Lula se encontrará com enviado do clima dos EUA na COP27 nesta terça

Sharm el-Sheikh, sede da COP27, é conhecida como a Cancún do Oriente Médio

Por Ana Rosa Alves* — Sharm el-Sheikh

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva: incertezas na economia Sergio Lima/AFP

Reunião com Kerry será a portas fechadas; petista está hospedado no Egito em espaço oferecido pelo governo do presidente el-Sisi

O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, que desembarcou no Egito para a COP27 na madrugada desta terça-feira, se encontrará com o enviado americano do clima, John Kerry, no fim dia. O encontro, segundo informações apuradas pelo GLOBO, será a portas fechadas, na véspera de o petista começar sua agenda pública na conferência climática, onde é aguardado com expectativa.

O presidente eleito também terá outros encontros bilaterais, mas a agenda ainda não está confirmada — reuniões prováveis, contudo, são com representantes climáticos da Alemanha, da China e da Noruega. Lula também deve se encontrar com o presidente egípcio Abdel Fattah el-Sisi, que o convidou oficialmente para a conferência no balneário de Sharm el-Sheikh, às margens do Mar Vermelho, e cedeu hospedagem para o petista em uma residência oficial.

Kerry já havia se encontrado com a deputada federal eleita (Rede-SP) e ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, na semana passada, um dos nomes mais cotados para assumir o controle da pasta a partir de 1º de janeiro. Em uma entrevista ao Valor Econômico, Marina disse que a reunião foi uma iniciativa do enviado de Biden e que o americano sinalizou o interesse da Casa Branca em estabelecer e aprofundar parcerias com o Brasil em várias frentes.

Sharm el-Sheikh, sede da COP27, é conhecida como a Cancún do Oriente Médio

O enviado climático será o primeiro funcionário do alto escalão do governo americano a se encontrar oficialmente com o petista desde a vitória no segundo turno em 30 de setembro. Biden, contudo, telefonou para Lula para parabenizá-lo e ressaltar a" força das instituições democráticas" do Brasil. Uma visita a Washington também está sendo articulada, segundo o conselheiro de Segurança Nacional americano, Jake Sullivan.

Na comitiva do presidente eleito estão o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, e a futura primeira-dama, Rosângela da Silva, a Janja. Lula não irá ao pavilhão da COP nesta terça, mas é provável que sua mulher faça uma visita ao espaço.

Na quarta, Lula participará de um evento em que os governadores amazônicos lançarão uma iniciativa chamada de “Carta da Amazônia: uma agenda comum para a transição climática”. Ao seu lado, participarão presencialmente os governadores Gladson Cameli (AC), Mauro Mendes (MT), Helder Barbalho (PA), Wanderlei Barbosa (TO) e Marcos Rocha (RO).

O encontro será às 11h (7h em Brasília) no espaço que os governadores amazônicos têm na zona diplomática da COP — além deles, o governo federal tem seu próprio megaestande e a sociedade civil tem um espaço próprio, o Brazil Climate Action Hub. Também na quarta-feira, o presidente eleito fará um pronunciamento na Zona Azul da COP, nome dado ao espaço diplomático da conferência. Em seguida, ele dará uma entrevista coletiva.

Na quinta, Lula terá um encontro com representantes da sociedade civil brasileira no Brazil Climate Action Hub — iniciativa que está em sua terceira COP consecutiva. Foi lançada em 2019 após o governo Bolsonaro e o MMA, então sob o comando de Ricardo Salles, não pôr um pavilhão naquela COP. Desde então, tem sido um espaço de reflexão e crítica às políticas ambientais da gestão atual.

Depois, Lula terá um encontro com o Fórum Internacional dos Povos Indígenas e o Fórum dos Povos sobre Mudança Climática. Uma das promessas do presidente eleito é criar pela primeira vez um Ministério dos Povos Originários, e o nome da deputada eleita Sônia Guajajara (Psol-SP) para comandar a pasta teria sido o primeiro sobre o qual houve acordo no governo de transição.

Em um evento no espaço da sociedade civil na segunda, contudo, ela criticou a ausência dos povos indígenas e originários no governo de transição:

— A criação do Ministério dos Povos Originários vem sendo amplamente anunciada, isso vem sendo repercutido a cada dia na mídia. Mas nós, os maiores interessados, ainda não fomos convidados para compor a equipe de transição — disse ela. — É muito importante que de fato haja esse movimento de consulta para que a gente possa construir o que de fato será esse ministério.

*A repórter viajou a Sharm el-Sheikh, no Egito, a convite do Instituto Clima e Sociedade (iCS)

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