'Eu sou para poucos': Alinne Moraes detalha escolha por uma vida reclusa com marido e filho

Retornando sua carreira artística com Guerreiros do Sol

Em entrevista a Marie Claire, atriz revela motivo de ter recusado papel na nova novela das 21h de Aguinaldo Silva, rebate comentários a respeito da sua vida sexual com o ma-rido, Mauro Lima e abre intimidade e vida familiar, como raramente o faz, em virtude de sua privacidade e de honrar mais as personagens que interpreta e focar nelas

Por João Maturana, em colaboração para Marie Claire — Rio de Janeiro (RJ) 14/06/2025 

Alinne Moraes luta para criar filho feminista, enaltece importância de posicionamento político e avalia interesse público por sua vida sexual — Foto: Reprodução/Instagram/@viniciusmochizuki 

Alinne Moraes explica porque se afastou da TV e entrega motivo para 'ter aceitado papel em Guerreiros do Sol' — Foto: Estevam Avellar/Globo 

Alinne Moraes comenta criação do filho, Pedro — Foto: Reprodução/Instagram 

Criada por mãe e vó solteiras, Alinne Moraes detalha relação com feminismo — Foto: Reprodução/Instagram/@viniciusmochizuki 

Alinne Moraes comenta repercussão de revelação sobre vida sexual com o marido, Mauro Lima — Foto: Reprodução/Instagram

Alinne Moraes está mais criteriosa. Já faz mais de três anos que não vemos a atriz em uma novela, desde Um Lugar ao Sol. Para outras, isso não seria motivo de surpresa, mas para ela, que já chegou a emendar seis novelas em cinco anos no início da carreira, nota-se que há uma mudança. Agora, aos 42, ela tem um outro foco, para além de sua profissão: quer presenciar o crescimento do filho, Pedro, fruto do seu casamento de 13 anos com o diretor Mauro Lima.

Retornando sua carreira artística com Guerreiros do Sol, ela conta a Marie Claire como está apreciando esse momento de escolher a dedo as produções que vai participar, tendo em mente que não quer passar mais horas e dias longe daquilo que mais importa para ela no momento, a família.

Na conversa, Alinne, assumidamente feminista e politicamente ativa, relembra o que a fez se tornar a mulher que é hoje — com origem em uma família de mãe e avó solteiras —, se abre sobre a criação do filho, que tenta manter longe dos holofotes, e ainda se posiciona a respeito de polêmicas a respeito do interesse do público na intimidade do seu relacionamento.

Um bom papel e um adeus "temporário" às telas da TV

Por mais que tenha o sonho de interpretar "todos os personagens possíveis", a atriz entende que, agora, coloca a família em primeiro lugar. O que significa, muitas vezes, abrir mão de grandes oportunidades, por mais que doa. "Gravar novela é preparar uma mala e ir para a guerra", explica. "Tem que chegar em casa às 22h30, tomar banho, ficar até 3h da manhã decorando cenas... sua vida passa dormindo."

Ela ainda recorda o início de sua carreira, quando enfrentou uma verdadeira maratona de produções, uma seguida da outra. "Praticamente não tinha descanso, eu vivia para trabalhar. Sempre gostei muito do meu ofício, mas, ao mesmo tempo, agora quero ver meu filho que está com 11 anos de idade. A mudança dos 11 aos 12 é gigante, um novo ser nascendo diante dos meus olhos. Se piscar, eu perco. Tem fases na vida em que a gente tem que saber parar um pouco", avalia.

A artista ainda compartilha que rejeitou um convite para estar na próxima novela das 21h da TV Globo, Três Graças, de Aguinaldo Silva. "Me pesou muito, mas iria acabar em julho do ano que vem. Meu filho vai ter completado mais um ano de vida. E, hoje, com os streamings e outros trabalhos, você consegue fazer duas séries e dois filmes e ter tempo em casa", explica, na sequência. E reflete: "O tempo é muito valioso. Para que essa correria toda?".

O convite para Guerreiros do Sol, por outro lado, foi na contramão de tudo isso. O motivo? O interesse de Alinne por Jânia, a líder feminista do cangaço. "É completamente diferente de tudo que já fiz. Me desafia como mulher. Hoje, aos 42 anos, tenho o que oferecer a essa personagem. É uma troca", garante.

"É uma mulher revolucionária dos anos 1920/30. Minha avó é da década de 1920 e eu fui criada por ela e pela minha mãe, duas grandes mulheres solteiras. Podia observar a postura dela [avó] de cuidado e, por mais que buscasse prazer em tudo que fazia, como trabalho e encontros com amigos, ela também observava em mim meus modos, meu jeito de sentar, e me repreendia de rebolar. Ela cuidava de mim por conta dos olhos das outras pessoas. Se tivesse algum homem dentro de casa enquanto cresci, talvez eu nem fosse modelo aos 14 anos e não enxergaria a vida dessa maneira."

A criação de um filho feminista

Alinne Moraes também é uma defensora voraz da bandeira do feminismo. Por isso, destaca: "Precisamos valorizar a nossa história e entender como e porque surgiu o feminismo. É uma luta. Estamos aqui vivas e vivos fazendo o que é possível por conta de mulheres que deram suas vidas por nós. Devemos valorizá-las".

Assim, herdando o legado deixado por sua avó e mãe, além de pensadoras e revolucionárias que impactaram em sua formação, a atriz entende que adotou para si a missão de educar seu herdeiro com tal luta em mente. "Quando passo todas as informações para o meu filho — porque estou educando um menino —, tento falar sobre igualdade, empatia, como ouvir uma mulher. Precisa da história, senão tudo parece banal."

"Temos muitas coisas para conquistar ainda, muitas mulheres para entrarem e brigarem por leis e direitos. A violência contra as mulheres ainda é horrível. Ainda precisamos conquistar nossos corpos e defender que meu corpo é meu corpo e não um objeto. Parece que a gente ainda deve a alguém!", critica.

E reconhece: "Eu sempre fui feminista sem saber, sem entender direito o que era. Minha mãe me teve aos 17 anos e sempre foi muito consciente e aberta. Sentava e tinha comigo conversas duras e transparentes sobre a vida, preconceito, sexualidade... ela me levou ao ginecologista quando comecei a me entender mulher e a explorar minha sexualidade. Sempre senti uma pressão da sociedade, mas dentro de casa nunca tive medo de sonhar".

Ela conta que, apesar de ter tido um pai ausente durante toda a sua vida, o genitor chegou a ligar para a TV Globo para tentar conhecê-la anos mais tarde. "Não entrou aqui em casa", diz ela, que preferiu manter a estrutura familiar como conheceu ao longo de toda a vida. "Nunca tive esse olhar masculino, por isso sempre fui feminista, não poderia ter sido o contrário. Agora, tenho homens: o meu marido, que é super feminista, e o meu filho, que estamos sempre conversando [para seguir esse caminho]."

Sem medo de críticas, Alinne toca em pontos espinhosos e usa sua voz para se posicionar. "Artistas que dizem que não vão opinar e acham que não estão agindo, na verdade estão agindo. Quem não faz nada é quase cúmplice", acusa.

"Temos uma grande separação entre o que é o personagem e o que a gente acredita. Vinculo a minha imagem a coisas que acredito, obviamente vou criticar aquilo que não combina com a minha visão", explica. Mas admite ter receio da mídia e de como expressa suas opiniões atualmente. "Temos medo, porque podemos falar qualquer coisa e aquilo nos definir como pessoa. Mesmo aos 42, posso falar algo e mudar de ideia. Eu morro de medo de falar alguma coisa e ser mal compreendida."

Sexo, beleza e privacidade

Na mesma conversa, a artista ainda detalha o motivo de ter escolhido adotar uma rotina fora dos holofotes, prezando pela sua intimidade e raramente colocando sua vida pessoal à público. "O personagem fala por si só, ele que tem que chamar atenção e fazer sucesso, não eu. Quanto mais eu alimentar esse meu lado [de expor intimidade na mídia], mais me verão como uma personagem, e não sou isso."

"Gosto que as pessoas não saibam onde eu moro, o que eu faço, ou quem são os meus amigos. Adoro quando me reconhecem como 'Luciana, a tetraplégica', 'A Silvia, de 'Duas Caras'... para mim, depois que passou do meu trabalho, sou eu, não é um personagem. E eu sou para poucos."

Esse é um dos principais motivos para que sua fala a respeito do sexo com seu marido em uma entrevista recente tenha viralizado tanto. Ao jornal O Globo, Alinne revelou "agendar" o sexo com o companheiro, o que gerou uma grande repercussão na internet.

Ao ser questionada a respeito do interesse pela sua vida íntima, ela respondeu: "Só queria que 'Alinne Moraes agenda sexo' não fosse o título. Uma pessoa solteira marca um encontro, então qual o problema de eu marcar com o meu marido um 'encontro'? Porque criticam como 'uma coisa pensada' o fato de eu saber quando irei fazer sexo com o meu marido?".

Ela também questiona o porquê de manchetes como essas só serem dirigidas às mulheres. "Não perguntam isso para o Mauro. Certa vez, estávamos juntos e uma repórter ficou conversando com ele por uns 15 a 20 minutos, mergulhando na vida profissional dele. Quando foi falar comigo, disse: 'Oi, Alinne. Queria saber: vocês tem um relacionamento aberto?'. Por que para mim é uma pergunta e para o homem é outra? Por que me diminuir tanto com uma pergunta boba?", reflete.

Ao fim, a atriz reflete a respeito de intervenções estéticas e enalteceu a beleza das rugas e do envelhecimento. "Temos que aceitar. Envelhecer não é fácil pelo ponto de vista da beleza, do colágeno, da energia... sinto dor agora, imagina quando tiver com 80, 90 anos?! Mas tem coisas mais fortes que uma ruga. A ruga me ajuda. Além de contar a minha história, ela não enrijece os meus personagens", justifica.

"Eu gosto de sair com óculos de grau, cabelo preso e sem maquiagem. Mas também me maquio e me transformo para fazer capas... gosto de caracterização. Um professor de teatro me disse uma vez que quando você faz uma cirurgia de pálpebra dos olhos, eles mudam para ver o mundo. Sei que a emoção, para um ator, pode vir de dentro para fora, ou também de fora para dentro. Mas me questiono se quero enrijecer para parar o tempo, porque ele mesmo não se para."

"Se algum dia tiver algo me incomodando muito, talvez eu faça uma intervenção, com 70/80 anos... mas sempre tive um jeito meio 'moleca' de enxergar a vida, o que me ajuda muito com essa questão de vaidade. Acho bonito quem se ama e quem se acolhe".

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