No rol dos 15 municípios onde há o maior número de pessoas enquadradas na extrema pobreza na área de atuação do Banco do Nordeste do Brasil (BNB) estão três cidades cearenses. Fortaleza (em segundo lugar), Caucaia (11º) e Itapipoca (12º).
Os dados foram fornecidos pelo Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste (Etene), nas pesquisas denominadas "Nordeste do Brasil: Sinopse Estatística 2012" - um diagnóstico social e econômico da área de atuação do BNB; e "Nordeste em Mapas", que detalha o quadro geral com dados municipais, segmentando temas que congregam informações sobre o território, demografia e financiamentos da instituição financeira.
De acordo com o estudo, com referência ao ano de 2010, existem 133.992 fortalezenses vivendo em situação de miséria. A Capital alencarina fica atrás apenas dos soteropolitanos. Há 147.864 baianos classificados na extrema miséria em Salvador. Recife (106.825) e Maceió (74.925) vem em seguida.
No ponto de vista do coordenador de pesquisas do Laboratório de Estudos da Pobreza (LEP), do Curso de Pós-Graduação em Economia (Caen), da Universidade Federal do Ceará (UFC), professor Carlos Manso, o resultado (em números absolutos) de Fortaleza é um reflexo do que acontece em todo o Estado. "Esses números servem para nunca deixar de nos esquecer de fortalecermos as políticas públicas que dão apoio às pessoas", destaca.
Para o professor, investimentos como siderúrgica e refinaria, por exemplo, trarão dinamismo econômico para o Ceará, contudo, os integrantes da extrema pobreza pouco poderão usufruir desse fenômeno. "É preciso educação, fundamentalmente, e qualificação específica, a chamada inclusão produtiva, para que eles possam se inserir na competitividade do mercado. Isto é amenizar o déficit educacional. Além, é claro, de oferecer condições domiciliares adequadas de moradia, saneamento, energia, água e coleta de resíduos sólidos", afirma Manso, ressaltando que essas iniciativas necessitam ser "sistematizadas, pois é importante a coordenação de forma inteligente. Essas pessoas precisam de ajuda e de serem acompanhadas com políticas que as beneficiem", diz.
Outros cearenses
Segundo ele, o aparecimento de Caucaia e Itapipoca na lista das 15 cidades com grande volume de famílias extremamente pobres também é reflexo da ausência dessas políticas públicas. "Caucaia é uma mostra da incrível desigualdade. Um município com PIB altíssimo e parte da população na miséria. Porém, o mais preocupante, até que Itapipoca tem uma população numericamente menor, é a situação de Granja. Lá, o PIB é baixo, com pequeno dinamismo econômico, e 40% da população está na extrema pobreza, segundo o Ipece (Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará).
Entre estados
Conforme a pesquisa do Etene, baseada em informações do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) e do Censo 2010, mais de 10 milhões de pessoas nos municípios da área de atuação do BNB vivem com renda mensal de até R$ 70 per capita. "Esse contingente corresponde a 61,9% dos 16.267.197 brasileiros que se encontram nessa linha", explica um dos trechos da pesquisa.
Em relação aos demais estados da região de atuação da instituição financeira, o Ceará encontra-se entre os três piores, com 9,2% da quantidade da população total que vive na miséria, atrás apenas de Bahia (14,8%) e Maranhão (10,4%).
199 mil famílias com Bolsa Família na Capital
Fortaleza é o município com maior quantidade de famílias beneficiadas com o Bolsa Família, segundo levantamento realizado pelo Etene, do Banco do Nordeste, com base no ano de 2010. Ao todo, na metrópole cearense, 199.333 famílias recebem o auxílio do governo federal. Outras quatro capitais aparecem em seguida: Salvador (185.629); Recife (132.036); Maceió (87.016); e São Luís (78.868).
Segundo o professor da UFC, Carlos Manso, "é um comprovação de que essas pessoas (que vivem na extrema pobreza) não estão ´invisíveis´ aos olhos do poder público e da sociedade". Para ele, é natural que Fortaleza tenha um número elevado de benefícios porque existem muitas pessoas na situação de miséria morando na Cidade.
Ciclo não fecha
Na opinião do professor, é indiscutível a importância do maior programa de transferência de renda do País. Porém, é importante oferecer um pouco mais do que o Bolsa Família propicia. "Há duas contrapartidas fundamentais no programa. A transferência direta de renda e a questão de garantir os filhos na escola. A ideia é ótima, mas, mais do que manter os filhos no colégio, é preciso saber que tipo de escola está sendo oferecida para essas crianças", questiona Manso. "O ciclo só fecha se houver educação de qualidade para inseri-los no mercado e na sociedade".
ILO SANTIAGO JR.
REPÓRTER