Maria Denise Galvani
Do UOL, no Rio
Em uma declaração conjunta lançada nesta terça (19), representantes dos nove “grandes grupos” da sociedade civil que acompanharam as negociações na ONU apelaram aos chefes de Estado para “garantir que a Rio+20 tenha sucesso”.
O manifesto foi divulgado depois da aprovação do rascunho da declaração da Rio+20, “O futuro que queremos”, nesta terça. Porta-vozes de ONGs, mulheres, cientistas, povos indígenas e outros grupos representados nas negociações oficiais se reuniram para comunicar suas impressões; “decepção” foi a palavra mais recorrente.
Kiara Youth, representante do grupo para crianças e a juventude, disse que a conferência poderia ser rebatizada de “Rio-20”. “Falta ambição e precisão a esse texto. Se não houver mudanças, as gerações futuras estão desprotegidas”, disse ela.
A Rio+20 é a Conferência da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável, que vai até o dia 22 de junho, no Rio. Uma das propostas do evento é dar mais espaço para a sociedade civil no processo de negociação.
“O documento não é ambicioso em termos de implementação. Viemos ao Rio não só para alinhar princípios e ter novas ideias. Isso é importante, mas precisamos lançar novas iniciativas aqui”, disse Annabela Rosemberg, da Associação Internacional dos Sindicatos.
Na quarta-feira (20) começa a reunião de cúpula da Rio+20, onde chefes de Estado de 193 países votarão a declaração redigida pelos diplomatas.
A declaração conjunta dos grandew grupos da sociedade civil pede aos negociadores de alto nível que suas objeções ao rascunho aprovado pelos diplomatas ainda seja ouvida: "Ainda há muito a ser feito para que a Rio+20 produza um acordo com resultados concretos. Os líderes têm que aproveitar essa oportunidade", diz o texto.
No sábado (16), 180 ONGs haviam divulgado a petição “O futuro que não queremos”, na tentativa de persuadir os diplomatas a serem mais ambiciosos. "“O estado atual das negociações (...) compromete a relevância e credibilidade das Nações Unidas. Um acordo apressado e ineficiente não será aceitável para nós”, dizia o manifesto.
Frustração
A porta-voz do grupo das mulheres, Gita Sen, foi mais específica ao apontar retrocessos no texto aprovado. “Estamos muito decepcionadas porque a garantia aos direitos reprodutivos foi tirada da declaração”, disse ela.
O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Antônio Patriota, também se disse frustrado com a omissão dos direitos reprodutivos no texto final.
“A Santa Sé levou muitas delegações a acreditarem que ‘direitos reprodutivos’ significa legalização do aborto. Isso não é verdade! Ficamos perplexos com a postura de Estados que sempre nos apoiaram e que, na hora de votar, ficaram em silêncio”, disse Sen.