\'Ele está chorando de dor\', diz mãe de menino ferido em explosão
Explosão de veículo deixou outras cinco pessoas feridas em SP.
A mãe de um dos feridos após explosão de um carro no Morumbi, na Zona Sul de São Paulo, disse que proibiu o filho de ir à manifestação ocorrida na manhã desta segunda-feira (7). O filho dela, Bruno de Souza, de 11 anos, e outras cinco pessoas foram atingidos pela explosão após um veículo ser jogado em uma barricada de fogo. O grupo protestava pelo pagamento de auxílio-moradia.
“O menino está chorando de dor na barriga. Os médicos disseram que entrou estilhaço no pulmão. Acho que foi estilhaço do carro que explodiu”, disse, na porta do Hospital do Campo Limpo, a vendedora Tatiane de Souza.
A mãe contou que Bruno aproveitou que não tinha aula nesta segunda para participar da manifestação. "Criança de 11 anos vai mesmo, ainda com os amiguinhos dele, ele foi e deu no que deu”, afirmou Tatiane. Segundo ela, além de ter a perna atingida na explosão, os médicos diagnosticaram que há estilhaços no pulmão da criança.
Inicialmente ela tentou que o garoto fosse transferido para um centro médico particular, mas, na urgência de atendimento, disse ter autorizado a realização do procedimento no próprio hospital. Ele começou a ser operado às 15h20 na perna e para a retirada de estilhaços do baço e do pulmão. "Perna direita que foi atingida, acho que vai ter que fazer cirurgia plástica mais para frente.”
Três dos seis feridos já foram liberados. O auxiliar de escritório Luís Fernando de Souza Ferreira, de 29 anos, ajudou a trazer as vítimas para o hospital. Ele aguardava informações do estado de saúde do pintor Edson Pereira da Silva, de 36 anos, que teve fratura no braço e passava por cirurgia.
Além do menino e do pintor, também seguia internado, por volta das 15h, Arnaldo Ribeiro, de 33 anos. Segundo o auxiliar de escritório, Arnaldo sofreu um corte na perna e queimaduras no rosto e deveria receber alta ainda nesta tarde.
Um cinegrafista disse que, com o impacto, foi jogado para longe, mas não se feriu. De acordo com os bombeiros, o carro tinha um sistema de biocombustível e, com a explosão, parte do cilindro caiu a cerca de 300 metros. O 89º Distrito Policial realizou a perícia no local da explosão e a via acabou liberada após o procedimento. A Polícia Civil informou que vai analisar as imagens para saber quem ateou fogo ao carro e quem é o proprietário do veículo.
Testemunha da explosão
Impedido de ir ao trabalho por conta do protesto, que bloqueou a Rua Doutor Luiz Migliano, auxiliar de escritório Luís Fernando de Souza Ferreira permaneceu no local para acompanhar o ato. "Eu não pensava em participar, pensava em ajudar no que fosse preciso. Até então as outras manifestacões foram da mesma forma. Ninguém esperava que fosse acontecer isso."
Luís disse que assistiu de perto o acidente. E viu o momento em que o carro explodiu, ferindo os moradores que carregavam uma caçamba. "Eu estava próximo. O fogo da parte de baixo (da via) já estava acabando, eles precisavam colocar mais objetos. Aí viram que tinha um carro abandonado na rua e aproveitaram para colocar o carro. Mas, para eles, o carro estava pura carcaça, nao imaginavam que teria cilindro ali. Eles colocaram duas caçambas para impedir a entrada da polícia e, ao colocar a terceira caçamba, que ocorreu a explosão."
Segundo ele, o carro usado na barricada estava abandonado havia mais de um ano. Um morador de rua, às vezes, dormia dentro do veículo. Ainda de acordo com o auxiliar de escritório, a explosão assustou os moradores, mas a pauta e a forma de protesto não devem mudar. "A comunidade ficou muito apavorada, mas eles continuam querendo saber uma posição da Prefeitura porque já estão há dois meses sem o auxilio-aluguel."
A SPTrans informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que as seis linhas que passam pela rua foram desviadas, mas não soube dizer para quais vias. A Rua Doutor Luiz Migliano liga as Avenidas Giovanni Gronchi e Francisco Morato e a CET recomenda que o motorista evite a região e utilize, como alternativa, a Avenida Guilherme Dumont Villares.
Os manifestantes afimaram que só vão encerrar o ato após a presença de um representante da Secretaria da Habitação.
Protesto
Por volta das 7h, cerca de cem manifestantes colocaram fogo em madeira, pneus e caçambas para interromper o tráfego em dois ponto da via, que fica na região da favela Portal do Morumbi.
O carro foi tombado por manifestantes para que ele ficasse em uma das barricadas. Pouco depois, o veículo explodiu. Algumas pessoas, que estavam próximas à barreira, passaram mal e precisaram ser socorridas. O motorista conseguiu deixar o veículo.
Mais cedo, uma fumaça preta podia ser vista à distância e uma faixa foi colocada na rua e trazia a mensagem: “vandalismo é o que o governo faz com a gente. Cadê o auxílio-aluguel?”.
O protesto é realizado por três comunidades da região: Vila Praia, Olaria e Viela da Paz. Segundo moradores da Vila Praia, o auxílio-aluguel de 150 famílias está atrasado há dois meses e não passa por reajuste há dois anos. De acordo com a moradora Regina Célia Ribeiro, os moradores de Olaria também querem reajuste no auxílio-aluguel de R$ 300 a R$ 400.
A Secretaria de Habitação informou, por meio de nota, que trabalha "na captura de recursos para manter o atendimento habitacional das famílias da Vila Praia. Ao todo são 144 famílias que estão com o auxilio atrasado desde setembro de 2013".
Ainda de acordo com a secretaria, serão construídas 1.800 unidades habitacionais na região por meio das intervenções do Pirajussara 7, perímetro de ação integrada do Programa Renova SP. O auxílio-aluguel é pago pelo governo, normalmente, em caso de despejo ou incêndio em favelas.
Carcaça do carro que explodiu durante protesto no Morumbi (Foto: Letícia Macedo/ G1)
Lívia MachadoDo G1 São Paulo
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