Por Alice Arnoldi
Em Colaboração Para Marie Claire — São Paulo
A esteticista Giovanna Rossetti, 31, ainda era criança quando foi diagnosticada com dermatite atópica. Por muito tempo, o quadro foi tratado com pomada à base de corticoide, até que a moradora da Irlanda do Norte desenvolveu a síndrome associada ao uso prolongado da droga
Giovanna Rossetti, 31, teve o primeiro contato com a dermatite atópica ainda na infância. A condição perdurou na adolescência e na fase adulta. Pomadas com corticóide pareciam uma solução mágica para lesões cutâneas desaparecem. Até que a morada da Irlanda do Norte desenvolveu a síndrome da pele vermelha.
A condição também é chamada de síndrome da retirada de esteróides tópicos. “Ela ocorre quando para o uso prolongado de corticóides, especialmente os de alta potência, que são frequentemente usados para tratar condições dermatológicas, como dermatite atópica ou psoríase”, explica a dermatologista Giuliana Miranda, do Hospital São Luiz São Caetano do Sul, da Rede D’Or.
Normalmente, o indivíduo desenvolve a condição pelo uso excessivo do corticóide já que ele é comprado sem receita, como pontua a dermatologista Melissa Yoshimi, do Hospital Nove de Julho. Além disso, o fármaco costuma ser retirado de forma abrupta da rotina do paciente.
Rossetti relata que seu caso foi diferente. Desde a infância até a vida adulta, ela recebeu prescrição de dexametasona em todas as crises de pele que teve. Entretanto, nunca ouviu falar sobre os efeitos colaterais do medicamento.
“Até que, em agosto de 2023, meus olhos amanheceram inchados e com a pele ao redor deles ressecada”, lembra. Ao procurar pelo atendimento médico irlandês, foi medicada com um colírio em creme e mais uma pomada de corticóide para a região seca.
O quadro só piorou. Um novo medicamento foi prescrito por mais oito dias e, então, as lesões cutâneas começaram a aparecer. Rossetti foi encaminhada para um dermatologista pela primeira vez, ao mesmo tempo que recebia a prescrição de novos fármacos, à base de corticoides tópicos, para controlar as feridas de pele.
Giovanna Rossetti abriu uma vaquinha para custear um tratamento na Tailândia — Foto: Arquivo pessoal
Rossetti com os braços machucados — Foto: Arquivo pessoal
As pernas também ficam com feridas — Foto: Arquivo pessoal
“Começou a saga atrás de especialistas de pele. Eu dizia a eles que o que estava acontecendo era efeito colateral dos corticoides. Mas ninguém me ouvia. O que me deixa ainda pior mentalmente é que estou assim por uma prescrição médica errada, por um descaso”, lamenta.
Rossetti descobriu sobre a síndrome da pele vermelha quando se deparou com um grupo de portadores da doença. Além de entender que havia um nome para o que estava passando, ela encontrou um tratamento na Tailândia.
A esteticista se consultou com um médico do país por meio de telemedicina e recebeu o diagnóstico de síndrome da pele vermelha. Em seguida, abriu uma vaquinha para custear o tratamento.
“Na clínica tailandesa, existe uma máquina chamada Cold Plasma Atmospheric, que atua curando as feridas de pele e reduzindo a inflamação. São realizadas sessões todas as semanas de quatro a 12 meses. O valor total do tratamento fica em torno de 188 mil reais, incluindo passagem área, acomodação, sessões no aparelho, alimentação, produto utilizado depois da intervenção e transporte”, explica Rossetti.
Yoshimi afirma não conhecer a indicação do Cold Plasma Atmospheric para a síndrome da pele vermelha. Segundo a médica, a condição é irreversível e não tem um tratamento ouro, isto é, uma intervenção com evidências científicas que comprovem sua eficácia.
A luta diária de quem tem síndrome da pele vermelha
Os principais sintomas da síndrome da pele vermelha são: queimação ou ardor, coceira acompanhada de descamação, sensibilidade e, como o próprio nome já diz, vermelhidão. Esses traços da condição são bastante debilitantes, como lamenta a esteticista.
“É uma síndrome que tira a motivação de existir. Já falei para o meu marido que pedi a Deus, muitas vezes, que ele me levasse. Eu não aguento mais viver desse jeito”, desabafa.
Rossetti parou de trabalhar por causa da aparência. Ela sentia vergonha de ser esteticista e viver com a pele sempre machucada. Por mais que tentasse disfarçar com roupas longas e lenço no pescoço, não conseguia esconder as marcas do rosto.
As feridas roubaram a minha vida. Tomar banho é uma tortura. A pele queima quando sente o toque da água. Todo dia tenho que trocar os lençóis e aspirar a casa. Eu não consigo cozinhar porque o calor do fogão me queima mesmo com luva ou blusa de manga. Eu não posso nem pegar minha filha no colo ou brincar com ela no quintal por causa do sol”
Além das dores físicas, a esteticista diz que a síndrome também é uma tortura psicológica. “Eu não me reconheço mais no espelho e não posso ter mais vaidade. Estou em crise há meses e não saio de casa. Mesmo fazendo terapia, é muito desafiador mentalmente. Não desejo isso para ninguém”, pontua.
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