DO RIO
DA AGÊNCIA BRASIL
Segurando cartazes a favor do aborto e contra o machismo, cerca de mil manifestantes, segundo organizadores e Polícia Militar, pregaram o combate à violência contra a mulher durante a Marcha das Vadias, realizada neste sábado, na Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro.
Em frente à igreja Nossa Senhora de Copacabana, houve um princípio de tumulto quando alguns manifestantes começaram a subir a escadaria da igreja. Segundo a PM, a confusão foi rapidamente contida e não houve pessoas feridas ou presas.
Mulheres e homens se concentraram no Posto 4 da orla a partir das 13h e rumaram às 15h30 até a Praça do Lido, no Posto 2. As integrantes do movimento, usando pouca roupa e maquiagem chamativa, cantavam slogans como "eu só quero é ser feliz, andar tranquilamente com a roupa que escolhi" ou ainda "a nossa luta é por respeito, mulher não é só bunda e peito".
A primeira Marcha das Vadias foi organizada em 2011 por estudantes da Universidade de Toronto após declaração de um policial, em palestra na cidade canadense, de que o fato de as mulheres se vestirem como "vadias", com saias curtas e decotes ousados, poderia estimular o estupro. Este ano o movimento ganhou caráter nacional no Brasil, ocorrendo simultaneamente em mais de 20 cidades brasileiras e, também, no exterior.
Uma das organizadoras da marcha no Rio, Jandira Queiroz, disse que o objetivo dos protestos é chamar a atenção nacional para "um fenômeno muito negativo na nossa sociedade, que é o tamanho da violência sexual no país". De acordo com relatório do Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro, pelo menos 15 mulheres foram estupradas por dia, no ano passado, em todo o estado.
"Já é tempo de a sociedade entender que, se o homem pode andar sem camisa, por que as mulheres são chamadas de vadias e menosprezadas ou diminuídas porque estão usando uma roupa mais fresca, em um país como o Brasil?", questiona Jandira.
A engenheira agrônoma Renata de Prá destacou que o movimento é essencial para que as mulheres ocupem o seu lugar na sociedade. "Ser livre é um direito", sustentou.
PÚBLICO MASCULINO
A manifestação contou com a participação intensiva dos homens. Para o estudante de biologia Anderson Almeida, a roupa que a mulher veste não pode justificar a violência sexual. "Da mesma forma que os homens têm vários direitos, as mulheres também têm", disse.
A opinião é compartilhada pelo médico Ricardo de Oliveira Blanco. "A mulher tem o direito de se vestir como quiser. Isso não dá direito a ninguém de abusar sexualmente ou mesmo violentar uma mulher. Cada um tem a liberdade de se portar e se vestir como quiser", afirmou.
Na avaliação do poeta e compositor Tony Melo, a liberdade de expressão deve ser apoiada sempre, por todos, do mesmo modo que o combate à violência contra a mulher. "Tudo que for livre, tudo que for saudável, tudo que for pela quebra de tabus, estou apoiando. Liberdade acima de qualquer coisa."