Quem ganhou o Debate na Band?

Como foi o desempenho de cada candidato no debate?

Com a conclusão da rodada de entrevistas no Jornal Nacional e da realização do primeiro debate entre os presidenciáveis na Bandeirantes, o momento preliminar das eleições, ou “a primeira volta”, aquela de apresentação dos pilotos na ordem inicial de largada e de esquentar os motores, chega ao fim. A partir de agora, a corrida é pra valer e coube ao debate da Band dar a Bandeirada de largada.

Lula e Bolsonaro passearam na volta de apresentação, que inclui a entrevista no JN, mas não repetiram o mesmo desempenho na largada. Isso não é propriamente uma surpresa, pois os ocupantes dos cargos que estão em disputa e/ou os primeiros colocados nas pesquisas são geralmente os alvos preferenciais dos demais competidores em debates televisivos. Não é por outro motivo que estrategistas de campanha tendem a aconselhar os candidatos que estão nessas condições a não participarem desses momentos, salvo quando o prejuízo por não ir se tornar mais danoso do que a exposição da sabatina em rede nacional com a presença, também, de franco atiradores que nada tem a perder no campo da opinião pública. Essa parece ter sido a leitura dos comandos das campanhas nos dois casos: do atual presidente e do primeiro colocado nas pesquisas, que protagonizaram o primeiro debate eleitoral televisivo da história do Brasil com a presença de um presidente no exercício do mandato e de um ex-presidente candidato a retornar ao cargo.

O fato é que o que foi visto na noite de ontem foi um Bolsonaro agressivo e misógino e um Lula que não conseguiu encontrar a justa medida entre o discurso de memória do legado, a defesa sobre as acusações a ele e ao PT dirigidas, bem como a necessidade de denunciar os desmandos da atual gestão presidencial. Ambos procuraram jogar para os seus públicos, para aquela parcela do eleitorado que já simpatiza com as suas candidaturas e com isso consolidar esses votos. Porém, suas estratégias podem não ter atingido o principal objetivo de um candidato na participação em um debate: a conquista do voto dos indecisos. Por esse motivo tendem a não ampliar a intenção de voto com as suas performances no debate, de modo que a grande vitória para os dois líderes é não perderem pontos nas pesquisas vindouras com o evento.

Na outra ponta, ou melhor, na fila dos que partiram atrás, e que, portanto, são os que mais tem a ganhar com o debate, o Felipe D’Avila parece ter atuado como uma candidatura auxiliar a de Ciro Gomes, mas também aproveitou para cravar um discurso fincado no campo do liberalismo econômico, narrativa ainda hoje pouco explorada pelos competidores e que tem o seu eleitorado atualmente mais próximo do presidente Bolsonaro. Pode crescer alguma coisa com a exposição, modestamente, mas não empolgou o público. Já a candidata Soraya Thronicke, conseguiu sair da condição de mera figurante para ter momentos de destaque, principalmente no embate com Bolsonaro e no uso inteligente, do ponto de vista da comunicação de massa, de frases de efeito. Por esse motivo pode pontuar melhor nas próximas pesquisas.

Por fim, Ciro manteve a regularidade de bons desempenhos em sabatinas, foi propositivo, confrontou Lula e contra-atacou Bolsonaro de maneira muito firme quando foi por ele provocado. Porém, o bom desempenho do Ferreira Gomes pode não se reverter nos frutos eleitorais esperados em razão de uma outra questão: a boa desenvoltura da candidata Simone Tebet. Ciro, com seu estilo e suas ideias, já é amplamente conhecido do eleitorado brasileiro, está na sua 4º eleição presidencial, de modo que pouquíssima é a parcela do eleitorado que não vota nele por desconhecimento do candidato ou das ideias que defende. Esse não é o caso de Tebet, que, ao contrário, usou de maneira muito inteligente a entrevista no JN e o debate de ontem para se apresentar ao público em geral e para cravar um discurso feminista e anticorrupção que pode ser absorvido por uma parcela do eleitorado indeciso que, como frisado alhures, é a principal meta de um candidato que se destina a participar de um debate eleitoral televisivo.

De mais a mais é importante considerar que, dada a proximidade das eleições, é muito difícil para qualquer um dos competidores que partiram na fila de trás ultrapassarem os dois pilotos da frente. A polarização e a cristalização de intenção de votos que provoca como consequência, ainda sugere um embate entre Lula e Bolsonaro pela pole position na corrida presidencial, mas o desempenho de largada de novos competidores pode provocar uma disputa acirrada na composição final do pódio.

Aguardemos as novas rodadas de pesquisas.

*Isaac Luna é cientista político, advogado e professor universitário

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