Zagueiro Marquinhos em entrevista coletiva na Seleção — Foto: Reprodução
Por Cahê Mota — Brasília 23/03/2025
Seleção Brasileira treina completa em preparação para enfrentar a Argentina
Capitão da Seleção, o zagueiro Marquinhos admite que a Argentina chega para o clássico dessa terça-feira em melhor momento do que o Brasil. A diferença está não apenas nos sete pontos que separam as rivais na classificação das Eliminatórias, mas também na estabilidade dos trabalhos de cada um.
Enquanto Lionel Scaloni está em seu segundo ciclo de Copa com a seleção argentina, Dorival Júnior completou recentemente um ano à frente da brasileira. Ainda assim, Marquinhos prevê um duelo equilibrado nesta terça-feira, no Monumental de Núñez:
– Argentina x Brasil é sempre um jogo à parte, um clássico à parte, tem muita história envolvida, muitos confrontos. Todos os Brasil x Argentina foram assim, não tem um que foi diferente disso, um jogo difícil, aguerrido, de contatos, duelos, em que as duas equipes lutam e se matam a cada bola. Acredito que esse jogo de terça não vai ser diferente. São duas equipes que vivem momen-tos diferentes: a Argentina sendo campeã do mundo, com mais estabilidade no trabalho, a gente vindo com mudanças, mas cada vez mais se entendendo no estilo de jogo, tentando crescer a cada partida, a cada oportunidade de estar aqui. Independente do momento que as seleções vi-vam, vai ser sempre um jogo bom – disse o zagueiro, que ainda prosseguiu:
– Nós, jogadores que queremos estar na Seleção, queremos jogar esses jogos. Motivação é fácil para todos que estamos aqui em um jogo como esse. É se preparar da melhor forma para buscar o resultado positivo, crescer, fazer um bom jogo e ganhar confiança num momento importante como esse.
O Brasil tenta acabar com um jejum quatro partidas sem vencer a Argentina. Jogando na casa do rival, o tabu é bem maior: 16 anos. A última vitória canarinho no país vizinho foi em 2009, sob o comando de Dunga, pelas Eliminatórias
– É sempre um objetivo nosso, a gente nunca vai se acostumar a não ganhar da Argentina. Creio que a gente quer sempre. Dessa vez não vai ser diferente. Estamos nos preparando da melhor forma. Agora chegou a nossa hora de ganhar, já faz um tempo que a gente não ganha. Não vai ser fácil, não é nada dado em campo. Vamos ter que lutar em campo, vai ter que estar no nosso melhor dia tecnicamente, fisicamente, mentalmente também. É essa preparação que a gente tem que ter. São momentos diferentes das duas seleções, mas para a gente nunca vai ser um jogo qualquer. Brasil x Argentina nunca vai ser um jogo amistoso, apenas um jogo de Eliminatórias. Vai ser sempre uma final de campeonato, um clássico grande para a gente. Essa é a mentalidade, a motivação, a energia, e tenho certeza que do outro lado não vai ser diferente. Temos que estar preparados para fazer um grande jogo e, se Deus quiser, trazer essa vitória – comentou o zagueiro.
O zagueiro também alertou para questões mentais e disciplinares. Marquinhos acredita que a catimba argentina pode aparecer mais uma vez nesta partida:
– Esse também é um lado importante que temos que levar para esse jogo. É um jogo que, com certeza, eles tentam nos desestabilizar na parte emocional, do contato físico. A gente conhece o estilo de jogo deles, sabe como é. Os juízes estão muito rapidamente nos dando cartão por pouca coisa. Contra a Colômbia, eles tiveram uma sucessão de faltas e não tomaram amarelo, e na nossa segunda já tomamos amarelo. No jogo da Argentina, tiveram contatos, coisas piores que as nossas e não houve amarelo. São dois pesos e duas medidas, sabemos como são as Eliminatórias, essas competições. O nosso forte é jogar bola, a gente vai lutar, fazer o nosso melhor, a cada bola como se fosse a última... Mas temos que explorar nossos pontos fortes e não deixar que aconteçam as circunstâncias que eles querem para nos desestabilizar, que o juiz esteja talvez com dificuldades para um lado. A gente tem que estar concentrado no nosso trabalho porque isso influencia, não podemos tirar nosso foco de jogar futebol.
A Argentina lidera as Eliminatórias com 28 pontos e vem de vitória, fora de casa, sobre o Uruguai. Já o Brasil, que ganhou da Colômbia na última quinta-feira, está no terceiro lugar, com 21 pontos.
Confira abaixo outros trechos da entrevista de Marquinhos:
Desfalques
– É um desafio. Temos que trabalhar com as cartas que temos na manga. Perdemos alguns jogadores nesse último jogo por suspensão e lesão. Mas, no jogo passado, todos que entraram e tiveram oportunidade mostraram o real valor dessa seleção, entraram bem, conseguiram agregar muito trazendo um algo a mais. Oportunidades surgem assim, aconteceu comigo e com outros. A gente incentiva, deixa essa galera tranquila para que eles aproveitem a oportunidade da melhor forma. Para eles é uma oportunidade, pra seleção é um momento de mudança, com jogadores novos. Se pegar a rodagem dos jogadores, tem muitos novos vindo. É uma oportunidade de ouro para eles. Mas estamos bem tranquilos, os jogadores que estão aqui é porque merecem. Por mais que sejam jovens, talvez não tenham vindo muito para a seleção, mas são experientes, tem rodagem em clube, sabem como é o jogo sul-americano. A gente tenta passar tranquilidade.
Clima de Libertadores
– Acho que é, pela história, nunca foi diferente. Todos os jogos contra a Argentina, principalmente lá, tem essa energia de Libertadores. Já faz um tempinho (que não jogo a Libertadores). Todas as vezes que a gente enfrentou essa seleção foi essa energia, um ambiente bom de se jogar, mesmo que não seja a nosso favor é gostoso jogar com essa energia. Acho que vai ser esse ambiente de Libertadores que muito conhecem. Eu conheço pela Seleção e um pouco pelo clube, já faz um tempo. Não tem nada novo. Vai ser um ambiente pesado, hostil, estamos preparados para isso. Tem que estar tranquilo para fazer um grande jogo.
Ser capitão
– A diferença maior é levar a braçadeira. Dentro de um time, no clube ou aqui na seleção, existem lideranças até sem a braçadeira. São poucas coisas que mudam. Vou sempre tentar entregar o melhor para meu grupo, falando com os companheiros, tentando motivar, passar uma palavra... O que muda quando é capitão é tirar o cara ou coroa, falar um pouquinho mais ali no vestiário, na roda, mas a gente sempre está ativo. Tem lideranças que não usam a braçadeira, mas são fortes, a gente vê em campo jogadores se impondo, sendo importantes. Existe liderança defensiva, ofen-siva, de talento. Existem tantas lideranças dentro de um grupo que fazem essa coesão ser forte. Usar a braçadeira ou não é um detalhe de cara ou coroa.
Confiança
– A gente sabe que na seleção é importante essa questão de resultados, às vezes não temos tempo para trabalhar, estar juntos. Fazia quatro meses que a gente não treinava, não se encontrava. A gente teve apenas dois ou três treinos para fazer a preparação do jogo e sabíamos como seria importante pelo momento em que a gente vinha, pelos resultados anteriores, a gente vinha de dois empates. A gente via nossa colocação na tabela e sabia como era importante a vitória. Foi mais essa tirada de peso de subir na tabela, conseguir uma vitória após dois empates. Por mais que às vezes tenham coisas boas em empates, coisas para melhorar também existiam. Essa vitória trouxe essa tranquilidade de tirar o peso dos dois empates e subir um pouco na tabela. Na seleção a gente nunca vai estar satisfeito. No clube isso também não existe. Futebol é dinâmico, rápido, você sempre tem que trabalhar para melhorar, aqui na seleção não é diferente. Essa busca pela evolução é insaciável, estamos nesse momento agora. Se pegar o começo do trabalho do Dorival, estamos numa crescente, melhorando, mas como jogadores e grupo precisamos melhorar muito. Estamos buscando essa evolução constante, independente dos resultados. Ganhamos esse último jogo, mas estamos cientes que podemos melhorar bastante.
Meio de campo argentino
– Sabemos que essa é uma das forças que eles têm. É tudo uma questão de estratégia a ser trabalhada. O professor analisou bem esse time da Argentina, vai colocar as estratégias em prática para a gente nos treinamentos, e vamos executar no jogo. Não posso falar o que já sei, eles também não vão dizer quem vai jogar. São estratégias, vamos ter a nossa, eles vão ter a deles. Co-mo numa luta de boxe, eles vão com as forças deles, nós vamos com as nossas. Vai ser uma luta, uma guerra, a gente vai tentar se sobressair com a nossa estratégia para sair vencedor. Esse é um ponto forte deles, temos que tomar cuidado. Fisicamente eles são fortes, o perde e pressiona quando eles perdem a bola é forte também. Temos que evitar erros que cometemos no jogo con-tra a Colômbia, algumas perdas de bola, detalhes que fazem diferença num jogo assim
Evolução do Brasil
– Em outros momentos aquela bola bateria na trave e sairia. Creio que, com trabalho, honestida-de, fazendo mais do que o adversário, tendo posse de bola... A Colômbia teve chances, mas o Brasil teve mais. Foram 14 finalizações, sete ou oito no gol. A gente vê evolução. Na Copa América tivemos menos chances. As pessoas falam que o Brasil está devendo, abaixo do que pode fazer, mas a gente vê evolução, vemos coisas boas que estamos fazendo. Os números mostram a posse de bola, chances que a gente teve, perigo de gol... São coisas que eles trazem números dentro de um jogo que mostram que aquela bola do Vini ter batido e entrado não é à toa, não é uma coincidência. Esse gol, essa virada de chave, mostra essa evolução, essa confiança, as cer-tezas que a gente tem, as boas e as ruins. Saber o que tem que melhorar é um fator importante, assim como saber as coisas boas que você tem. A gente está se conhecendo, Dorival vem conhe-cendo cada vez melhor as peças que tem na mão. As mudanças mostram isso, saber as peças que você tem e fazer as mudanças, mostra que ele vem entendendo cada vez mais os jogadores. É tudo uma acumulação de coisas que vem crescendo, evoluindo, que deu certo naquele chute do Vini.
Raphinha
– Raphinha é fenômeno. Como jogador, vocês estão vendo o potencial que ele tem, tudo o que pode fazer, já víamos isso na seleção internamente. Talvez as pessoas de fora não viam, mas a gente via o quanto ele era importante para a gente, o esforço que ele faz, essa mentalidade e liderança que ele tem. Existem lideranças em um grupo que talvez as pessoas não veem. Hoje as pessoas conseguem enxergar essa liderança do Raphinha, mas a gente via desde lá atrás. Recém-chegado na seleção ele já se mostrava uma liderança física, defensiva, no ataque também... sempre foi um cara que chamou a responsabilidade em campo, no vestiário, sempre nas conversas, nas reuniões. Sempre foi um jogador importante para nós, e vem mostrando isso para todo mundo. É um grande amigo também. Falar como jogador eu nem preciso, ele é um dos que está brigando pela Bola de Ouro. Se continuar assim até o fim da temporada, será um dos grandes candidatos. Como pessoa é um excelente cara, um dia a dia maravilhoso, dentro de campo tem palavras oportunas, sempre no momento certo. Num gesto como esse, com o Vini, mostra como ele é um dos líderes, um dos capitães. Um grupo é feito assim, não só de pensar em você mesmo. Ali ele pensou no grupo, estava do outro lado do campo e teve que sair todo cansado, cheio de cãibra para falar com o Vini “pô, não vai tomar cartão amarelo, sai por aqui”. O Vini acabou caindo na real e saiu por ali. O Cunha também estava perto e falou. É com jogadores e momentos assim que é feito um grupo forte.
https://ge.globo.com/futebol/selecao-brasileira/noticia/2025/03/23/marquinhos-ve-brasil-e-argentina-em-momentos-diferentes-e-mira-fim-de-jejum-chegou-nossa-hora.ghtml