RJ: com rua de Cabral sem luz, PM joga bombas para dispersar protesto
Cerca de 250 pessoas ainda estavam em frente à casa do governador do Rio quando a polícia agiu; seis foram detidos
A manifestação pacífica que ocorria em frente à casa do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), nesta quinta-feira, foi dispersada com violência pela Polícia Militar, que jogou bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo para afastar os manifestantes do local. As luzes da esquina da avenida Delfim Moreira com a rua Aristides Espíndola, onde fica a residência de Cabral, foram apagadas, e a orla do Leblon, escura, virou praça de guerra. Cerca de 250 pessoas ainda estavam no local quando a polícia agiu. Na correria, manifestantes foram detidos pelo Batalhão de Choque na areia do Leblon, na altura do posto 10, por volta das 22h40. Três desse grupo foram trazidos para a 14º DP (Leblon). Outros três foram detidos ainda no calor da dispersão, totalizando seis detidos.
Os manifestantes, encurralados pela PM, correram para a areia em busca de pedras na encosta do início da avenida Niemeyer e arrancaram algumas placas de trânsito. Muitos jornalistas também ficaram acuados. Alguns deles gritavam “uh, vamos invadir”, “uh, vamos invadir”.
O grupo fugiu do local e seguiu para a avenida Ataulfo de Paiva, coração do Leblon, em frente à tradicional Pizzaria Guanabara. A via foi fechada ao trânsito. No caminho, caixotes de água que estavam na avenida, sendo descarregados, foram incendiados pelos manifestantes, mas os bombeiros controlaram as chamas.
A PM alegou que um manifestante atirou uma pedra, o que iniciou o confronto. A reportagem doTerra, no entanto, estava ao lado dos policiais quando começou a ação e não viu nenhuma pedra sendo lançada ou alguém sendo atingido.
Mais cedo, os manifestantes chegaram a lembrar que, até então, em nenhuma manifestação ocorrida na zona sul da capital houve confronto e que PMs não usaram gás de pimenta nem balas de borracha. "É muita hipocrisia, não joga bomba onde mora a burguesia", cantavam os manifestantes, que também queimaram um cartaz com a foto do governador e gritaram: "Ohh, ohhh, queima no inferno!"
A Polícia também estreou nesta quinta-feira o caminhão com jato de água, usado para dispersar os poucos manifestantes que permaneceram perto da residência de Cabral, mesmo após a ação para dispersá-los.
O protesto também registrou um momento de tensão quando chegaram ao local dois estudantes do grupo que foi recebido pelo governador Sérgio Cabral na quinta -feira passada, no Palácio Guanabara, sede do governo do Estado. Os dois foram chamados de infiltrados, e um deles, identificado como Eduardo Oliveira, foi retirado do local por policiais militares do esquema montado pela PM, que interditou trecho da rua Aristides Espíndola, onde mora o governador.
Luiza Dreyer, de 22 anos, integrante do Ocupe a Delfim Moreira, grupo que inicialmente acampou durante dez dias no cruzamento, disse que os dois foram recebidos com indignação porque chegaram “como se nada tivesse acontecido”. A estudante explicou que os manifestantes que hoje estavam protestando também contra a retirada dos acampados na madrugada de terça-feira, segundo ela de forma violenta, não se sentem representados pelo grupo que foi recebido por Cabral.
“Foram reprimidos por todos, por que eles não representam a manifestação do acampamento e nem a que está aqui contra a repressão que foi feita para tirar todos os 15 acampados em dez barracas. Eles são os culpados por a gente ter saído. Depois do encontro que o secretário de Direitos Humanos (secretário do estado de Assistência Social e Direitos Humanos, Zaqueu Teixeira) veio falar com a gente, foi marcado um encontro para cinco dias depois. Eles aproveitaram a oportunidade e foram falar com o Sérgio Cabral em dois dias sem avisar para a gente, sem pauta, sem ser aberto à mídia, sem transmissão ao vivo, tudo que a gente não pregava desde o início. Eles aparecerem aqui é uma verdadeira cara de pau”, explicou.
O ator Pedro Casarin, 22 anos, que também fazia parte do grupo Ocupe a Delfim Moreira, disse que ele e a mãe receberam ameaças no domingo por permanecerem no local. “Falaram que eu estava correndo sério risco e estava me expondo muito. Tiraram foto minha. A sensação de insegurança era real”, disse, acrescentando que não tem a intenção de acampar outra vez no cruzamento. Pedro também disse que o grupo recebido pelo governador não tinha relação com os manifestantes que iniciaram o acampamento. “Aquele grupo não representa o movimento”, informou.
Cerca de 500 manifestantes protestaram na noite desta quinta-feira em frente ao prédio onde reside o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), no bairro do Leblon.
André NaddeoDireto do Rio de Janeiro
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