Esteve longe de ser o melhor dos jogos do Cruzeiro ou o pior dos jogos do Flamengo. Mas fase é fase. Em uma tarde emblemática para a péssima maré rubro-negra, a Raposa contou com o oportunismo de Borges, seu novo centroavante, para vencer por 1 a 0 neste domingo, no estádio Independência. Os visitantes perderam gols inacreditáveis, especialmente com Vagner Love, que completou cinco partidas sem marcar - seu pior jejum no time.
Foi uma partida equilibrada, de idas e vindas, ataques e respostas. O Flamengo teve 54% de posse de bola e finalizou 17 vezes (contra 12 do adversário). Quatro delas foram no mesmo lance, um dos mais incríveis da temporada no futebol brasileiro - e todas pararam no goleiro Fábio, ou nos zagueiros, ou no travessão.
Mas não passou de um susto para o Cruzeiro. Com a vitória, o time de Celso Roth subiu para 20 pontos, na quarta colocação (ainda podendo cair para quinto). O Rubro-Negro, com 15, é o décimo.
O volante Ibson, que teve atuação ruim, gostou do desempenho do Flamengo:
- Mais uma vez a equipe jogou muito bem, criou oportunidades, mas mais uma vez facilitou um pouco e sofreu um gol no fim do primeiro tempo. Não adianta lamentar, foi mais uma derrota, mas já temos um jogo importante na quinta-feira.
A Raposa volta a campo na quarta-feira. Visita o Corinthians às 21h50m no Pacaembu. O Flamengo, um dia depois, recebe a Portuguesa.
Uma questão de centroavantes...
Vagner Love não teve chances de gol contra o Corinthians, na última rodada. Sequer uma conclusão. Nada, nada. Com um bocado de raciocínio lógico, o atacante do Flamengo lembrou que é impossível fazer gols sem ter a bola como companheira. A ressalva ao pensamento do camisa 99 veio quatro dias depois. No primeiro tempo do duelo com o Cruzeiro, Love teve a bola diante de si. Em vez de aliada, ela virou barreira. E do outro lado havia Borges...
Foram 45 minutos para mostrar como é importante esse tal de centroavante, objeto de desejo, quase de tara, para 11 entre cada dez treinadores. Eles decidem. Para o sim e para o não. No primeiro tempo no Independência, Borges decidiu para o sim. E Love para o não.
As chances do flamenguista foram mais vivas do que as do cruzeirense. Com nove minutos, já poderia ter marcado de cabeça, em belo passe de Adryan - dono de boas jogadas individuais na partida. A conclusão, porém, foi torta. Trinta minutos depois, ele desperdiçou a oportunidade mais clara do jogo - e certamente uma das mais gritantes de sua carreira. Recebeu na pequena área, frente a frente com Fábio. Teve tempo de dominar, olhar, pensar. E errar. Chutou em cima do goleiro.
Em um primeiro tempo equilibrado, com o Flamengo surpreendentemente capaz de tramar jogadas envolvendo mais de dois jogadores (algo tão raro na temporada), as falhas do atacante foram fatais. O Cruzeiro foi para o vestiário com vantagem no intervalo não por ter sido melhor, e sim por ter feito um gol - assim, simples e complexo ao mesmo tempo.
Foi interessante a participação de Ceará na vitória celeste nos 45 minutos iniciais. Com um meio-campo congestionado por muitos jogadores de marcação (Amaral, Luiz Antônio, Ibson e Renato Abreu no Flamengo, Leandro Guerreiro, Willian Magrão e Charles na Raposa), a equipe mineira soube explorar o lateral pela direita. Dos pés dele, saíram repetidos cruzamentos, ou com a bola rolando, ou com ela parada. O gol saiu assim.
Foi aos 44 minutos. Ceará, com espaço, olhou para a área e mandou a assistência. Borges, centroavante daqueles com perfeita noção de qual o seu raio de ação, se antecipou e desviou. Fez o que Vagner Love tentou, mas não conseguiu.
Uma fase simbolizada em um lance
O placar obrigava o Flamengo a voltar mais incisivo no segundo tempo. Mas aconteceu o contrário. Em vez de tentar gastar o tempo, o Cruzeiro resolveu otimizá-lo - indo ao ataque. Os primeiros dez minutos da etapa final foram de predominância da equipe da casa, embora sem chances claras de gol.
Aos poucos, o Flamengo voltou a equilibrar o jogo. Ibson bateu rasteiro, de fora da área, e Fábio espalmou para escanteio. Adryan também teve boa chance, mas foi bloqueado pela defesa. Ciente do bom momento do time, Joel Santana, que já tinha chamado Camacho e Hernane para conversar, freou as trocas.
Hernane só entrou aos 25 minutos. E a substituição irritou a torcida. Em vez de tirar um dos meias (a atuação de Ibson dispensava adjetivos) ou Vagner Love, Joel preferiu sacar Adryan. Em seguida, substituiu Renato por Camacho.
A pressão dos visitantes aumentou. E chegou a seu supremo aos 33 minutos. Léo Moura entrou livre pela direita e mandou para a área. Rafael Donato cortou. A bola ficou viva. Vagner Love chutou, e Fábio defendeu. No rebote, Hernane mandou com o braço no travessão. Em novo rebote, Fábio voltou a abafar a conclusão de Vagner Love. Hernane ainda tentou mais uma vez, mas Marcelo Oliveira salvou. Impressionante.
Foi um sinal de que o Flamengo não faria o gol, não importava para quais santos rezasse. O lance resumiu a fase rubro-negra.