Famílias de jovens presos por roubo em MS lamentam \'minuto de bobeira\'
Crime aconteceu em uma transportadora de Campo Grande.
Dos quatro presos na terça-feira (8) por assalto a uma transportadora na madrugada do mesmo dia, em Campo Grande, três não tinham ficha criminal, segundo a Delegacia Especializada de Repressão a Crimes de Roubos e Furtos (Derf). Para a família de dois deles, o ato foi consequência de “minuto de bobeira”. O delegado Fabiano Nagata afirma que, de dois anos para cá, muitos roubos passaram a ser praticados por pessoas que não tinham envolvimento em crimes.
“Sabe aquele minuto de bobeira, acho que foi isso”, diz a aposentada de 42 anos, mãe de um dos detidos, um rapaz de 19. Ela ainda não conversou com o filho sobre o que aconteceu e acredita que ele agiu pensando em ganhar dinheiro fácil para pagar dívidas.
O segurança aposentado de 48 anos ainda também não conversou com o filho, de 22, e assim como a mãe do outro jovem, afirma que o rapaz agiu sem pensar nas consequências. “Foi um vacilo. Um minuto de bobeira”.
Os dois jovens foram presos em casa com os pais como testemunhas. A prisão foi uma surpresa para as duas famílias que, ao falar sobre o comportamento dos rapazes, fizeram elogios. “Nunca tive um pingo de trabalho com ele”, relata o segurança. “É um menino bom, que nunca deu trabalho”, declara a tia do outro, uma administradora de empresas de 45 anos.
Os dois e mais um rapaz de 18 anos, cuja mãe não aceitou conversar com o G1, e outro de 24, são apontados pela Derf como os responsáveis pelo roubo à transportadora. Policiais chegaram até o local após análises das imagens feitas pelas câmeras de segurança da empresa e também pelas características de um dos veículos que eles utilizaram no assalto.
O carro foi encontrado queimado próximo ao bairro, onde três deles moram, e pertence ao filho do aposentado. Ele conta que na noite anterior ao crime, logo após o jovem chegar do trabalho, um dos suspeitos conversou com o jovem na portão de casa. Na madrugada, o homem conta que ouviu o filho sair com o veículo, mas não imaginou que fosse participar de um crime.
Pouco antes de o rapaz ser preso, o aposentado afirma que chamou atenção do filho sobre as companhias. “Eu falei, você vai arrumar encrenca. Ele ficou quieto”, lembra. Logo depois, chegaram os policiais e prenderam o jovem. Na casa dele foi encontrado o revólver calibre 32 utilizado no assalto.
Punição
De acordo com o delegado Fábio Peró, os quatro suspeitos foram indiciados pelos crimes de roubo e formação de quadrilha. O rapaz que estava com a arma em casa foi responsabilizado também por porte ilegal de arma.
O suspeito mais novo dos quatro estava com 24 munições no bolso no momento da prisão e por isso foi autuado também pelo crime de posse ilegal de munições.
Para as duas famílias ouvidas pelo G1, a prisão vai servir de lição. “Creio que ele nunca mais vai fazer isso”, diz o aposentado. “A lição foi dura, mas ele aprendeu”, diz a tia do outro jovem, antes de acrescentar. “É a oportunidade de crescimento, de forma dura. De buscar o que vale a pena na vida”.
A mulher acredita que o sobrinho participou do crime para juntar dinheiro e pagar contas adquiridas em compras de roupas e calçados de marca. Ele ainda paga parcelas de uma motocicleta e havia saído do serviço recentemente.
Família
Dos quatro suspeitos, três são filhos de famílias estruturadas: possuem irmãos, têm pais trabalhadores e que vivem juntos. Moram em bairro de classe média da capital sul-mato-grossense. Pelo menos um tinha trabalho fixo. “A gente não tem sobrando [dinheiro], mas também não falta nada”, diz a mãe do jovem de 19 anos.
Os pais afirmam que não faltou atenção nem carinho aos filhos, mas a mãe aposentada pensa em “rever” a forma de dizer “não” ao rapaz. Ela e a irmã afirmam que quando o jovem sair da prisão vai voltar a ter “carinho, amor e segurança”.
Para a mãe dele, um exemplo de que o filho é comprometido com a família foi a atitude de ligar para o pai, a pedido dos policiais que estavam na casa. “O pai dele ligou e pediu para ele vir para casa porque estava precisando dele aqui. Ele veio na hora”. A informação foi confirmada pelo delegado Fábio Peró.
Amiga da família do segurança aposentado há 20 anos, a autônoma Lucimeire de Oliveira, 36 anos, disse que está surpresa com a prisão e que continua a confiar no rapaz. O pai fala ainda que o filho “não é um guri de gastar”.
Segundo o delegado Fábio Peró, o único com passagem pela polícia é o mais velho dos suspeitos que, ainda adolescente, foi apontado como autor de receptação. Ele mora em bairro diferente dos outros rapazes e quando criança viu o pai matar a mãe e dois anos depois a madrasta, cometendo suicídio em seguida.
O crime
Um ex-funcionário, de 36 anos, é apontado pela polícia como a pessoa que deu informações sobre a transportadora para pelo menos um dos rapazes como quantidade de dinheiro no cofre e como proceder para entrar no local. Ele está foragido, segundo a polícia.
Os envolvidos renderam o vigia da transportadora e de lá roubaram o cofre com dinheiro. Eles disseram à polícia que usaram o valor para pagar dívidas. Parte do montante roubado foi recuperado.
Os entrevistados não permitiram ter a identificação divulgada.
Cofre roubado da empresa pelos quatro suspeitos presos. (Foto: Nadyenka Castro/ G1 MS)
Nadyenka CastroDo G1 MS
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