Andrés Manuel López Obrador, presidente do México (à esquerda), e Daniel Noboa, presidente do Equador (à direita). — Foto: REUTERS/Henry Romero e REUTERS/Karen Toro
Na sexta-feira, policiais invadiram a embaixada do México em Quito para capturar o ex-vice-presidente equatoriano Jorge Glas, que é condenado por corrupção. Após o episódio, o presidente mexicano López Obrador rompeu relações com o país.
Por g1
Diplomatas mexicanos deixaram o Equador neste domingo (7) após romperem relações com o país depois que policiais invadiram a embaixada do México, em Quito, para capturar o ex-vice-presidente equatoriano Jorge Glas.
"Nosso pessoal diplomático deixa o Equador e volta para casa com a cabeça e o nome do México erguido após um ataque à nossa embaixada", informou na rede social X a ministra das Relações Exteriores, Alicia Bárcena.
O grupo, que segundo as autoridades é composto por 18 pessoas, viaja por uma companhia aérea comercial, depois de ter sido descartado o envio de um avião militar devido às tensões.
Os funcionários e suas famílias foram acompanhados ao aeroporto de Quito pelos embaixadores da Alemanha, Panamá, Cuba e Honduras, bem como pelo presidente da Câmara de Comércio Equador-México, informou o Ministério das Relações Exteriores do México.
Contexto: a invasão da polícia equatoriana na embaixada do México aconteceu na noite de sexta-feira (5). Durante a ação, os policiais prenderam Glas, condenado a seis anos de prisão por cor-rupção em um caso que envolve a Odebrecht.
Glas recebeu asilo político do México e estava na embaixada desde dezembro 2023. Ele alega ser vítima de uma perseguição da Procuradoria-Geral do Equador.
Após a invasão, o presidente mexicano López Obrador anunciou o rompimento das relações diplomáticas com o Equador.
De acordo com a Convenção de Viena sobre as Relações Diplomáticas, de 1961, os locais de missões de um país dentro de um outro como embaixadas e consulados são considerados invioláveis. Equador e México aderiram à regra na década de 1960.
Segundo o tratado, a entrada de agentes de estado dentro desses locais depende da autorização do chefe da missão estrangeira. Ou seja, no caso do Equador, a polícia deveria solicitar permissão ao embaixador mexicano para ingressar na Embaixada do México.
México rompe relações diplomáticas com o Equador após polícia invadir embaixada em Quito
A prisão
Jorge Glas foi condenado a seis anos de prisão em 2017. Ele foi considerado culpado de receber propina da construtora Odebrecht em troca da concessão de contratos governamentais.
O governo do México anunciou na sexta-feira que tinha concedido asilo político a Glas.
Diante do anúncio, o Ministério das Relações Exteriores do Equador afirmou que o México estava violando acordos de asilo político. Além disso, autoridades equatorianas pediram permissão ao México para entrar na embaixada em Quito e prender Glas.
Durante a noite de sexta, um grupo de policiais equatorianos foi até a Embaixada do México com veículos escuros e arrombaram as portas externas da sede mexicana para entrar no local.
A principal avenida de acesso à embaixada também foi fechada pela polícia.
Em uma rede social, o presidente mexicano disse ter sido informado da invasão pela Secretária de Relações Exteriores e que o caso é uma violação do direito internacional e da soberania do México.
Por meio de um comunicado, o governo do Equador afirmou que não iria permitir que "nenhum criminoso fique impune", referindo-se a Jorge Glas. Além disso, afirmou que o Equador respeita o povo mexicano e que embaixadas servem para estreitar relações entre os dois países.
Crise
A crise entre México e Equador começou a escalar após declarações do presidente López Obrador sobre as eleições equatorianas de 2023.
Na quarta-feira (3), Obrador comparou o assassinato de Fernando Villavicencio, que era candidato à Presidência do Equador, à violência na atual temporada eleitoral do México.
Villavicencio foi morto em agosto de 2023, após um comício em Quito. Já no caso do México, vá-rios candidatos locais foram assassinados nas últimas semanas. As eleições mexicanas estão marcadas para junho.
Obrador também afirmou que a candidata de esquerda Luisa González, derrotada nas eleições do Equador, foi injustamente associada ao assassinato de Villavicencio. O presidente mexicano ainda culpou a mídia do Equador, chamando-a de corrupta.
López Obrador fez a comparação com o objetivo de atacar os veículos de mídia mexicanos, alvos de críticas frequentes por parte dele.
O governo do Equador considerou as falas de Obrador "infelizes" e, como resposta, declarou a embaixadora mexicana "persona non grata".
O termo "persona non grata" é um instrumento jurídico utilizado nas relações internacionais para indicar que um representante oficial estrangeiro não é mais bem-vindo.
https://g1.globo.com/mundo/noticia/2024/04/07/diplomatas-mexicanos-deixam-o-equador-neste-domingo-apos-invasao-em-embaixada.ghtml