Em busca de solução, seca é vista como grande desafio

Iguatu. A seca que atinge o semiárido nordestino traz preocupação para os organizadores do XVI Seminário Nordestino de Pecuária (Pecnordeste), mas o fenômeno climático é visto como um desafio a ser vencido a partir da mudança de mentalidade dos produtores. Essa é a análise do presidente da Federação da Agricultura do Estado do Ceará (Faec), Flávio Saboya, que é um entusiasta do evento.

Segundo a Faec, Pecnordeste vai oferecer novas tecnologias e discutir ações voltadas para o médio produtor rural, que se ressente de uma política diferenciada de crédito e de assistência técnica para superar a ausência de chuvas Foto: Kid Júnior

"A seca não pode ser vista como um desestímulo de participação dos produtores ao evento, mas uma oportunidade de mudança de paradigma do homem, do produtor", diz Flávio Saboya. "De forma alguma a estiagem vai afetar a programação".

Em decorrência da crise que a seca provoca no campo, com queda de produção e de enormes dificuldades para manter o rebanho, ele defende a aplicação de tecnologias de convivência com o semiárido. "Esses novos conhecimentos serão adquiridos no seminário, que se traduz em uma chance de mudança de postura".

A manutenção de práticas seculares de plantio e de criação de animais é criticada pelo presidente da Faec. "Na região nordestina, não adianta plantar e ficar esperando que o céu mande chuva porque quando não vem, vem o desespero", observa. "Essa visão nós temos de mudar e o problema não é o quadro climático, mas a manutenção de modelo tradicional e equivocado da produção agropecuária" .

Mais conhecimento
Para Saboya, o indutor da mudança seria o conhecimento adquirido pelo produtor. "Vamos oferecer novas informações, tecnologias aos produtores rurais e discutir ações voltadas para o médio produtor rural, que se ressente de uma política diferenciada de crédito e de assistência técnica", frisou. "São técnicas já difundidas e conhecidas, mas que encontram resistência em serem implantadas em larga escala pelos produtores".

O cultivo de forrageira alternativa, palma, por exemplo, altamente resistente à seca, de capim e sorgo para silagem são medidas simples que podem ser adotadas pelos criadores. "Temos que fazer silos, nos prevenir para a ocorrência de seca, assim como os produtores fazem para enfrentar o segundo semestre, que é seco", avaliou. "No Canadá, é mais difícil produzir leite porque só há três ou quatro meses por ano para a produção de alimento para o rebanho por causa do rigoroso período de inverno, mas lá os criadores fazem reserva alimentar", comparou.

Código Florestal
O presidente da Faec também destacou a importância da temática central do Pecnordeste que neste ano vai discutir a questão polêmica do Código Florestal com enfoque para a pecuária nordestina. "Temos que respeitar a norma legal e fazer os ajustes necessários", disse. "A produção agropecuária deve ser feita de acordo com os ditames legais e a exemplo da seca, o produtor deve procurar alternativas". Para Flávio Saboya, a solução para a questão da seca, a adaptação ao Código Florestal e a preservação ambiental, devem ser encontradas pelos produtores com apoio de políticas públicas governamentais. "Temos um modelo produtivo que é uma herança de século, mas que não pode ser mantido e, por isso, temos de partir para novas coisas", frisou.

"As Áreas de Preservação Permanente (APPs) que são as conhecidas croas (baixios) de rios não podem ser mais ocupadas por plantio e nem desmatadas". Diante das novas exigências da legislação ambiental, o produtor deve se adaptar e procurar novas tecnologias para aumentar a produtividade e a qualidade dos produtos agropecuários. "Usando tecnologias modernas vamos produzir mais alimentos, sem agredir o meio ambiente", disse. "Todas essas questões serão discutidas no seminário".

Positivo
O presidente da Faec faz um balanço positivo das edições anteriores do evento que está em crescimento a cada ano. "Os produtores devem sempre procurar novos conhecimentos e procuramos oferecer novas informações a cada edição da Pecnordeste".

Flávio Saboya frisou que o evento busca a transmissão de conhecimento para o produtor, e lembrou que 2011 deixou um saldo positivo de grandes conquistas para o setor agropecuário brasileiro a partir de produção recorde, consumo interno e exportações crescentes. "Exigiu do setor agropecuário não somente a força e a competitividade, mas o dinamismo e a competência necessários para continuar produzindo alimentos de qualidade e a baixo custo mesmo em um cenário de crise em 2012", analisou. (H.B.)

Reflexão
"A seca não pode ser vista como um desestímulo, mas uma oportunidade de mudança de paradigma do homem, do produtor"

Flávio Saboya
Presidente da Faec