Vazante da Lagoa de Iguatu favorece o cultivo de feijão

CENTRO-SUL

Iguatu. O verde que se espalha em centenas de hectares de cultivo irrigado de feijão-de-corda nas várzeas de lagoas e do Rio Jaguaribe, neste município, modifica a paisagem local. Nem parece que a plantação está no semiárido cearense depois de dois anos seguidos de estiagem. A produção gera emprego e renda no campo para cerca de 200 famílias da região.

Nas áreas de produção, os agricultores estão contentes e a expectativa é de uma boa safra. No entorno da Lagoa de Iguatu, na região Centro-Sul do Estado, são cultivados aproximadamente 20 hectares de feijão. A lavoura é irrigada a partir da água que se acumula no reservatório natural, um dos maiores do Interior. Os produtores rurais usam três motores elétricos e cerca de 600 metros de tubulação para irrigar toda a lavoura. A área total de cultivo é de 100 hectares, mas neste ano, por causa da seca, o nível da lagoa está baixo e só permitiu o plantio de 20% das terras férteis e adequadas para a produção de feijão.

Aguado

"Foi graças às chuvas de maio que o nível da lagoa subiu 40 centímetros", disse o produtor, aposentado, Juca Chaves. Sem as precipitações, quase fora de época, não seria possível manter a vazante.

Para o cultivo no entorno da Lagoa de Iguatu a média de produtividade é de 2,5 mil quilos por hectare. "O plantio está bonito, bem aguado", observa José Wilton Chaves. A lavoura está em fase de desenvolvimento e é administrada por sete, das 150 famílias que vivem da atividade agrícola.

Além da produção própria, o trabalho é feito na sistemática de arrendamento. Raimundo Nogueira Neto e Wilton Chaves contrataram mais cinco produtores rurais que trabalham como meeiro, isto é, a safra fica sendo dividida ao meio.

Raimundo Neto está otimista com a perspectiva de colheita até o fim de setembro. "O feijão tem tudo para dar uma boa safra e tivemos sorte com as chuvas que caíram no início do plantio, no mês passado", disse. O uso de irrigação por aspersores para a irrigação e de inseticidas adequados assegura à lavoura alcança bom desenvolvimento. Apesar de estarem otimistas com o andamento do cultivo, os produtores da região reclamam do elevado custo de produção e da queda do preço. A saca de 60 quilos de feijão-de-corda atualmente é vendida por R$ 120, mas há quatro meses chegou a R$ 340,00, no mercado regional.

"A gente espera que quando colher, no início de outubro, o preço melhore um pouco, suba para cento e sessenta reais", disse Wilton Chaves. "Do jeito que está a renda será muito baixa".

Consórcio

Em outra unidade produtiva de Iguatu, no sítio Cardoso Um, os agricultores aproveitam ainda mais a área, plantando feijão de corda consorciado com o milho, nas várzeas do Rio Jaguaribe. A lavoura também obtém um bom desenvolvimento.

O agrônomo, Paulo Maciel, observa que o cultivo consorciado de milho e feijão favorece o crescimento das duas lavouras, de grão e leguminosa. "Um ajuda o outro, o milho aporta o nitrogênio e o carbono que o feijão precisa", explicou. "A produção consorciada enriquece o solo e está em sintonia".

"Aqui tem água, terra boa e irrigação", disse o produtor rural, Francisco Uchoa. "A gente tem a faca e o queijo". O agricultor, Francisco Sobrinho, plantou no início de junho e em menos de dois meses, a roça já tem vagens em ponto de colheita. "Tendo coragem para trabalhar, a produção está garantida mesmo em um ano de seca", disse. "Tudo isso por causa da irrigação".

Os produtores reclamam da dificuldade de mão-de-obra no campo. "Poucas pessoas querem trabalhar e isso dificulta a produção no campo", disse o agricultor, José Oliveira. "A gente procura um produtor na ribeira do (Rio) Jaguaribe, aqui em Iguatu, e não encontra".

Neste ano, nas várzeas do Açude Orós, as terras dividem espaço com o cultivo irrigado de feijão-de-corda e arroz. A partir de setembro começa a colheita dos grãos nas áreas de produção e até o fim do ano, o trabalho dos agricultores é intenso e diário. Os produtores de feijão ampliaram as áreas de cultivo impulsionados pelo preço do produto, que estava em alta, e também pelas chuvas que caíram em maio e junho passados. A justificativa para a redução do preço é simples e antiga: a lei da oferta e da procura.

Muitos agricultores aproveitaram as chuvas de maio e junho e fizeram o plantio de feijão. A seca que castiga o Ceará deu uma trégua nestes dois meses. Resultado: houve um aumento na oferta do grão, nas cidades do Interior (feiras livres e mercadinhos). O preço do quilo do produto para o consumidor caiu de R$ 8,00 para R$ 4,00. Uma redução de 50% que beneficiou os moradores do sertão, mas trouxe dissabores para produtores.

Mais informações

Secretaria de Agricultura de Iguatu
Centro
Telefone: (88) 3581. 3566. 7910
Escritório da Ematerce
Telefone: (88) 3581. 9874

HONÓRIO BARBOSA
REPÓRTER

ENQUETE

Que expectativa tem com relação à lavoura?

"Estou satisfeito com o andamento da lavoura e com esperança de que o preço do feijão melhore quando a gente for colher e vender a partir de outubro. Com isso, é grande nossa expectativa"

Raimundo Nogueira Neto
Produtor rural

"O plantio está bonito e se desenvolve bem. Se não fosse as despesas elevadas e o preço que caiu, a gente ia ter uma excelente renda, mas não tenho o que reclamar, porque é fonte de renda"

José Wilton Chaves
Produtor rural 

Com o uso de aspersores, a lavoura tem sido produtiva para os agricultores FOTO: HONÓRIO BARBOSA