Funcionária que era obrigada a usar legging e cropped em posto de PE pediu demissão após denúncia, afirma defesa

Ainda tem relatos que existiam demissões de funcionárias que estivessem, por exemplo, com corpos considerados “fora do padrão”.

Imagens das funcionárias mostram o uso de peças como leggings e cropped — Foto: Divulgação: Sinpospetro-PE

De acordo com advogado do sindicato que representa frentistas do estado, o estabelecimento também teria demitido funcionárias que tinham corpos 'fora do padrão'

Por Luiz Eduardo de Castro

 — Rio de Janeiro 14/11/2025 

Uma ex-funcionária que denunciou um posto de combustíveis do Recife (PE) que exigia o uso de roupas justas e curtas como calça legging e cropped pediu demissão após relatar o abuso. A informação foi confirmada para O GLOBO nesta quinta-feira (13) por Sérgio Pessoa, advogado do Sinpospetro-PE, sindicato que representa frentistas e demais funcionários do ramo de combustíveis no estado e que denunciou o estabelecimento, batizado de Posto Power, junto à Justiça do Trabalho do Recife (PE). Segundo a entidade, a funcionária estava psicologicamente abalada pelo uso das vestimentas. Pessoa afirmou ainda que o posto também demitiu frentistas que tinham corpos considerados "fora do padrão". 

— Normalmente, eram pedidos indiretos para que a funcionária se demitisse (caso se recusasse a usar as roupas). Ainda tem relatos que existiam demissões de funcionárias que estivessem, por exemplo, com corpos considerados “fora do padrão”.

No último sábado (7), o Tribunal do Trabalho (TRT) de Pernambuco emitiu uma decisão motivada pela denúncia do Sinpospetro exigindo o fim da exigência das roupas. A determinação é assinado pela juíza Ana Isabel Koury, da 10ª Vara do Trabalho de Recife.

Fotografias anexadas ao processo mostram funcionárias usando as peças em horário de trabalho, o que foi descrito pela juíza no processo como uma forma "desnecessária" de expor o corpo das trabalhadoras. A decisão afirma que o uso das roupas desvirtua a finalidade do uniforme, que é proteger a integridade física da equipe do estabelecimento.

A magistrada ressaltou que, em um posto de combustíveis, um "ambiente de grande circulação e público majoritariamente masculino", a exposição aumentava a vulnerabilidade das empregadas a práticas de assédio moral e sexual, e impõe um padrão estético que "sexualiza o corpo feminino e normaliza sua exposição em um contexto profissional inadequado”. 

Com a decisão, o posto deverá fornecer, no prazo de até cinco dias, novos uniformes considera-dos adequados, como calças de corte reto e camisas de comprimento padrão, sob pena de multa diária de R$ 500 por funcionária em descumprimento.

No processo, a juíza destacou que o empregador tem responsabilidade constitucional de garantir um ambiente de trabalho seguro, livre de práticas discriminatórias, e que a imposição de roupas sexualizadas constitui violação à integridade moral e bem-estar mental das trabalhadoras.

"O dano à sua integridade psíquica e moral é contínuo e de difícil reparação, o que justifica a urgência da medida para fazer cessar a lesão", afirma o texto.

Em nota divulgada nas redes sociais, o Posto Power, registrado como FFP Comércio de Combustíveis, negou as acusações e afirmou que a decisão “não reflete a realidade dos fatos” e que as fotografias apresentadas “não dizem respeito a funcionárias da empresa” nem retratam o fardamento oficial.

No texto, a direção do estabelecimento ainda repudiou “qualquer prática que possa constranger, expor ou desrespeitar seus colaboradores” e declarou que substituiu o uso das leggings por peças de tecido jeans assim que foi notificado, negando qualquer tentativa de sexualização ou imposição de vestimenta inadequada.

A distribuidora Petrobahia, bandeira do posto, declarou em nota que a imagem divulgada “trata-se de um registro antigo e não reflete as práticas atuais da empresa nem de seus parceiros”, afirmando que, desde outubro, o estabelecimento passou a ser administrado por novos gestores e que “cumpre rigorosamente todas as normas e exigências de segurança e saúde no trabalho".

https://oglobo.globo.com/brasil/noticia/2025/11/14/funcionaria-que-era-obrigada-a-usar-legging-e-cropped-em-posto-de-pe-pediu-demissao-apos-denuncia-afirma-defesa.ghtml