Mais um vez, os fiéis à Nossa Senhora Sant\'Anna, considera a avó de Jesus pela Igreja Católica, vão passar o dia de comemorações fora do templo religioso oficial em Salvador. Isso porque, como conta o pároco da matriz, Abel Pinheiro, em 2005, parte do forro da igreja desabou durante uma cerimônia e, de lá pra cá, são realizadas obras de reforma e restauração.
A fim de chamar a atenção para a necessidade de reabrir as portas, nesta sexta-feira (26), às 11h15, devotos vão promover um abraço em torno da igreja. Enquanto o templo permanece fechado, as comemorações de Sant\'Anna são feitas na Igreja Santa Clara do Desterro, no bairro de Nazaré.
Tombada como patrimônio nacional em 1941, a Igreja do Santíssimo Sacramento e Sant’Ana, conforme o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), é considerada um dos tesouros arquitetônicos e históricos da Bahia. A matriz fica no alto da Ladeira de Sant\'Anna, tendo como principal acesso ao local a Baixa dos Sapateiros.
"Está encravada aqui no Centro Histórico, inclusive neste chamado circuito da Copa de 2014. Em 1760, as torres da igreja foram inauguradas e a abertura da igreja aconteceu. Celebramos em 2010 os 250 anos da igreja. Celebramos com a igreja fechada. Fizemos uma cerimônia na Igreja Catedral de Salvador", relembra.
"A Defesa Civil interditou a igreja. Depois, com o apoio do Iphan na Bahia, Secretaria de Cultura do Estado e da comunidade de Santana, conseguimos refazer 1,2 mil metros quadrados de telhado. Tudo telhado novo. Entramos na igreja em julho de 2007, ficamos por um ano, enquanto preparávamos o grande projeto de restauração que veio a ser aprovado pela Lei Rouanet, do Ministério da Cultura, sempre vistoriado pelo Iphan, para a reforma geral, que foi dividida em duas etapas. A primeira foi contemplada pelo BNDES, e está sendo finalizada agora no próximo mês de outubro, que abrangeu a parte arquitetônica, estrutural e de infraestrutura da igreja", explica o pároco.
No entanto, o religioso diz que a segunda etapa do projeto que daria condições para a igreja abrir as portas está parada. "Uma série de adversidades, uma série de imprevistos, a morosidade dos técnicos e da fiscalização... Tudo isto dificultou o andamento das obras. O projeto segundo foi arquivado", lamenta.
Segundo informações da Superintendência Estadual do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan-BA), o projeto que começou a ser executado em 2009, foi aprovado pelo órgão e apoiado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social (BNDES), que aportou R$ 3,2 milhões.
Ainda de acordo com o Iphan, os critérios de restauração para preservação das características do monumento foram cumpridos e foram feitas novas adaptações, como a implantação de banheiros.
O órgão informa que foram restaurados o forro, os assoalhos de madeira, as lápides na capela do Senhor Morto, as escadarias e o salão nobre. Ainda afirma que a primeira etapa contemplou a renovação da parte elétrica e hidráulica, a construção de ambientes que irão melhorar a estrutura, a exemplo do mezanino com sala para a administração, sala do pároco, de apoio a serviços de floricultura e a secretaria paroquial, um elevador com acesso ao segundo pavimento e galerias superiores, além da adequação de espaços para sanitários masculino e feminino.
De acordo com o Iphan na Bahia, a igreja ainda está fechada, mas o órgão tem acompanhado de perto a situação, buscando recursos e acompanhando as demandas e os serviços . A expectativa para a superintendência é de que as obras possam ficar totalmente prontas em 2014. Ainda estão sendo restauradas a parte arquitetônica e os elementos artísticos integrados.
O Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (IPAC) informou que há um projeto executivo e orçamento realizados para restaurar o forro de toda a Igreja de Sant\'Anna, mas ainda não há previsão para liberação de recurso para o início da obras.
Patrimônio
São muitos os destaques históricos relacionados à igreja, conta o religioso. É lá que acredita-se estarem enterrados os restos mortais da heroína da independência da Bahia, Maria Quitéria. Além disso, o padre destaca que foi no templo de Sant\'Anna que Irmã Dulce descobriu a vocação religiosa.
"O grande desafio do momento é o forro, que caiu e continua sendo o empecilho para que nós voltemos à igreja. Então meu apelo e o apelo da minha comunidade paroquial, que está funcionando atualmente no convento do desterro, aqui pertinho, é que nós encontremos pessoas, instituições, que o governo do estado, que o governo federal, através do Ministério da Cultura, que o Iphan se unam com empresários também e benfeitores, para fazermos este forro. A minha angústia é entrar nesta igreja e ver este forro na situação em que está. Se conseguirmos restaurar o forro, a gente entra na igreja, mesmo sem finalizar as obras, porque não aguentamos mais esse trabalho. Então fica aqui meu apelo", diz.
Trabalho social
O padre conta que através da "Cruzada Social de Santana" atende cerca de 700 pessoas por mês, na área de psicologia, pediatria, odontologia, ginecologia, com médicos do município, em convênio, e também com voluntários da paróquia.
"Se a igreja estivesse aberta, logicamente teríamos um maior apoio da comunidade, uma maior visibilidade e poderíamos ser uma resposta para estas necessidades e desafios que nos afetam aqui no momento, que são os obres, nossos irmãos que estão mais próximos de nós, necessitados", lamenta o pároco.
História
Segundo a tradição católica, Ana não tinha filhos e vivia, junto com o marido Joaquim, em Nazaré. Eles eram estéreis e, certo dia, Joaquim se retirou ao deserto para permanecer quarenta dias em completo jejum e oração. Então, dois anjos foram ao encontro dos dois para anunciar que teriam um filho. Assim, ao nascer, Maria foi oferecida ainda na infância ao serviço do templo. Devido a sua história, Sant’Ana é considerada a padroeira das mulheres grávidas e dos que desejam ter filhos.
Gabriel Gonçalves e Rafaela RibeiroDo G1 BA