Por Redação g1 RR — Boa Vista - 29/03/2025
Médica Mayra Suzanne Garcia Valladão divulga nas redes sociais trabalho ginecológico e com saúde íntima da mulher — Foto: Reprodução/Facebook
Polícia Civil apura se Mayra Suzanne Garcia Valladão foi negligente ou se houve imperícia ou imprudência no procedimento feito na defensora pública Geana Aline de Souza, de 39 anos. Geana morreu sete dias após consulta com Mayra.
A médica Mayra Suzanne Garcia Valladão é investigada pela Polícia Civil por homicídio culposo após a morte da defensora pública Geana Aline de Souza, de 39 anos, em Boa Vista. A Polícia Civil apura se Mayra foi negligente ou se houve imperícia ou imprudência no procedimento feito na vítima.
Geana passou pelo procedimento de tentativa de para inserir o DIU no dia 18 de março com a médica Mayra, mas não chegou a colocar o dispositivo. Não há informação sobre o motivo de o procedimento ter sido interrompido. Depois de ser liberada, sentiu febre e teve dores em casa. Ela morreu por infecção generalizada sete dias após a consulta com a médica.
O g1 solicitou posicionamento de Mayra e aguarda retorno.
Na tarde dessa sexta-feira (28), a Polícia Civil fez uma inspeção no consultório da médica com o objetivo de verificar as condições de biossegurança dos equipamentos utilizados no procedimento em Geana. A ação ocorreu com o apoio da Vigilância Sanitária Estadual e Municipal. O caso é investigado no 1º Distrito Policial. Saiba quem era a defensora e como ela atuava.
"Se apura como principal linha de investigação a prática do crime de homicídio culposo por possível negligência imperícia ou prudência da médica que fez o procedimento de tentativa de inserção de DIU na paciente no dia 18 de março de 2025. Para fins de apurar a questão de possível imprudência no manuseio de equipamentos técnicos no procedimento foi solicitada a vigilância sanitária do estado de Roraima e a vigilância sanitária do município de Boa Vista, que realizasse uma inspeção técnica no consultório da doutora", explicou a delegada Jéssica Muniz, responsável pela investigação.
A defensora teve uma infecção grave no colo do útero, informou a família. Essa infecção se espalhou pelo corpo e evoluiu para uma infecção generalizada, que levou à falência de órgãos, como os rins e o fígado. Geana chegou a ser atendida num hospital particular em Boa Vista, mas deu entrada em estado gravíssimo e não resistiu.
Geana Aline de Souza, de 39 anos, era titular da vara de execução penal da Defensoria Pública de Roraima (DPE) — Foto: DPE-RR/Divulgação
O Ministério Público de Roraima (MPRR) também abriu um procedimento para apurar a causa da morte. O Conselho Regional de Medicina (CRM-RR) abriu sindicância.
No dia da morte de Geana, Mayra divulgou uma nota no Instagram onde classificou o ocorrido como uma "fatalidade". Disse ainda que a morte não teve relação com os atendimento médico e afirmou que "prestou toda a assistência necessária, conforme será devidamente comprovado no momento oportuno". (Leia a nota na integra ao final). Depois, ela apagou a nota do perfil.
Mayra afirma ser pós graduada em ginecologia e obstetrícia, mas, não há nenhuma especialidade registrada no cadastro dela disponível no site do CRM-RR. Além disso, não há informação se ela possui Registro de Qualificação de Especialista (RQE) em ginecologia. O g1 procurou a médica sobre o assunto e aguarda retorno.
👉 Entenda: O RQE é obrigatório para médicos que desejam se apresentar oficialmente como especialistas em determinada área e precisam ter concluído residência ou ter passado em prova específica da Sociedade Médica da área na qual deseja atuar.
Quem era Geana Aline de Souza?
Geana Aline de Souza tinha 39 anos. Ela era titular da vara de execução penal da Defensoria Pública de Roraima (DPE). Natural de Belém, capital do Pará, era formada em direito pela Universidade Federal de Roraima (UFRR), onde ingressou no ano de 2008 e se formou em 2013. Em seguida, trabalhou como servidora do Tribunal de Justiça de Roraima, onde ficou até ser convocada para DPE.
Nos primeiros cinco anos como defensora, foi titular da comarca de São Luiz, município ao Sul de Roraima. Desde 2022, trabalhava na garantia de direitos fundamentais para condenados cumprindo pena. Também era presidente da Associação das Defensoras e Defensores Públicos de Roraima (ADPER).
À frente da associação, Geana atuava na valorização e fortalecimento da função de defensor público. Além disso, ela também foi diretora da Associação Nacional das Defensoras e Defensores Públicos (ANADEP), onde contribuiu para o desenvolvimento e a defesa institucional da categoria.
Ela deixou um marido, o empresário Cláudio Rodrigues, de 40 anos, com quem era casada havia 8 anos. A defensora não deixou filhos, mas cuidava "com amor" dos dois enteados, filhos de Cláudio. "Meus filhos quando conheceram ela eram pequenos e ela me ajudou muito", disse o empresário.
A morte de Geana também foi lamentada pela DPE-RR. O órgão destacou o comprometimento da defensora com com a justiça e a defesa dos direitos dos mais vulneráveis.
"Roraima perde uma defensora incansável. Seu legado e exemplo permanecerão vivos em nossa memória", lamentou, por meio de nota.
Nota divulgada pela médica Mayra no dia da morte de Geana
"MAYRA SUZANE, médica inscrita no CRM/RR 1921, pós graduada em ginecologia e obstetrícia, por sua advogada, vem reafirmar seu compromisso com a verdade e cuidados médicos. E ao contrário do que está sendo veiculado, esclarece que a fatalidade ocorrida com a paciente Geana Aline não tem relação com os atendimentos médicos realizados pela profissional, pois prestou toda a assistência necessária, conforme será devidamente comprovado no momento oportuno.
Neste momento de dor, a médica lamenta profundamente pelo falecimento da paciente e se solidariza com familiares e amigos de Geana Aline."
https://g1.globo.com/rr/roraima/noticia/2025/03/29/medica-e-investigada-por-homicidio-culposo-apos-morte-de-defensora-que-tentou-colocar-diu.ghtml