Na média, é como se 14 investigações tivessem início por dia por todo o país; estado do Rio é recordista no número de casos
Por Rafaela Gama e Sarah Teófilo
Rio de Janeiro e Brasília - 04/10/2024
PF intensifica ações de investigação de crimes eleitorais na reta final da campanha — Foto: Divulgação/PF
A Polícia Federal(PF) deflagrou, na manhã desta quinta-feira, uma operação para desarticular uma quadrilha que cooptava eleitores para transferir o domicílio eleitoral do bairro de Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio, para o município de Itaguaí, na Baixada Fluminense. A ação faz parte de um dos 681 inquéritos abertos nacionalmente pela corporação desde o início oficial da campanha, em 16 de agosto.
Na média, é como se 14 novos casos suspeitos surgissem todos os dias. O número representa um aumento de 56,9% no volume de investigações na comparação com o mesmo período do último pleito municipal, em 2020, quando haviam sido deflagradas 434 apurações pela PF a essa altura.
Uma a cada cinco investigações tem como palco o Rio de Janeiro, estado recordista de inquéritos abertos, com 129. No caso da disputa eleitoral fluminense, que já liderava no quesito em 2020, o cenário agravou-se ainda mais, mais do que dobrando em relação às 52 apurações que havia no pleito anterior.
Não por acaso, o Rio tem recebido grande parte das operações deflagradas pela PF nos últimos dias. No caso revelado nesta quinta-feira, por exemplo, as autoridades policiais cumpriram seis mandados de busca e apreensão na residência de integrantes de um grupo criminoso que fornecia comprovantes de residência falsos para que eleitores pudessem votar no município vizinho.
O objetivo da quadrilha seria cooptar eleitores, em sua maioria ainda menores de idade, para depositar votos nas urnas que beneficiassem um candidato a vereador em Itaguaí, cujo nome não foi divulgado pelos investigadores. Os envolvidos podem responder por inscrição fraudulenta de eleitores, crime que ocupa a segunda posição entre os tipos penais coibidos com maior recorrên-cia em todo o país nestas eleições. Em primeiro lugar, aparecem investigações para a desarticula-ção de esquemas de falsidade ideológica na prestação de contas eleitorais, comumente conhecido como "caixa dois".
Na terceira colocação, surgem as suspeitas de compra de votos, como em outra ação deflagrada também nesta semana na Baixada Fluminense. Um homem foi preso na última quarta-feira com R$ 1,92 milhão em espécie. De acordo com informações obtidas pela investigação, o dinheiro seria usado para a prática de corrupção eleitoral e estaria em posse de um empresário que mantinha contratos com as prefeituras de Duque de Caxias e de São João de Meriti.
Suspeitas em outras regiões
Já no estado do Amazonas, onde a PF intensificou a fiscalização nesta reta final de campanha, investigadores deflagraram, também nesta quinta-feira, uma operação para desarticular um es-quema entre integrantes de uma facção criminosa e agentes públicos. Conforme o inquérito, poli-ciais militares estavam atuando no município de Parintins com um grupo criminoso em apoio a uma chapa que disputa a prefeitura do município.
As investigações apontam indícios de ameaças de líderes comunitários ligados a uma facção do tráfico que proibia o acesso de candidatos à prefeitura a certos bairros. De acordo com a PF, a suspeita é que policiais não coibiram a prática para beneficiar uma candidatura específica.
“As ações coordenadas do grupo criminoso teriam promovido a espionagem de pessoas ligadas a um grupo político do município e também monitorado o deslocamento de policiais federais para frustrar a atuação da Polícia Federal”, informou a corporação em nota encaminhada ao GLOBO.
A Justiça Eleitoral proibiu os investigados de irem a Parintins e passou a impedi-los de fazer contato entre si e com coligações partidárias do município. A PF também aumentou o efetivo na cidade nesta semana visando garantir a segurança das eleições, que ocorrem no próximo domingo.
Nesta quinta-feira, autoridades policiais também iniciaram uma ação em Sergipe contra um grupo de criminosos que estaria envolvido em compra de votos. A investigação encontrou listas com os nomes de diversos eleitores, o que indica a estrutura do esquema de compra de votos, segundo a polícia. Já em Sinop, no Mato Grosso, a PF cumpriu ainda nesta semana um mandado de busca e apreensão em um endereço relacionado à campanha de um candidato a prefeito da cidade.
“Durante o cumprimento das diligências, verificou-se que, apesar do local exibir uma placa de ‘aluga-se’ e estar com cortinas abaixadas, funcionava como um comitê não oficial de campanha”, explicou a corporação. Uma mulher foi presa em flagrante após ser vista fazendo o pagamento de R$ 2,5 mil em espécie para um terceiro e, conforme a polícia, o dinheiro era de caixa 2 da campanha.
https://oglobo.globo.com/politica/eleicoes-2024/noticia/2024/10/04/pf-ja-abriu-681-inqueritos-para-apurar-crimes-eleitorais-desde-o-inicio-da-campanha.ghtml