Thiago Almada foi a contratação mais cara da história do futebol brasileiro — Foto: Vitor Silva/Botafogo
Além das questões jurídicas, possível venda do meia nesta intertemporada também pode movimentar tal disputa judicial
Por João Pedro Fragoso — Rio de Janeiro 11/06/2025
Enquanto o elenco de Renato Paiva se prepara para iniciar, no próximo domingo, a disputa do Mundial de Clubes contra o Seattle Sounders, o Botafogo enfrenta uma outra batalha relacionada a um clube dos Estados Unidos. Está em andamento uma disputa judicial entre o clube carioca e o Atlanta United relacionada à venda de Thiago Almada para o alvinegro há um ano, em junho do ano passado.
Em 26 fevereiro de 2025, a Fifa condenou o Botafogo a pagar, num período de até 45 dias, US$ 21 milhões (cerca de R$ 116 milhões) ao Atlanta United pela contratação de Almada. Na época do acerto da negociação, os clubes acordaram que o alvinegro pagaria a quantia em dez parcelas (duas de US$ 3 milhões, sete de US$ 2 milhões e uma de US$ 1 milhão) com vencimento a cada três meses. Se o cronograma fosse seguido a risco, a SAF do clube carioca terminaria de quitar o valor em setembro desde ano. No entanto, até o momento, nada foi pago.
O Atlanta United acionou a Fifa logo após o vencimento da segunda parcela, em setembro do ano passado, quando a quantia em atraso totalizava US$ 6 milhões (R$ 33 milhões). A justificativa dada pelo Botafogo para a não realização do pagamento teve como base um outro imbróglio, este entre Thiago Almada, Atlanta United e MLS.
Isto é porque, quando os atletas se transferem para um clube da MLS, consta que eles têm direito de ficar com 10% dos seus direitos econômicos. No entanto, o Botafogo acredita que a liga americana e o Atlanta United "forçaram" Almada a ceder a porcentagem. Acontece que, quando se transferiu para o alvinegro, o meia argentino acreditava ter direito ao valor condizente com os respectivos 10% — a informação foi dada inicialmente pelo UOL e confirmada pelo GLOBO.
Por isso, a SAF alvinegra entende que a quantia exigida por Almada (cerca de US$ 2,3 milhões) deveria ser descontada da primeira parcela de US$ 3 milhões. O Atlanta United, por sua vez, não concordou. Com o impasse, o Botafogo decidiu por não realizar nenhum pagamento.
Clube reconhece dívida
Em contato com a Fifa, o Botafogo, na figura do advogado catalão Joan Milà, alegou que o Atlanta United era "parte terciária" no processo, uma vez que, segundo o clube, o pagamento dos valores da transferência deveriam ser pagos para a liga local, no caso a MLS, que repassaria para o clube franqueado.
"Em primeiro lugar, o Requerido (Botafogo) contestou a legitimidade do Autor (Atlanta United) para ajuizar ação, argumentando que o Contrato de Transferência não fazia menção ao Autor e que as obrigações e direitos decorrentes do Contrato de Transferência eram específicos da MLS. Por exemplo, o Requerido citou a redação que previa que a taxa de transferência era "pagá-vel à MLS" e que os valores eram pagáveis "em contrapartida à Transferência para o Clube". A esse respeito, o Requerido argumentou que, como todos os pagamentos e notificações previstos no Contrato de Transferência deveriam ser feitos à MLS, e não ao Autor, não havia base para considerar o Autor um credor alternativo. O Requerido levantou ainda a preocupação de que per-mitir que o Autor cobrasse esses valores em nome da MLS o deixaria exposto a uma reivindicação duplicada no futuro", diz um trecho do processo.
Dentro disso, o Botafogo reconheceu o não pagamento dos US$ 6 milhões requeridos até o início da disputa judicial, mas se colocou num sentido contrário ao definido pela Fifa quando alegou que o valor cobrado deveria ser este inicial, e não o total de US$ 21 milhões.
Além disso, o clube, ainda no entendimento de que a MLS é uma corporação única que responde pelos franqueados, ou seja, clubes participantes, alega que a liga está em dívida com a SAF por conta de outras negociações. Assim, o alvinegro afirma que, antes de pagar os valores determi-nados pela compra de Almada, deveria receber tais quantias. Os valores são de cerca de R$ 4 milhões pela transação entre Vancouver Whitecaps e Bahia por Caio Alexandre, em 2024.
"Podemos confirmar que a MLS, como uma única corporação, está em dívida com a SAF Botafogo em relação a uma infinidade de recebíveis de franquias da MLS e que a MLS deve ser obrigada a creditar tais valores a quaisquer valores relativos ao Atlanta United", disse o Botafogo em nota enviada ao The Times.
Almada pode ser vendido
Sem aceitar as alegações do Botafogo, a Fifa sustentou que o Botafogo pagasse, em separado, US$ 3 milhões mais taxa de 5% ao ano, e outros US$ 18 milhões com a mesma multa. Além disso, a entidade também afirmou que a SAF deveria pagar US$ 150 mil a ela própria num prazo de 30 dias após a notificação da decisão, que se deu em 26 de fevereiro.
O não cumprimento da decisão da Fifa por parte do Botafogo poderia levar o clube a sofrer um transfer ban, o que o impediria de registrar reforços. No entanto, a SAF alvinegra recorreu da decisão. A ação fez com que a cobrança fosse postergada.
Além das disputas judiciais, outra situação que pode interferir em todo este imbróglio é uma possível venda de Thiago Almada por parte do Lyon, clube que também compõe a Eagle Holding de John Textor. Em alta no clube francês e na seleção argentina — titular, o meia anotou um gol e deu uma assistência nas duas últimas partidas —, o meia deve ser negociado nesta intertemporada europeia. Assim, as cifras da venda poderiam ser úteis não só para esta disputa judicial, como também para os problemas financeiros vividos pelo Lyon.
https://oglobo.globo.com/esportes/futebol/noticia/2025/06/11/entenda-o-imbroglio-que-levou-a-fifa-a-condenar-o-botafogo-por-falta-de-pagamento-pela-contratacao-de-almada-clube-recorre.ghtml