Frio prolongado afeta produção de tomate e faz preços dispararem

A queda nos termômetros afeta diretamente o cultivo do tomate

Com ciclos mais longos, plantas produzem menos tomate. Demanda alta faz preços subirem. — Foto: Reprodução / TV Gazeta

Temperaturas mais baixas por um período de tempo maior fizeram o preço de 9 kg da fruta subirem de R$ 58, em janeiro, para R$ 97, em junho, quando começou o período mais frio do ano.

Por Vinícius Colini, Breno Alexandre, g1 ES e TV Gazeta - 24/08/2025 

Como a mudança no tempo impacta as lavouras e afeta a produção de tomate no ES

O clima ameno da Região Serrana do Espírito Santo costuma atrair visitantes para as montanhas capixabas, transformando o local em refúgio para quem busca descanso. Mas, o mesmo frio agrada aos turistas, preocupa agricultores da região. A queda nos termômetros afeta diretamente o cultivo do tomate, uma cultura sensível às baixas temperaturas, e faz os preços dispararem nesta época.

A temperatura ideal para germinação das sementes do tomateiro, segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), é de entre 15ºC e 25ºC. Para o desenvolvimento e produção, o tomateiro até suporta ampla variação de temperatura entre 10ºC e 34ºC. 

Porém, nos municípios de Afonso Cláudio e Venda Nova do Imigrante, principais polos produtores de tomate no estado, as temperaturas mínimas chegaram a 9,7ºC e 6,1ºC, respectivamente, bem abaixo do que as plantas podem suportar, segundo o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper).

Por conta disso, o tempo de colheita aumentou. Também devido às baixas temperaturas, o de-senvolvimento dos frutos ficou comprometido. O resultado foi queda na produção. Com menos produto no mercado, os preços sobem.

O produtor rural Cássio Gobbi explicou que a colheita já é naturalmente menor no inverno. "Geralmente, os primeiros frutos começam a madurar em 70 dias. No inverno, esse período passa para 90, e a gente colhe menos vezes por semana", analisou. Mas com o frio intenso, menos frutas se desenvolveram no tempo certo.

O produtor de tomate-cereja, Bruno Cesconetto, pontuou que a produção do fruto neste ano deve ser 35% menor do que no ano passado, que foi de cerca de 380 toneladas.

Este ano, estamos tendo um inverno com temperaturas baixas mais prolongadas. Geral-mente, temos picos de frio, mas com temperaturas normais. Neste ano, as temperaturas estão baixas há mais de 90 dias, o que nos faz colher menos. Uma vez que estamos co-lhendo menos, a planta tem um ciclo mais longo"

— Bruno Cesconetto, produtor rural

O frio pode impactar até mesmo as vendas para o Natal, época em que aumenta a procura pelo tomate-cereja.

Bruno Cesconetto explicou que a planta, que deveria estar madurando agora, ainda vai levar mais um tempo para se desenvolver por conta do frio prolongado. Com isso, os produtores perdem uma janela de semeio para atender a essa data.

Menos oferta, maior preço

O atraso na maturação fez com que os produtores colhessem menos frutos durante o inverno. "Caiu muito a oferta, mas a demanda ainda é a mesma, o que faz os preços subirem", ressaltou Bruno Cesconetto.

Em Vitória, o consumidor pagava R$ 58 a cada 9 kg de tomate, segundo o Departamento Inter-sindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Em junho, o preço subiu para R$ 97 para a mesma quantidade.

O aumento do preço não significa, necessariamente, maior receita para o produtor rural. "Uma vez que a gente colhe menos, o faturamento é o mesmo para o período", argumentou Cesconetto.

Evaldo de Paula, extensionista do Incaper, explicou que o cultivo do tomate exige cuidados no manejo, por questões nutricionais, além de outros pontos que precisam ser monitorados. Uma alternativa, segundo ele, é usar a estufa, já que é "um ambiente em que é possível controlar fato-res como a temperatura, ataque de pragas e doenças".

Outro ponto de destaque, segundo o extensionista, é a tecnologia usada no campo, que vem sen-do melhorada para a produção.

"Hoje, somos referência nacional em qualidade, tecnologia e produtividade. O tomate produzido aqui na região é muito bem aceito e distribuído por todo o estado e também no país", acrescentou.

https://g1.globo.com/es/espirito-santo/agronegocios/noticia/2025/08/24/frio-prolongado-afeta-producao-de-tomate-e-faz-precos-dispararem.ghtml