Por O Globo com agências internacionais — Nova York - 10/07/2025
Um estudo publicado no Journal of Experimental Biology identificou células especializadas no revestimento intestinal das pítons-birmanesas (Python bivittatus), capazes de lidar com o cálcio presente nos ossos de suas presas. A descoberta ajuda a explicar como esses répteis são capazes de engolir uma presa inteira, com pele, músculos e esqueleto, e, ainda assim, consumir tudo por inteiro, sem sobrecarregar o organismo com excesso de minerais.
Píton birmanesa é considerada 'boa mãe' por especialistas — Foto: Reprodução/Butantan
Píton, serpente, faz tomografia no CRV Imagem — Foto: Divulgação
Píton-real (Python regius) — Foto: Silvia por Pixabay
As pítons-birmanesas são conhecidas por caçar aves e pequenos mamíferos e depois passar vários dias digerindo cada refeição. Durante esse processo, o esqueleto da presa é quebrado e fornece cálcio essencial para a dieta da cobra. No entanto, nem todo o cálcio absorvido pode ser utilizado pelo organismo.
“Queríamos entender como elas conseguiam processar e limitar essa enorme absorção de cálcio através da parede intestinal”, explicou Jehan-Hervé Lignot, biólogo da Universidade de Montpellier, em um comunicado.
Para investigar o fenômeno e desvendar o segredo por trás do processo, os cientistas alimentaram as pítons com três dietas diferentes: uma composta por presas inteiras; outra com presas sem ossos; e uma terceira com presas sem ossos, mas enriquecidas com suplemento de cálcio.
Após algumas refeições, a equipe analisou o efeito de cada regime alimentar no intestino das cobras e identificou células estreitas e altamente especializadas no revestimento intestinal. Nelas, foram encontradas partículas compostas de cálcio, ferro e fósforo. Curiosamente, essas partículas só apareceram nos animais que ingeriram presas com ossos ou receberam suplementos de cálcio.
Segundo os pesquisadores, essas células podem ter um papel essencial na regulação do cálcio: ao concentrar o mineral excedente em partículas sólidas, o organismo seria capaz de eliminá-lo junto com outros resíduos nas fezes.
Após identificar essas células nas pítons-birmanesas, a equipe também encontrou estruturas semelhantes em outras espécies de pítons, em jiboias e no monstro-de-gila (Heloderma suspectum) — todos animais conhecidos por engolirem suas presas inteiras.
No entanto, os cientistas ainda não encontraram evidências de que outros predadores que também ingerem suas presas por completo, como golfinhos ou aves piscívoras, possuam o mesmo mecanismo.
“Predadores marinhos que comem peixes ósseos ou mamíferos aquáticos devem enfrentar o mesmo desafio” de digerir ossos e eliminar o excesso de cálcio, disse Lignot. “Aves que se alimentam principalmente de ossos, como o quebra-ossos (Gypaetus barbatus), seriam candidatos fascinantes para estudos futuros”, acrescentou o pesquisador.
https://oglobo.globo.com/mundo/epoca/noticia/2025/07/10/segredo-das-pitons-cientistas-descobrem-celulas-ineditas-que-explicam-como-cobras-digerem-ossos-inteiros.ghtml