagem de representantes estrangeiros e ouviu o diretor da agência, Wilson Trezza (primeiro à esquerda) Foto: Agência Senado
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