'Dia da guerra': PM morto no Pirambu foi 'decretado' pelo Comando Vermelho em vingança contra outro policial miliciano

Criminosos acompanharam a rotina da vítima e cravaram faca na nuca de subtenente para reivindicar o crime à 'Tropa do Açougueiro'

Escrito por Emanoela Campelo de Melo 17 de Janeiro de 2025 

A morte do subtenente Francisco Ricardo Silveira Neto, 51, assassinado no Pirambu com dezenas de disparos e com uma faca cravada na nuca foi minuciosamente planejada por criminosos a mando de um líder do Comando Vermelho (CV), aponta uma linha da investigação. Membros da facção já acompanhavam a rotina da vítima e sabiam que horas o PM sairia para o trabalho.

Conforme documentos da investigação que a reportagem do Diário do Nordeste teve acesso, o subtenente foi 'decretado' em vingança contra Igo Jefferson Silva de Sousa, o 'Igo Negão', um PM apontado como chefe de milícia na região do Pirambu.

Foi a partir da prisão de Ítalo Gabriel Barreto, o 'Micróbio', que a Polícia Civil passou a desvendar o crime, cometido com requintes de crueldade na madrugada da última quarta-feira (15). Ainda segundo depoimento obtido pela reportagem, "o policial militar Igo Negão teria realizado um ataque contra membros do Comando Vermelho, tendo sido ajudado pelo subtenente Ricardo".

Legenda: O subtenente estava a caminho do trabalho quando foi assassinado

Legenda: A moto da vítima não foi levada pelos criminosos - Foto: Reprodução

Legenda: Ítalo teve a prisão em flagrante convertida em prisão preventiva - Foto: Reprodução

CONFRONTO

Ítalo ficou em silêncio quando foi prestar depoimento na delegacia. Mas, ao ser abordado e preso, teria contado aos policiais militares o porquê da motivação do crime e como a vítima foi escolhida.

"Narrou Ítalo que no dia anterior, por volta de 14h, pegou a missão de "buscar" (roubar) um carro, que seria utilizado para matar um policial militar naquela mesma noite; Que desse modo, praticou o roubo na Avenida Leste Oeste e subtraiu um veículo HB 20. Que sobre a motivação do crime e a escolha propriamente dita da vítima (se era predefinida ou se foi um policial aleatório), Ítalo se reportava ao "Dia da Guerra"; Que o "Dia da Guerra" se refere a um confronto entre faccionados do Comando Vermelho e indivíduos, segundo a versão dele, vinculados ao policial Igo Jefferson Silva de Sousa, que seria um policial que comandava uma milícia no local"

Na versão do suspeito, o subtenente Francisco Ricardo retirou a tropa da área no 'Dia da Guerra', "ou seja, viabilizou que o policial (supostamente miliciano) Igo levasse o seu grupo para matar integrantes da facção Comando Vermelho".

Ítalo disse que a ordem para executar o PM "veio de cima, do chefe" e foi executada com a participação de, pelo menos, outros três parceiros, identificados como 'Luquinha', 'Curió' e 'P.A'. Segundo o preso, ele ficou com a função de "apenas conduzir o veículo utilizado na ação criminosa".

"Que Ítalo acrescentou que o grupo já tinha informação sobre o horário que o policial militar sairia para o trabalho, o que facilitou a ação; Que sobre o veículo utilizado no crime, Ítalo informou que este fora abandonado nas proximidades da "Lagoa do Urubu", no bairro Padre Andrade, o que justificou o deslocamento da equipe em busca do referido automóvel, que foi deixado naquele bairro em virtude de ser próximo da residência do indivíduo de alcunha "P.A.", cuja alcunha se refere às iniciais do bairro Padre Andrade".

Conforme trecho do depoimento de um PM que atendeu a ocorrência

A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) confirmou, nesta sexta-feira (17), que o veículo usado na ação criminosa foi apreendido. Conforme a pasta, o carro tem placa clonada e foi submetido à perícia. As autoridades seguem em busca de capturar os demais envolvidos no crime.

Legenda: O carro usado na ação criminosa foi apreendido

REQUINTES DE CRUELDADE

O subtenente estava a caminho do trabalho, por volta das 4h, quando foi abordado pelos criminosos. Ele residia no Pirambu e estava em uma motocicleta, que não foi levada pelos homicidas.

Foram disparadas dezenas de tiros, deixando a vítima sem chance de defesa e morta ainda em via pública. Quando policiais chegaram ao local para atender a ocorrência, ainda se depararam com uma faca cravada na nuca do subtenente.

Ítalo teria dito a um PM que a faca cravada "se deve ao modus operandi do que ele chamou de 'Tropa do Açougueiro', fazendo referência ao uso de instrumento pérfuro-cortante na prática de homicídios ou, pelo menos, para a deixar o recado sobre quem cometeu o ato".

A reportagem apurou que a ordem para o assassinato do subtenente pode ter partido de Carlos Mateus da Silva Alencar, conhecido como 'Skidum', chefe da facção carioca na região do Grande Pirambu, e que está foragido, se mantendo escondido no Complexo da Maré, no Rio de Janeiro, há pelo menos dois anos, enquanto segue na lista dos Mais Procurados da SSPDS. 

QUEM É IGO NEGÃO

O policial conhecido como 'Igo Negão' é acusado de integrar uma milícia, que teria cometido ho-micídios para vingar a morte de PMs e também praticar extorsões e outros crimes. Ele foi preso em fevereiro de 2024, dentro de um hospital, após ser baleado com outros quatro policiais militares.

Igo Jefferson foi um dos alvos de uma operação do Ministério Público do Ceará (MPCE). Dez policiais militares foram acusados pelo Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), em 2023, após investigações realizadas em parceria com a Coordenadoria de Inteligência (Coin), da SSPDS.

O PM ainda é suspeito de participar dos assassinatos de dois homens em retaliação ao assassinato do soldado Bruno Lopes Marques, no bairro Carlito Pamplona, em Fortaleza, no dia 12 de fevereiro de 2024. Bruno também seria integrante da organização criminosa formada por policiais militares, segundo as investigações policiais.

Conforme o Pedido de Prisão Preventiva do Gaeco contra Igo Jefferson, as autoridades receberam informações de que o PM "teria participado, juntamente com outros policiais do Batalhão ao qual pertencia o soldado assassinado, de duas execuções na madrugada do dia 15/02/2024, sendo uma no Bairro Carlito Pamplona e outra no Bairro Cristo Redentor".

Os homicídios ocorreram três dias depois do assassinato do soldado Bruno Marques, no Pirambu, em Fortaleza. Segundo o Ministério Público do Ceará, 'Igo Negão' atuaria em conjunto em 'grupo de extermínio e extorsões contra criminosos da área do Pirambu'". 

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