CANINDÉ: Romeiro confecciona chapéu de 4m

SÃO FRANCISCO

Canindé Já se passaram 15 anos e a rotina do agricultor Francisco Lopes Martins, residente em Pentecoste, no Vale do Curu, é sempre a mesma. Durante os festejos alusivos a São Francisco, ele deixa os seus afazeres no sertão estorricado pela maior seca da história e segue a pé com destino ao santuário de São Francisco em Canindé.

Seu objetivo: passar cinco dias na cidade e pagar uma promessa que fez quando jovem. Esse ritual é fácil de encontrar em qualquer devoto do santo, mas a maneira como seu Chico Lopes é chamado, chama a atenção de quem está na cidade.

Lopes confeccionou um chapéu de 3,5 quilos, apenas com couro de bode e com uma aba de quatro metros de diâmetro. E este é o diferencial durante sua estada pelas ruas do município considerado mais franciscano da América Latina.

De acordo com o romeiro, foram gastos R$ 800,00 para fazer o chapéu e dois meses de trabalho. Foram necessários três couros de bode adquiridos de um criador na cidade de Tejuçuoca, conhecida como a capital do bode no Nordeste.

"No início pensei em fabricar uma cruz, mas comecei a analisar que pesava muito durante os 186 quilômetros a pé até Canindé, e aí veio a ideia do chapéu, porque nesse momento o importante era vir até a terra dos milagres e prestar minha dívida com o santo´´, explica.

O andarilho acredita que seu adereço seja o maior do mundo. "Nunca ouvi ninguém falar que existisse um chapéu feito de couro pesando mais de 3 quilos e medindo 4 metros de diâmetro´´, orgulha-se o peregrino que possui também uma extensa barba de 20 centímetros.

Em relação ao pagamento da promessa, Lopes explica que foi um acidente de trabalho. "Eu cuidava de gado e um dia sofri um ataque de uma vaca furiosa. Ela estava com seu bezerro recém- nascido e não deu outra, fui pego de surpresa e ela quase me manda para o outro mundo´´.

O devoto não esquece que depois de dois meses do ataque do animal já estava em perfeita saúde para a lida com o gado. "São Francisco é o pai dos humildes, médico dos esquecidos, prefeito, governador e presidente dos pobres´´, avalia.

Agradecimento

Para ele, as pessoas que chegam no município de Canindé vêm agradecer a intercessão do santo pela graça alcançada. "É tudo que as autoridades não dão. São Francisco dá, através da fé, e fica tudo resolvido´´, destaca.

O romeiro frisa que só deixa de visitar a cidade da fé quando morrer. ´´Se não tiver mais forças para suportar o sol, o calor e a distância, venho de carro, o vale mesmo é a fé´´, revela.

Durante sua estada na cidade ele dorme nas praças ou em casas de pessoas que lhe oferecem um local de descanso, nos abrigos, ou onde der certo.

"A cidade de Canindé é muito hospitaleira, tem um povo simples e de bom coração. Muitas vezes as crianças chegam para tirar uma foto e depois os pais querem me agradecer com dinheiro e eu não aceito, porque minha missão é cumprir o que eu acordei com santo e nada mais´´.

No período que está pagando as promessas em Canindé, Lopes acompanha as procissões do painel de São Francisco, participa das novenas e da benção final na Praça da Basílica.

Projeto

O secretário de Esporte e Cultura de Canindé, Jander Silva, que prepara um documentário sobre as romarias na cidade, inseriu no projeto a participação de Lopes, conhecido agora no município como o homem do chapéu.

Diante da execução do documentário com a presença do fiel, há uma grande possibilidade do romeiro estar também na rota do turismo da fé, primeiro nome pensado para o documentário.

De uma coisa seu Chico Lopes tem pura certeza. "Se alguém ter um chapéu maior que o seu, tudo bem, mas ter a fé e a devoção a São Francisco das Chagas e agradecimentos pela cura alcançada jamais", finaliza.

Os amigos "Franciscos". Lopes (a direita) é conhecido agora como "o homem do chapéu". Ele fez a indumentária em pagamento de promessa FOTO: ANTONIO CARLOS

Antônio Carlos Alves
Colaborador