Conselho de Medicina diz ser contra realização de partos em casa no Ceará

Por Igor Gadelha

O Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (Cremrj) proibiu nesta terça-feira (23) a realização de partos em casa. No Ceará, apesar de ainda não haver nenhuma proibição, o Conselho Regional de Medicina (Cremec) afirma ser contra o procedimento. As enfermeiras obstetras, no entanto, defendem o direito das mulheres de escolher onde ter o filho.

De acordo com o conselheiro do Cremec e médico obstetra, Helvécio Neves Feitosa, o grande problema do parto em casa está nas possíveis complicações médicas que podem vir a acontecer. “Você nunca sabe como um parto vai terminar. A mãe pode ter uma hemorragiaou retenção de placenta e, como não está num hospital, pode ser que não dê tempo socorrer”, explica.

O médico afirma que o Cremec desconhece a realização do procedimento em Fortaleza e que, por esse motivo, o assunto ainda não foi discutido pelo Conselho. Apesar disso, reconhece que, no interior do Estado, a prática continua bastante comum, principalmente em localidades distantes, onde não há hospitais ou médicos com facilidade. “É um risco desnecessário ao feto e à mãe”, defende.

“Mãe do Corpo”

Apesar do Cremec desconhecer a prática, em Fortaleza, o “Mãe do Corpo” acompanha partos nas residências há dois anos. A coordenadora do grupo, a enfermeira obstetra Semírames Ávila, afirma que eles trabalham baseados nos preceitos da Organização Mundial da Saúde (OMS), “que diz que a mulher tem o direito de escolher onde se sente mais a vontade e segura para ter o filho”.

Semírames conta que o “Mãe do Corpo” realiza uma média de um parto a cada três meses. “Não precisa da presença do médico. A enfermeira obstetra, dentro das suas atribuições, pode acompanhar [o procedimento]”, explica. Ela acrescenta que, em alguns casos, há ainda a presença das parteiras, principalmente no interior do Ceará, onde, segundo ela, a prática ainda é tradicional.

A coordenadora comenta também que o grupo trabalha com uma margem de segurança. “Qualquer problema, a gente encaminha logo para o hospital”. Ela afirma que, durante os dois anos em que o “Mãe do Corpo” atua, foram poucos os casos de complicação. “Tivemos uma mulher que não saiu a placenta, mas foi para o hospital e deu tudo certo”. E acrescenta: “Nunca tivemos um óbito”.

Doula

A enfermeira afirma ainda que o grupo também trabalha com as doulas – mulheres que dão suporte às mães durante a gravidez e o parto. Mas esclarece: “A doula não é parteira. Um enfermeira pode ser doula, mas isso não significa que toda doula é enfermeira”. Por conta da discussão, Semírames comenta que o grupo já está organizando um novo protesto na Capital cearense, ainda sem data definida.