Grupo faz ato em Brasília após fala de Bolsonaro sobre meninas venezuelanas — Foto: Brenda Ortiz/g1
Assistentes sociais e conselheiros tutelares se reuniram na Praça dos Três Poderes, nesta quarta-feira (19). Em entrevista a podcast, Bolsonaro disse que 'pintou um clima' com jovens em São Sebastião.
Por Brenda Ortiz, g1 DF
Grupo faz ato em Brasília após fala de Bolsonaro sobre adolescentes venezuelanas
Um grupo de assistentes sociais e conselheiros tutelares do Distrito Federal se reuniu em uma manifestação, na manhã desta quarta-feira (19), na Praça dos Três Poderes, em Brasília. O ato ocorreu após a repercussão de uma fala do presidente Jair Bolsonaro (PL), em entrevista a um podcast, na última sexta-feira (14), sobre adolescentes venezuelanas.
À ocasião, ele disse que "pintou um clima" com as adolescentes e deu a entender que elas se prostituíam. Na terça (18), Bolsonaro negou, em um vídeo, que havia exploração sexual de adolescentes no local e afirmou que as jovens eram "trabalhadoras".
Segundo os organizadores, o ato desta quarta é em defesa de crianças e adolescentes. "Não toleramos que 'pinte um clima' entre um homem de 67 anos e meninas. Isso não é normal, isso não é aceitável e isso nos indigna!", diz o grupo.
Os participantes estenderam uma faixa com os dizeres: "Pintou um clima? Pintou um crime", em frente ao Palácio do Planalto. Eles ficaram no local entre 9h e 9h45.
Fala de Bolsonaro
‘Pintou um clima’: veja declarações de Bolsonaro sobre meninas venezuelanas
Veja a série de declarações de Bolsonaro sobre as meninas venezuelanas:
'Ganhar a vida'
A repercussão do caso começou no sábado (15), quando viralizou nas redes sociais uma entrevista de Bolsonaro a um podcast na sexta-feira (14).
Na entrevista, Bolsonaro relatou que estava de moto andando em uma região administrativa do Distrito Federal e encontrou meninas venezuelanas em uma casa. Ele disse que "pintou um clima" e, por isso, resolveu entrar:
"Eu estava em Brasília, na comunidade de São Sebastião, se eu não me engano, em um sábado de moto [...] parei a moto em uma esquina, tirei o capacete, e olhei umas menininhas... Três, quatro, bonitas, de 14, 15 anos, arrumadinhas, num sábado, em uma comunidade, e vi que eram meio parecidas. Pintou um clima, voltei. 'Posso entrar na sua casa?' Entrei. Tinha umas 15, 20 meninas, sábado de manhã, se arrumando, todas venezuelanas. E eu pergunto: meninas bonitinhas de 14, 15 anos, se arrumando no sábado para quê? Ganhar a vida", afirmou o presidente na ocasião.
Fala de Bolsonaro sobre meninas venezuelanas repercute nas redes sociais
'Fazer programa'
A declaração de Bolsonaro gerou repercussão negativa nas redes sociais e, em seguida, na campanha eleitoral.
Na esteira da entrevista dada ao podcast, viralizou uma outra fala do presidente, dessa vez em entrevista dada no dia 12 de setembro.
Naquela ocasião, ele contou a mesma história, e disse que as meninas se arrumavam para "fazer programa".
"Todas muito bem arrumadas. Tinham tomado banho. Estavam fazendo o cabelo. Venezuelanas. Estavam se arrumando para quê? Alguém tem ideia? Quer que eu fale? Vou falar. Para fazer programa. Acha que elas queriam fazer isso? Qual é a fonte de sobrevivência delas? Essa", repetiu.
Diante do impacto negativo, Bolsonaro buscou se justificar. Em uma live no domingo (16), antes de um debate na TV contra o ex-presidente Lula (PT), ele disse:
"Fiz uma live de dentro da casa das meninas que estavam se arrumando num sábado de manhã, em plena Covid. Não iriam para festinha. Iriam para onde? Deixei claro que a conclusão cabia a cada um que estivesse me vendo naquela live", justificou.
'Você poderia até prever isso'
Mais tarde, também no domingo, em entrevista no debate, Bolsonaro disse que as jovens venezuelanas estavam em uma situação em que até se poderia prever que elas iriam se prostituir, mas que nada ficou provado.
"Não ficou claro da minha parte isso lá. Elas estavam em uma situação que você poderia até prever isso. Mas nada taxativamente foi falado tocante a isso aí. Olha, logo depois, a ministra Damares esteve lá, conversou com as meninas. Não tinha nada de prostituição. Você poderia ter ilações sobre muita coisa, mas entre afirmação e ilação, há uma diferença muito grande", amenizou o presidente.
No vídeo divulgado nesta terça, ao lado da esposa, Michelle, Bolsonaro argumenta que a intenção dele era evitar "qualquer tipo de exploração" de vulneráveis.
"As palavras que eu disse refletiram uma preocupação da minha parte no sentido de evitar qualquer tipo de exploração de mulheres que estavam vulneráveis. A dúvida e a preocupação levantadas foram quase que imediatamente esclarecidas à época pela nossa ministra da Mulher, Damares Alves, que foi ao local e constatou que as mulheres citadas na live eram trabalhadoras", afirmou o presidente.
Em seguida, ele alegou que as palavras dele foram "por má-fé tiradas do contexto". Bolsonaro pediu desculpas, caso as declarações tenham ofendido alguém ou provocado "algum constrangimento às nossas irmãs venezuelanas".
"Se as minhas palavras que, por má-fé foram tiradas de contexto, de alguma forma foram mal-entendidas ou provocaram algum constrangimento às nossas irmãs venezuelanas, peço desculpas, já que meu compromisso sempre foi o de melhor acolher e atender a todos que fogem de ditaduras pelo mundo", continuou Bolsonaro.
https://g1.globo.com/df/distrito-federal/noticia/2022/10/19/grupo-faz-ato-em-brasilia-apos-fala-de-bolsonaro-sobre-adolescentes-venezuelanas.ghtml