Juazeiro do Norte. O universo da leitura não anda tão solitário no Interior. Apesar de pouco frequentadas, as bibliotecas públicas ainda são atrativas para o leitor. O público, em alguns casos, pode até ter ser um pouco diferenciado, mas, novas iniciativas, com melhor infraestrutura e renovação de acervo, seja por meio de projetos ou doações de apaixonados pelo conhecimento, têm contribuído para o crescimento das salas de leitura na região do Cariri, em função da criação de espaços em localidades carentes.
Em Juazeiro do Norte, a Biblioteca Pública Municipal Possidônio Silva Bem foi criada em 1975. O acervo atual pode não parecer tão numeroso, mas tem sido um grande atrativo para estudantes de escolas públicas e interessados em fazer concursos. Segundo a diretora do espaço, a bibliotecária Kátissa Galgania Feitosa Coutinho, são cerca de 900 visitantes por mês.
Com uma grande quantidade de livros vindos de Brasília, doados no ano passado, o acervo passou por uma pequena renovação, principalmente, na parte de literatura brasileira.
A bibliotecária reorganizou o espaço e mais livros foram adquiridos. Só que as prateleiras para colocar as obras ainda está em falta, e todos os 907 livros adquiridos com recursos do Ministério da Cultura estão em caixas, na sala de Kátissa Coutinho. Uma quantia de R$ 8 mil foi aprovada, por meio de edital, para a compra do acervo. São quase dois mil novos livros adquiridos. As novas edições fazem parte da lista da Biblioteca Nacional.
Para a diretora, mesmo com a concorrência dos equipamentos eletrônicos, não há nada que substitua um livro e uma boa leitura, num local adequado, onde há a oportunidade de contemplação e de manuseio das obras. Porém, admite que as bibliotecas são espaços pouco frequentados. Ela constata que deveria haver uma divulgação maior por parte das escolas, além de projetos de incentivo à leitura.
Expansão
A expansão para os bairros, principalmente, os mais carentes, tem sido uma meta em Juazeiro, por meio da iniciativa do secretário adjunto de Cultura, Franco Barbosa, que coordenou a criação das bibliotecas comunitárias. As doações foram realizadas pelo cearense Elmano Rodrigues Pinheiro, por meio do projeto Padarias Espirituais. Cada espaço pode armazenar aproximadamente 3 mil livros.
O empréstimo de livros na Biblioteca Pública, em Juazeiro, acontece de forma gratuita, por um prazo de até 15 dias. A maior parte emprestada é de Literatura. "Temos recebido um grande público de estudantes universitários que vêm realizar pesquisas e também estudar para concursos", diz Kátissa.
Livrarias
Por outro lado, por não ser um produto acessível à maioria das pessoas, o custo financeiro das editoras acaba afastando das livrarias muitos leitores ávidos. A vendedora Regilânia Vieira dos Santos, da Nobel, no Cariri Garden Shopping, em Juazeiro do Norte, afirma que o livro passa a ser um bem de consumo de alto custo para muitas pessoas, um produto não tão fácil de ser comercializado, por se requerer cuidados especiais, além de ter um público específico.
Os livros de autoajuda, literatura brasileira, estrangeira e ficção estão entre os mais comercializados, mas a clientela universitária tem sido crescente nos últimos anos. A vendedora avalia um crescimento anual das vendas em torno de 5%.
Variedade
Em mais de 13 anos, a livraria onde pode ser encontrado um dos acervos mais atualizados na região é praticamente a única a oferecer uma maior variedade de obras. De lá para cá, foi inaugurada apenas uma filial, no Crato. As poucas livrarias praticamente se restringem ao comércio de livros didáticos e de autoajuda. Os sebos da região também são opções para a compra de edições mais em conta.
Na cidade do Crato, a Biblioteca Municipal, mesmo com uma infraestrutura das melhores da região, espaço climatizado e prédio moderno, está com um acervo necessitando de renovação. Contudo, segundo funcionários da repartição, os usuários ainda estão se acostumando com o novo local, na área da Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima (RFFSA).
Mais informações:
Biblioteca Pública Municipal
Rua Santo Agostinho, S/N, Centro
Juazeiro do Norte/CE
Telefones: (88) 3512.3380/
(88) 3511. 1999
ELIZÂNGELA SANTOS
REPÓRTER
Padarias Espirituais levam cultura à região do Cariri
Juazeiro do Norte. Por ano, ele consegue reunir cerca de 50 mil livros. A meta é abrir cada vez mais bibliotecas comunitárias nos lugares mais carentes e com maior sede de conhecimento. Denominadas de Padarias Espirituais por Elmano Rodrigues Pinheiro, cearense de Farias Brito, residente em Brasília, com mais de 30 anos de atuação na gráfica da Universidade de Brasília (UnB), já se somam milhares de edições encaminhadas para o Cariri, por iniciativa própria.
Por conta do projeto, já foram enviados mais de 600 mil livros para diversas localidades carentes de Crato e Juazeiro do Norte, algo que vem beneficiando a população. Mais cidades do Cariri devem ganhar bibliotecas comunitárias
Foram realizadas doações a instituições como o Instituto Cultural do Cariri (ICC), no Crato, de 15 mil títulos, universidade e ao projeto de bibliotecas comunitárias de Juazeiro do Norte, que alimentou a criação de cinco delas em bairros carentes. E mais cidades da região serão beneficiadas com o projeto.
Um dos bairros a receber o projeto encabeçado pelo professor Franco Barbosa, antes diretor da Biblioteca Municipal da cidade, agora secretário Adjunto de Cultura, foi o João Cabral. Com quase 30 mil habitantes, na terra de mais de 250 mil, a cidade tinha apenas o espaço municipal como opção de leitura. Agora, a padaria de mais de três mil livros é realidade para os habitantes que costumavam conviver com a violência e a pobreza. Bairros como Vila Nova, Vila São Francisco, Limoeiro e Frei Damião também foram escolhidos.
O principal critério para a seleção é a distância do centro da cidade. O apoio das entidades sociais tem sido indispensável para a instalação das livrarias. O projeto que assumiu sozinho em prol dos mais carentes de conhecimento é responsável pelo envio de mais de 600 mil títulos para diversas localidades.
"Estamos com quase quatro carretas prontas, dependendo da retirada", diz Elmano Pinheiro, esperando apenas que o saber aporte nos lugares determinados pelas doações. O projeto cresceu. Ele mesmo já chegou a vender bens pessoais para dar conta do encaminhamento dos títulos, pagando, inclusive, os fretes. Em 15 anos de trabalho, explica que um dos maiores obstáculos é o aumento da demanda e a falta de ajuda financeira de órgãos públicos.
Doações
As doações dos acervos, além da população em geral, são feitas pela Ecocamara, Biblioteca Nacional de Brasília, escolas públicas do Distrito Federal, ministérios, Fundação Assis Chateaubriand, Garage Sale Open House e escolas particulares. Também algumas editoras, inclusive do Ceará, a exemplo da Imeph e Conhecimento. Em Brasília, segundo Elmano, a Editora Ensinamento tem publicando na Cesta Básica da Cultura e Conhecimento obras de autores da região do Cariri. Na última quarta-feira, no Sesc, no Crato, foi lançado "O que faz o egoísmo", de Luciano Carneiro.
O trabalho faz parte de uma coleção em que já foram lançados perto de 100 títulos, com publicações de obras de cordelistas como Josenir Lacerda e João Nicodemos, Nezite Alencar, professor Eugênio, José Normando Rodrigues. Outros estão para ser impressos, após inclusão na Lei Rouanet.
Elmano Rodrigues anuncia que mais cidades do Cariri vão receber novas bibliotecas comunitárias, a exemplo de Farias Brito. São duas novas, a Padaria Espiritual Zé de Mizim, em Nova Betânia, e a Padaria Espiritual Neusa Alcantara Costa, em Cariutaba. Os prédios estão prontos, e o acervo ser entregue nos próximos dias.
Em 2013, em Farias Brito, será lançado o projeto piloto com o programa "Leitura Participativa". São 20 bibliotecas domiciliares denominadas "Cantinho das Letras", com estantes com aproximadamente 300 títulos. Os livros, objetos transcendentes, tão alardeados na música de Caetano Veloso, nunca chegaram tão perto do povo.