Márcio Valério, de 33 anos, foi encontrado em São Gonçalo do Amarante.
Outras 20 pessoas estão presas suspeitas de integrar grupo de extermínio.
Foi preso na manhã desta quinta-feira (22), em São Gonçalo do Amarante, na Grande Natal, o último foragido da operação Hecatombe, deflagrada no dia 6 deste mês com o objetivo de desarticular um suposto grupo de extermínio apontado como responsável por mais de 20 homicídios no Rio Grande do Norte. Márcio Valério de Medeiros Dantas, de 33 anos, segundo a assessoria de imprensa da Polícia Federal, foi encontrado após a PF receber uma ligação anônima. Com isso, todos os 21 mandados de prisão temporária foram cumpridos. Entre os detidos estão 9 policiais militares.
Nesta manhã, inclusive, o suspeito deveria ter comparecido a um julgamento que acontece no Fórum Miguel Seabra Fagundes, no bairro de Lagoa Nova, zona Sul de Natal. No banco dos réus, no entanto, estão outros dois acusados de participar do crime que vitimou um caminhoneiro. Antônio Eufrásio da Luz Neto, de 33 anos, foi morto a tiros em fevereiro de 2010, na zona Norte da capital.
O júri teve início às 8h. O advogado Marcus Alânio Martins Vaz, que representa Márcio Valério, foi ao fórum e explicou que a ausência do réu não causa prejuízo para a defesa. “Não tem nenhum prejuízo, já que a lei lhe faculta a presença. É um direito do réu comparecer ou não, assim como o de ficar em silêncio ou não em um julgamento”, afirmou. O advogado também disse que não sabia onde o acusado estava. “Tudo que eu tenho a dizer é que ele é inocente. Tanto neste crime, em que está sendo julgado, como no caso da operação Hecatombe”, declarou.
Márcio Valério é segurança particular e já responde na Justiça por envolvimento em grupos de extermínio. Márcio e o irmão dele, que é soldado da PM, foram presos em junho de 2010 durante duas operações simultâneas realizadas pelas polícias Civil e Militar. Uma delas foi batizada de Laduna (que significa gol em dialeto zulu). A outra, chamada de Jabulani (nome oficial da bola utilizada na Copa do Mundo que se realizou naquele ano na África do Sul). Além dos irmãos, outras dez pessoas foram detidas por força de mandados de prisão, incluindo mais três policiais militares. Alguns dos acusados também foram indiciados por roubo e contrabando de armas e munições.
No último dia 15, a assessoria de imprensa da Polícia Federal chegou a divulgar uma foto de Márcio Valério. A PF afirma que a divulgação da imagem foi autorizada pela Justiça. Qualquer informação sobre o procurado pode ser repassada à Polícia Federal pelo número (84) 3204-5555.
Morte do caminhoneiro
Márcio Valério Medeiros Dantas responde na Justiça a um crime de homicídio e uma tentativa de assassinato. O homicídio é o do caminhoneiro Antônio Eufrásio da Luz Neto, morto a tiros em fevereiro de 2010 na zona Norte de Natal. A vítima trabalhava na empresa Grande Moinho Potiguar. Consta no processo que Antônio Eufrásio estava numa moto quando foi seguido por dois homens que estavam em outra motocicleta. Em determinado ponto da perseguição, o caminhoneiro foi alcançado e assassinado a tiros no loteamento Novo Horizonte, na zona Norte de Natal. O caminhoneiro morreu na hora.
Um comerciante, apontado como mandante do crime, e um homem que também é segurança particular foram denunciados. Os três foram soltos no dia 16 de dezembro daquele mesmo ano com relaxamento de prisão expedido pelo juiz Rosivaldo Toscano.
Quanto à tentativa de homicídio, a vítima foi Valdenilson Cabral Cardoso, que escapou de um atentado no dia 14 de maio de 2010 na cidade de São Paulo do Potengi, que fica a pouco mais de 70 quilômetros de Natal.
Aborto
Além de responder às acusações de homicídio e homicídio tentado, Márcio Valério também foi detido em flagrante por prática de aborto. Consta na Justiça que ele foi preso dentro de um motel em 10 de junho de 2010, mesmo dia em que foi deflagrada a operação Jabulani. Na ocasião, segundo relatou a juíza Maria Nadja Bezerra Cavalcanti, a mulher que estava com Márcio admitiu ter tomado comprimidos para abortar. A companheira foi levada para curetagem no Hospital Belarmina Monte, em São Gonçalo do Amarante, e também responde pelo crime.
Hecatombe
A operação Hecatombe foi deflagrada pela Polícia Federal no dia 6 deste mês. O nome é uma referência ao sacrifício coletivo de muitas vítimas. Naquele dia, 17 pessoas foram presas. Entre elas, sete policiais militares. No dia seguinte, uma pessoa se apresentou e também ficou detida.
No dia 13, o soldado da PM Rosivaldo Azevedo Maciel Fernandes, que há três anos foi reformado por apresentar problemas psicológicos, também se entregou à PF. Ele nega as acusações. No mesmo dia, um ex-PM suspeito de também participar do suposto grupo de extermínio foi preso na zona Norte de Natal.
Ao todo, ainda foram apreendidas 29 armas, entre revólveres, pistolas, espingardas e um fuzil. Além disso, mais de 11 mil munições também foram encontradas.
A operação foi realizada nos municipios de Natal, São Gonçalo do Amarante, Parnamirim e Cerro Corá. Ao todo, participaram da ação 215 policiais federais, sendo que 30 deles são do Comando de Operações Táticas Especializado em Operações de Alto Risco, de Brasília.
De acordo com o delegado Alexandre Ramagem, da Divisão de Direitos Humanos da PF, uma delegada de Polícia Civil, um promotor de Justiça e um agente da Polícia Federal estariam marcados para morrer.
Alguns dos investigados possuem antecedentes por homicídio. Um dos suspeitos já foi preso em posse de diversas armas de fogo, supostamente utilizadas nos assassinatos.
Todos os presos devem responder por crimes de homicídio qualificado praticado por grupos de extermínio e constituição de grupo de extermínio. As penas máximas dos crimes cometidos pelos principais integrantes do grupo podem chegar a 395 anos de prisão.
A operação contou com o apoio da Coordenação de Inteligência da Secretaria de Estado da Segurança e da Defesa Social do RN.
Márcio Valério de Medeiros, 33 anos, foi preso em São Gonçalo do Amarante (Foto: Divulgação/PF)
Anderson BarbosaDo G1 RN
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