BANCOS: Inadimplência cai, mas juros sobem

A alta dos juros torna mais caro fazer compras parceladas e tomar empréstimos, o que desestimula o consumo

Brasília. A taxa média de juros com recursos livres - empréstimos concedidos pelos bancos de acordo com as condições de mercado - ficou em 26,5%, em junho, uma alta de 0,7 ponto percentual, em relação a maio, informou ontem, o Banco Central (BC). Com isso, reverteu a tendência de queda dos últimos meses e voltou ao mesmo patamar de fevereiro deste ano.

Essa tendência é também reflexo do aumento da taxa básica (Selic), que já subiu três vezes desde abril, de 7,25%, ao ano, para 8,5%, - a última alta foi neste mês. O BC está elevando os juros para controlar a inflação.

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No segmento de pessoas físicas, a taxa média ficou em 34,9%, aumento de 0,7 ponto percentual. Já no de pessoas jurídicas, a alta foi de 0,8 p. p, chegando a 19,3%. Também houve avanço na taxa média de juros com recursos direcionados, que incluem os financiamentos concedidos pelo BNDES, o crédito habitacional e o rural. Ela chegou a 7,1%, com alta foi de 0,2 p.p.

Nessa categoria, o aumento veio das linhas para pessoas jurídicas, cuja taxa média chegou a 7,4%, avanço de 0,4 p.p. Os juros para pessoas físicas permaneceram estáveis em 6,7%. Com tais variações, a taxa média de juros total praticada no País chegou a 18,5% em junho, alta de 0,4 p. p. frente a maio.

Retração

Apesar da alta dos juros, a inadimplência média caiu. O recuo foi de 0,3 p.p, passando de 5,5% para 5,2%, o menor patamar desde dezembro de 2011. Ela estava estacionada há três meses em 5,5%.

O calote caiu mais entre consumidores: de 7,5% para 7,2% entre maio e junho. Entre as empresas, a inadimplência recuou de 3,7% para 3,5% das operações de crédito.

Segundo Túlio Maciel, chefe do Departamento Econômico do BC, o alongamento dos prazos médios dos empréstimos contribuiu para a queda no indicador. Houve ainda uma mudança na postura dos bancos, que passaram a exigir mais garantias dos tomadores de empréstimos, reduzindo o risco de calote.

Conservadorismo

"Os bancos adotaram uma posição mais seletiva na concessão. Tivemos períodos que a parcela inicial de pagamento era baixíssima. A pessoa conseguia empréstimo sem aportar nenhum recurso. Essa parcela exigida pelo banco aumentou. Antes, se ela (cliente) se tornasse inadimplente, perdia pouco. Agora não. Isso ajuda a segurar a inadimplência", afirmou o economista Túlio Maciel.

De acordo com ele, a tendência é que a taxa continue recuando nos próximos meses. "O que a gente observa como sinalização são os atrasos nos pagamentos de 15 a 90 dias. E esses atrasos também têm recuado", disse.