Legenda: Açude Patos, em Sobral, foi um dos primeiros a sangrar neste ano. Hoje, o reservatório registra 60,94% da capacidade. - Foto: Davi Rocha/SVM.
Situação era ligeiramente mais favorável em 2024, quando 66% dos reservatórios estavam com níveis confortáveis.
Escrito por Clarice Nascimento 29 de Novembro de 2025
Dos 143 açudes atualmente monitorados pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), 82 reservatórios estão com mais de 50,1% da capacidade máxima neste mês de novembro. Isso representa 57,34% dos açudes com níveis confortáveis ou muito confortáveis, conforme o Portal Hidrológico do Ceará.
Para a Cogerh, o cenário hídrico do Estado está dentro do esperado, mas ainda deve reduzir nos próximos dias. Em igual período de 2024, o Ceará havia atingido um aporte histórico de mais de 10 bilhões de metros cúbicos, e cerca de 66,43% dos açudes com mais de 50,1% da capacidade total — neste ano a Companhia fez uma atualização e reduziu o número de reservatórios monito-rados pela Pasta, passando de 157 para 143.
Já em relação a 2023, eram 88 dos 157 reservatórios monitorados à época com situação confortável, ou seja, 56,05% apresentavam volume superior a 50,1%. A capacidade máxima do Estado era de 40,32%.
Conforme a resenha diária da Cogerh, em outubro de 2025 foram retirados 14 reservatórios da rede de monitoramento. Em nota, o órgão explica que a medida se baseia no fato de que “essas estruturas não são de responsabilidade da Cogerh e atendem principalmente demandas locais”. Por isso, segundo a legislação, a gestão e o acompanhamento desses açudes permanecem sob responsabilidade de seus empreendedores legais.
Até sexta-feira (28), somente um açude está sangrando no Estado: o Caldeirões, em Saboeiro, na bacia Alto Jaguaribe, no centro sul do Ceará. Por outro lado, 36 açudes estão com quantidade abaixo de 30%, outros oito apresentam volume morto, que é quando registram abaixo de 5% de sua capacidade total, e um está seco. Por fim, 25 reservatórios estão em alerta, com capacidade entre 30,01 a 50%.
Chuvas abaixo da média
O denso volume armazenado de forma irregular nos açudes — mais de 7 bilhões de metros cúbicos — é resultado do aporte de chuvas neste ano. Algumas bacias hidrográficas estão com situação confortável, como a Litoral (73,24%) e a Metropolitana (57,64%).
No outro extremo, as condições são mais críticas e trazem mais preocupação, afirma o presi-dente da Cogerh. É o caso das bacias de Sertões de Crateús (10,86%), Médio Jaguaribe (22,99%) e Banabuiú (29,15%). Outra bacia com bons números é a Alto Jaguaribe, no Centro Sul do Estado, com 75,17% da capacidade, decorrência da cheia história do Orós neste ano.
Em outubro deste ano, o Governo do Ceará declarou situação crítica de escassez hídrica nessas três regiões hidrográficas. Esse reconhecimento é necessário para garantir o abastecimento prioritário diante do risco de não atendimento aos usos outorgados até uma nova quadra chuvosa.
Em entrevista ao Diário do Nordeste, o presidente da Cogerh Yuri Castro de Oliveira afirma que a situação deste ano é um pouco menos favorável se comparado ao ano passado.
Segundo a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), entre fevereiro e maio deste ano, 60% do território do Ceará tiveram chuvas abaixo da média. Em fevereiro, o prognóstico do órgão já informava a maior tendência de precipitações ao Norte do Ceará, enquanto o Sul teria menores acumulados.
Na apresentação do balanço da quadra chuvosa de 2025, em junho, o presidente da Funceme Eduardo Sávio confirmou que as áreas mais próximas ao litoral cearense tiveram precipitações acima da média. Segundo Fernando Santana, titular da Secretaria dos Recursos Hídricos do Ceará (SRH), o aporte aos açudes neste ano foi menor do que em 2024.
À época, a situação das bacias de Sertão de Crateús e Banabuiú já amargavam volumes próximos ou abaixo de 30%.
Além disso, o período do fim de ano é mais seco e apresenta chuvas mais pontuais. Por isso, é natural que os volumes tenham reduzido desde o fim do período chuvoso, conforme explica Yuri Castro.
“Normalmente, os reservatórios continuam caindo de nível até o mês de janeiro. Só começa a pegar um aporte mais significativo a partir de fevereiro, isso numa quadra chuvosa normal. Temos praticamente dois meses e pouco ainda de açudes perdendo um pouco de água”, afirma.
Se comparado o valor da capacidade hídrica de novembro (42,43%) com junho (55,03%), no fim da quadra chuvosa, há uma queda de cerca de 12 pontos percentuais. Um dos fatores, por exemplo, é a evaporação da água. Segundo Castro, ela é responsável pela redução de quase 30% da capacidade dos reservatórios.
Três gigantes do Ceará
Os principais açudes do Estado também apresentam contextos distintos. Até esta segunda-feira (24), o Castanhão registra 22,59% do volume total. A capacidade total de armazenamento do reservatório é de 6,7 bilhões de metros cúbicos (m³) de água, dos quais 1,5 bi estão comportados. O pico de volume deste ano foi 30,08% no mês de maio.
O maior açude do país é responsável pelo abastecimento de 5 milhões de pessoas no Ceará que vivem na Região Metropolitana de Fortaleza e entre a válvula dispersora da barragem e a foz do Rio Jaguaribe, no município de Fortim.
Ainda na região do Jaguaribe, o açude Orós verteu após 14 anos de espera, em abril de 2025. Hoje, o segundo maior reservatório do Estado continua bem abastecido, com 76,21% de armazenamento. A recuperação do volume do Orós foi impulsionada por chuvas concentradas na bacia do Alto Jaguaribe, explicou a Funceme à época.
O açude tem capacidade de armazenar 1,9 bilhão de metros cúbicos (m³) de água. Ele integra a Bacia do Alto Jaguaribe e tem múltiplos usos, como a perenização do Rio Jaguaribe, a irrigação do Médio e Baixo Jaguaribe e a piscicultura.
Já o açude Banabuiú, o terceiro maior, tem 30,23% de volume preenchido. Esse valor vem caindo ao longo dos meses. O pico de volume deste ano foi 36,77% no mês de maio. Ao todo, são 1,53 bilhões de m³ de capacidade total.
Chuvas positivas em 2026
O mais recente boletim agroclimatológico do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), divulgado neste mês, prevê volumes de chuva próximos ou acima da média em boa parte do Ceará nos próximos meses. A análise se estende de novembro até janeiro de 2026.
Essa previsão abrange o centro-norte do Nordeste e o centro-leste do Ceará, áreas onde a tendência é de precipitações dentro ou acima da normal histórica.
As médias histórias para o Estado são de 31,6 mm em dezembro e 98,7 mm em janeiro, conforme a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme).
Em relação às temperaturas, elas devem permanecer acima da média em todo o Nordeste, inclusive no Ceará, com anomalias positivas entre 0,5 °C e 1 °C. No entanto, a tendência é que a elevação seja menor ao longo da faixa leste. Por fim, o órgão prevê ainda déficit hídrico em grande parte do Nordeste, especialmente nas áreas norte e leste da região incluindo o Ceará.
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