Meia, que pode ser bicampeão da Libertadores, diz que título vai 'libertar' o Timão, lamenta saída de Adriano e exalta Riquelme
Marcelo Braga
Maurício Oliveira
São Paulo (SP)
Com carreira vitoriosa, Alex não tem rituais para dias de finais. Nesta quarta-feira, em Buenos Aires (ARG), ouvirá sua música sertaneja, jogará algumas partidas de sinuca após o almoço e se concentrará para a partida contra o Boca Juniors, às 21h50, com transmissão em tempo real pelo LANCENET! . Nada supersticioso, vai no máximo desvirar um chinelo que, por ventura, estiver com a sola para cima – influência das manias da família, diz.
Tudo como se fosse encarar uma partida normal. Embora não seja. Para o Corinthians, que fará sua primeira final de Copa Santander Libertadores, serão 90 minutos de tensão. Que ele espera tirar de letra junto com seus companheiros:
– Essa maturidade que adquirimos com o título brasileiro nos faz encarar um momento de dificuldade com destreza e tranquilidade. Como se fosse um outro momento – disse o camisa 12 ao LANCENET!, antes de embarcar para a Argentina.
Você fez três jogos na La Bombonera. O que acha do local?
Tem uma mística, mas depois que você vai lá e conhece se torna um ambiente muito especial. Porque o torcedor transforma aquilo em especial. O Boca em si exige que você jogue praticamente no seu máximo. A torcida deles é tão boa que motiva até o adversário. Mas a preparação tem de ser muito forte porque não o deixam respirar, tentam intimidar o tempo todo. E você não pode dar nenhum tipo de brecha, como uma levantada de mão de impedimento, ou deixar de correr um pouco, porque a competitividade deles é impressionante e o árbitro lá dentro acaba sendo não tão confiável, dependendo do jogo. Na dúvida, o árbitro ou bandeira não vai nos ajudar, tenho certeza.
Compara com alguma outra torcida do futebol brasileiro?
Eles têm muito do que a nossa torcida tem, desse “caldeiraozão”, o tempo todo o estádio inteiro incentivando. Tem algo parecido com as características do Corinthians.
Em 2008, pelo Inter e com Tite, você fez gols contra o Boca no Beira-Rio e na vitória em La Bombonera Como foi?
Tivemos o primeiro confronto em casa e a única alternativa que encontramos foi em chutes de fora da área, que acabei fazendo o 2 a 0. E aí fomos para La Bombonera muito prontos. O time já tinha Guiñazu, D'Alessandro, Sorondo, gringos que nos ajudaram nessa situação. E estávamos mais prontos e calejados do que em outras edições, em um nível de competitividade maior, um time muito pronto para aquela situação. E hoje vejo a gente assim, na mesma toada, jogando igual dentro e fora de casa, com uma confiança muito boa. Mas, ao mesmo tempo, com aquele passo atrás, pois confiança demais pode atrapalhar.
O que tira dessas experiências que teve com o Inter?
Essa questão do espírito dessas competições. Antes de conquistarmos os quatro títulos internacionais (Libertadores, Sul-Americana, Recopa e Mundial), que nenhum clube no Brasil conquistou, perdemos duas Sul-Americanas juntos, com o mesmo grupo que seria campeão da Libertadores (em 2006). Tivemos ensinamentos. E acabo comparando porque o Corinthians também teve ensinamentos. Tem jogadores aqui desde 2008 que iniciaram esse trabalho e hoje já estão muito mais prontos e preparados. A Libertadores que estamos fazendo demonstra isso. No Inter, aprendemos a encarar essa competitividade de torneios internacionais. E esse time tem esse espírito também.
A queda contra o Tolima (COL) foi um aprendizado para a equipe em 2011. Dá para dizer, então, que ela foi boa para o time?
Nenhuma derrota é boa, prefiro aprender com o erro dos outros. Mas nem sempre é possível. O jogo da Ponte Preta (quartas de final do Paulistão), por exemplo, podemos muito bem usar como ensinamento, mas o nosso foco na Libertadores nunca foi abalado. Não foi esse jogo do Tolima que mudou a história. Naturalmente, fomos construindo uma caminhada para chegar até aqui, na final do torneio.
Essa eliminação diante do Tolima (COL), aliás, gerou revolta da torcida. Se livraram disso nesta edição?
Ao mesmo tempo que não queremos perder pela competitividade, tememos perder por esse fato. Faz parte da história do clube, infelizmente. Essa minoria transforma o ambiente, principalmente o de Libertadores, em algo temeroso. É óbvio que, hoje, a torcida reconhece a forma como defendemos a camisa que eles amam. A questão não é perder. É como se compete.
O Corinthians é um time com força no conjunto e que não tem uma estrela. É bom não tê-la?
Lógico que é bom. O bom é o time que dá resultado. Não importa se tem uma grande estrela ou não. Acho que temos várias estrelas que brilham tanto quanto brilha uma individual que, às vezes, se você fica muito preso a ela, em algum jogo ela vai lhe fazer falta. Esse conjunto é forte e nossas individualidades são pontuais. Elas sabem ser individuais e decisivas quando precisa. Futebol é coletivo, envolve 11 se ajudando e protegendo o gol como se fosse sua casa. É o necessário.
Adriano poderia ser esse cara. É uma pena não ter sido?
Acho uma pena, pela gente e por ele, de repente até mais por ele, que não está fazendo parte de uma história em que poderia ser a grande estrela, participando diretamente. Era um cara muito querido aqui, já voltamos a falar com ele e diz que tem saudade da gente. Seria uma história bacana para a carreira dele, ia representar esse retorno, poder mostrar para todo mundo que ele tinha voltado. Infelizmente não está conosco, mas não nos abalamos. Ele acabou até nos dando força para continuar, manda mensagem falando que está torcendo, que está esperando a conquista.
Já o Boca tem essa estrela, que é Riquelme. Um dia ruim dele será um dia bom de vocês?
Depende, porque num dia ruim de Riquelme com a bola andando, na bola parada ele pode resolver. Esse cara diferente tem disso. Vamos ter de estar atentos para essas situações. Não dá para se iludir, ainda mais com Boca e argentinos, que não desistem nunca. Também temos essa característica e temos de exercê-la. Em cinco segundos de bobeira, podemos perder o título da Libertadores.
Em janeiro, você dizia que achava o Santos melhor que o Corinthians por ter Ganso e Neymar. E agora que venceram o rival na semifinal, isso mudou?
Não muda, porque os dois são realmente fantásticos. Neymar está muito perto dos cinco melhores do mundo. Mas, como time, mostramos a nossa força, mas aí tem o lado do conjunto. Se não tivéssemos, para poder marcar Neymar, Ganso, Arouca, Elano seria muito difícil. O Santos não foi muito bem porque a gente não permitiu que eles jogassem bem. Estudamos muito e nos programamos para jogar da maneira que jogamos, nada aconteceu por acaso nessa semifinal. Ninguém deu um pique que não era programado, pensado e treinado. O conjunto se confirmou e, naturalmente, alguma individualidade apareceu em alguns momentos decisivos.
Se o Corinthians for campeão, santistas e são-paulinos dirão que têm três títulos da Liberta. Mas vocês podem ganhá-lo de forma invicta. Buscam essa feito?
Mesmo que haja uma derrota, a conquista não seria abalada se ela acontecesse. Ser campeão de uma Libertadores de forma invicta só quer dizer que a consistência foi muito grande e que você correu menos riscos. Mas tem times que ganham o torneio perdendo três ou quatro jogos e conseguem reverter algumas coisas, seja na primeira fase ou em jogos eliminatórios. O peso não vai tirar. Mas se vencermos dessa maneira, tirando Emelec, Vasco e Santos, pegar um Boca na final é para ser algo incontestável. Algo para não terem o que dizer. Pode ser que esteja pintando uma história que vai sanar qualquer tipo de dúvida. E o Corinthians vai seguir a vida e se libertar disso, é o que a gente quer. É o desejo de todos e não vamos vender nada barato. Se o Boca for campeão, vai ter de ser muito melhor que nós. E vamos bater palmas. A decisão não será fácil.
Quando se chega ao CT, se vê um pôster enorme do time campeão mundial de 2000. Vão cobrar a homenagem se forem campeões?
Confesso que quando cheguei ao CT na quinta, depois do jogo contra o Santos, imaginei nossa foto ali. É óbvio que é apenas uma decisão e que temos muito a fazer, mas, confirmando o título, se não quiserem colocar, tudo bem. A história vai estar escrita e ninguém vai poder apagar.
ALEX CONTRA O BOCA
Boca Juniors 4x2 Inter
24/11/04 Pela Copa Sul-Americana, em La Bombonera, o meia perdeu o primeiro jogo da semifinal.
Inter 0x0 Boca Juniors
1/12/04 Empate no Beira-Rio tirou o Inter da competição continental.
Inter 1x0 Boca Juniors
19/10/05 Pelas quartas da Copa Sul-Americana, venceu em casa.
Boca Juniors 4x1 Inter
10/11/05 Mesmo em vantagem, viu o time cair em La Bombonera.
Inter 2x0 Boca Juniors
22/10/08 Em jogo válido pelas quartas de final da Sul-Americana, o Inter venceu o Boca Juniors em casa com dois golaços de Alex.
Boca Juniors 1x2 Inter
6/11/08 Com outro gol de Alex e um de Magrão, o Colorado de Tite venceu o Boca em La Bombonera, se vingou das eliminações de 2004 e 2005 e rumou a título invicto.