Oficial de justiça Marli Sobrinho, agredida por um homem no Dia Internacional da Mu-lher, era amiga de Kéia Oliveira e estava presente no velório, em Ibirité, na Grande BH.
Por Jussara Ramos, Maíra Cabral, g1 Minas/TV Globo — Belo Horizonte 11/03/2025 21h06
Boas lembranças, dor e revolta marcaram o velório da biomédica Kéia Oliveira, de 33 anos, vítima de feminicídio, em Ibirité, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.
Ela foi assassinada pelo ex-companheiro, Renê Teixeira, de 42 anos, nesta segunda-feira (10). Ele não aceitava o fim do relacionamento. O crime aconteceu na clínica onde Kéia trabalhava como esteticista, no momento em que ela atendia a uma cliente.
O corpo foi velado na tarde desta terça-feira (11), no velório municipal de Ibirité. De lá, o corpo segue para o enterro em Simonésia, cidade próxima a Manhuaçu, onde ela nasceu, na Zona da Mata mineira.
“Ela era uma pessoa querida por todos nós. Uma mulher batalhadora que veio do interior. A revolta da gente é pela crueldade que foi. Eu que estive lá perto, digo que foi muito pesado.”, disse a amiga Tita Silva.
Velório da biomédica Kéia Oliveira, vítima de feminicídio, em Ibirité, na Grande BH — Foto: TV Globo
A oficial de justiça Maria Sueli Sobrinho foi agredida com uma cabeçada no rosto durante o trabalho, em 8 de março, Dia Internacional da Mulher. Ela era amiga de Kéia Oliveira. — Foto: TV Globo
Natural de Manhuaçu, na Zona da Mata mineira, Kéia Oliveira tinha 33 anos, era formada em Biomedicina, e trabalhava como esteticista em Ibirité, na Região metropolitana de Belo Horizonte — Foto: Reprodução/TV Globo
Também estava presente no velório a oficial de justiça Maria Sueli Sobrinho, de 48 anos, que foi agredida durante o trabalho no último 8 de março, Dia Internacional da Mulher, também em Ibirité. Elas eram amigas e conversaram sobre a violência sofrida por Maria Sueli.
A oficial de justiça foi golpeada por um policial militar, de 49 anos, com uma cabeçada no rosto enquanto tentava entregar uma intimação a um homem, de 27 anos.
“Eu ainda estava digerindo a violência que sofri e acontece uma coisa dessa. A gente fica consternado. Ela foi uma das amigas que me prestou solidariedade e me mandou mensagem, e infelizmente acontece uma atrocidade desta. Depois do que aconteceu comigo e agora com ela, nossas amigas estão com medo”, disse a oficial de justiça.
Manifestação
Moradores de Ibirité, cidade onde Kéia foi assassinada e Marli foi agredida, estão organizando uma manifestação pelo fim da violência contra as mulheres, no domingo, (16), às 9h, em frente ao Fórum.
“Não podemos nos calar diante dessa realidade! Precisamos nos unir e exigir justiça, segurança e respeito às mulheres”, diz o comunicado.
Depoimentos
A massoterapeuta Fabíola Catalan era amiga de Kéia e lamentou a violência, dois dias depois do Dia Internacional da Mulher.
"Minhas lembranças com a Kéia são lindas. Eu a conheci com as qualidades lindas de uma mulher: meiga, doce, trabalhadora. Estava com 33 anos e no melhor momento da sua vida. A gente sente muito a partida. A nossa dor é a inconformidade. Pertinho do 8 de março, tiraram a sua vida em uma injustiça muito grande. Isso é uma coisa que não podemos esquecer.”, disse a massoterapeuta e amiga, Fabíola Catalan.
O comerciante João Batista Silva, morava em Ibirité e, assim como Kéia, era natural de Manhuaçu. Ele também pediu um 'basta' para a violência contra as mulheres.
“Como homem, fico envergonhado de ver um outro homem fazendo uma coisa dessa. Isso não pode acontecer mais, chega. Tem que colocar um basta nisso”, disse o amigo João Batista da Silva.
Cliente e amiga de Kéia, Geovana Lima disse que a biomédica enfrentava problemas para conseguir a separação do ex-companheiro, mas não não poderia imaginar que seria vítima de tamanha violência.
“A gente deixa aqui nossa indignação, nossa dor. [Estou] apavorada com o acontecido, sem acreditar. É tanta crueldade, ninguém merece isso, mas quando acontece perto da gente… dói ainda mais”, disse a amiga Geovana Lima.
Entenda o caso
Corpo de biomédica assassinada pelo ex é velado na Grande BH
Miquéias Nunes de Oliveira foi morta, na tarde de segunda-feira (10), em Ibirité, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. No momento do crime, a biomédica estava trabalhando.
Renê Teixeira foi até a clínica onde Kéia Oliveira trabalhava com a intenção de levá-la para a casa.
De acordo com o que ele disse aos policiais, a intenção era matar a biomédica, em casa, usando um revólver. Mas como ela se recusou, Teixeira forçou a porta da sala onde ela atendia uma paciente, tirou um canivete e fez o ataque.
Uma paciente da clínica de estética foi até a delegacia da Polícia Civil da cidade para pedir socorro.
Uma equipe se deslocou até o local e encontrou a vítima já sem vida. O autor do crime estava ensanguentado, deitado ao lado do corpo.
Enquanto aguardava atendimento médico, Renê Teixeira afirmou aos policiais que matou a biomédica antes de tentar suicídio. Ele contou que o casal estaria em processo de separação e que esteve na clínica para conversar.
A Polícia Militar foi acionada para fazer buscas no apartamento do casal. No imóvel, foram encontradas uma pistola de calibre 9 milímetros com numeração raspada e 35 munições.
Conforme apurado pela corporação, os dois ainda moravam na mesma casa, porém a vítima já estava decidida a se separar, e o ex-marido tentava reatar o relacionamento há cinco meses.
Teixeira tem passagem pela polícia por posse ilegal de arma.
Em nota, a Polícia Civil disse que o homem foi autuado pelos crimes de feminicídio e posse ilegal de arma de fogo de uso restrito, em razão da apreensão feita na residência.
https://g1.globo.com/mg/minas-gerais/noticia/2025/03/11/a-revolta-da-gente-e-pela-crueldade-diz-amiga-de-biomedica-vitima-de-feminicidio.ghtml