O presidente do Senado, Davi Alcolumbre, durante sessão — Foto: Jefferson Rudy/Agência Sena-do/16-07-2025
Por Bernardo Lima e Luísa Marzullo — Brasília 07/08/2025
Texto que interessa ao governo Lula passou em votação simbólica em 15 minutos
Após a Câmara dos Deputados retomar os trabalhos na noite de quarta-feira, o Senado se reuniu na manhã desta quinta, por determinação do presidente da Casa, Davi Alcolumbre (União-AP). Os senadores aprovaram, em 15 minutos de sessão, o projeto que isenta de Imposto de Renda quem recebe até dois salários mínimos.
O texto tem o apoio do governo, e a iniciativa já estava em vigor por meio de uma Medida Provisória que expira na segunda-feira. O projeto aumenta a faixa de isenção de R$ 2.259,20 para R$ 2.428,80 e já havia sido aprovado na Câmara dos Deputados no final de junho.
A atualização foi necessária pois o valor das tabelas estava defasado, em função do aumento do salário mínimo implementado pelo governo no início deste ano. O projeto de lei só tem efeito sobre as declarações a serem feitas em 2026, relativas aos rendimentos recebidos em 2025.
Obstrução interrompida
A jornalistas, Alcolumbre deu uma curta declaração antes de abrir a sessão no Senado, após dois dias de obstrução da oposição:
— Vamos trabalhar! — disse o presidente do Senado.
Na noite desta quarta-feira, Alcolumbre já havia publicado nota em que afirmou que não aceitaria "intimidações".
"Não aceitarei intimidações nem tentativas de constrangimento à Presidência do Senado. O Parlamento não será refém de ações que visem desestabilizar seu funcionamento. Seguiremos votando matérias de interesse da população, como o projeto que assegura a isenção do Imposto de Renda para milhões de brasileiros que recebem até dois salários mínimos. A democracia se faz com diálogo, mas também com responsabilidade e firmeza", disse o presidente do Senado.
A postura foi elogiada pelo líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues (PT-AP) na quarta-feira:
— Alcolumbre se portou como líder. A correção do IR será votada, o que permitirá a isenção do imposto a 10 milhões de brasileiros. A partir de segunda-feira, o plenário do Senado será retomado. Se não saírem de lá, a presidência se valerá dos meios necessários.
Na véspera, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), conseguiu abrir a sessão da Casa após dois dias de paralisação promovida pela oposição. Ele criticou obstrução, disse que agressões não resolvem os problemas do país e que tampouco a democracia pode ser negociada. A sessão foi encerrada em menos de vinte minutos, com um discurso de Motta e sem votações.
Oposição resiste, mas Motta consegue ocupar cadeira da presidência da Câmara
— Não vai ser na agressão que vamos resolver. Eu peço para que todos deixem o espaço da Mesa, de forma educada — disse Motta ao assumir o microfone. — Durante todo o dia, dialogamos com todos os líderes dessa Casa e quero começar dizendo que a nossa presença hoje é para garantir a respeitabilidade inegociável desta mesa e para que esta Casa se fortaleça. Até para atravessar limites há limites. O que aconteceu aqui não foi bom. O que aconteceu, a obstrução, não fez bem a esta Casa. A oposição tem todo o direito de se manifestar, mas dentro do nosso regimento.
Senadores de oposição se acorrentam no plenário da Casa — Foto: Reprodução
Motta tenta assumir a cadeira da presidência da Câmara — Foto: Brenno Carvalho
Bate-boca entre oposicionistas e governistas na Câmara — Foto: Brenno Carvalho
Deputada Julia Zanatta com a filha bebê na Câmara — Foto: Brenno Carvalho
Sem citar diretamente a prisão de Bolsonaro, Motta afirmou que fatos recentes provocaram "ebu-lição":
— Precisamos reafirmar nosso compromisso, mas uma série de acontecimentos recentes nos deu esse sentimento de ebulição. Não vivemos tempos normais, não podemos negociar nossa demo-cracia. Não podemos deixar que projetos individuais possam estar à frente daquilo que une todos nós, que é o nosso povo e população. O compromisso que assumi com as lideranças era seguir com as pautas sem preconceito. Esta mesa não negocia a presidência. Não me distanciarem da serenidade, do equilíbrio, nem da firmeza necessária. Desta presidência, não terão omissão.
A deputada Júlia Zanatta (PL-SC) chegou a levar a filha de quatro meses o plenário e sentou na mesa da presindencia da Câmara. Porém, quando Motta chegou no plenário, ela se retirou.
Entenda a situação no Congresso
A ocupação dos plenários das duas Casas chegou ao segundo dia na quarta-feira. Deputados bolsonaristas ampliaram a mobilização contra a decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, que determinou a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro. Após passarem a madrugada em vigília nos dois plenários principais do Congresso, os parlamentares ocupar também o auditório Nereu Ramos. No Senado, um grupo de parlamentares se acorrentou na mesa de trabalho.
Nos bastidores, líderes governistas acusam os bolsonaristas de promoverem um “clima de baderna” e tentarem transformar o Congresso em palco de guerra política.
— Uma atitude contra a democracia e o parlamento. A presença e a atividade parlamentar é de uso da palavra. Tentar impedir o uso da palavra é uma atitude autoritária que não pode ser aceita de forma alguma pela população brasileira — disse a deputada Maria do Rosário (PT-RS).
Já os aliados de Bolsonaro afirmam que as ações são legítimas e representam um protesto contra o que consideram perseguição judicial ao ex-presidente. Eles cobram anistia aos envolvidos no 8 de janeiro, fim do foro privilegiado e o impeachment de Alexandre de Moraes para frear a movimentação.
— Já estamos fazendo a escala do final de semana. Não vamos parar — diz o senador Carlos Portinho (PL-RJ).
https://oglobo.globo.com/politica/noticia/2025/08/07/alcolumbre-abre-sessao-do-senado-apos-dois-dias-de-obstrucao.ghtml?utm_source=globo.com&utm_medium=oglobo