Corinthians busca hoje a Libertadores, título que tenta há 35 anos

LUCAS REIS
MARTÍN FERNANDEZ
DE SÃO PAULO

Milhões de corintianos esperaram por décadas pela noite de hoje: contra o Boca Juniors, no Pacaembu, Tite e seus jogadores buscam o inédito troféu da Libertadores.

E esperar, assim como torcer e sofrer, é o verbo mais conjugado pelo clube fundado no bairro do Bom Retiro há mais de cem anos.

O Corinthians pode encerrar uma espera que já dura 35 anos. Ser o dono da América significa mais do que dar a volta olímpica, bordar a estrela no escudo, pintar a conquista no estádio que está sendo erguido em Itaquera.

Ganhar hoje vai significar o fim da virgindade continental, o fim do deboche dos rivais locais, todos já donos de ao menos uma dessas taças.

Liderado pelo mais eficiente sistema defensivo da América, o Corinthians precisa de uma vitória simples contra o Boca Juniors para, enfim, sagrar-se campeão. Qualquer empate leva a decisão para a prorrogação --e pênaltis.

Em Buenos Aires, no jogo de ida, houve empate por 1 a 1. Na final, gols anotados fora de casa não servem como critério de desempate.

Para superar o maior carrasco de brasileiros, do veterano e requintado Riquelme, o técnico Tite pede à torcida a paciência que sempre caminhou ao lado do Corinthians.

A primeira participação do Corinthians na Libertadores foi em 1977, meses antes do inesquecível gol de Basílio na final do Estadual, que encerrou o jejum de títulos de 22 anos, oito meses e sete dias.

Desde então são 35 anos de uma espera que se acentuou em 1991, quando a Libertadores tornou-se obsessão.

Dentro de São Paulo o clube sempre foi absoluto: logo na terceira participação, em 1914, já ganhou o primeiro Estadual. O Rio-São Paulo também veio na segunda edição.

Mas os corintianos sabem o quanto demorou para festejar um título nacional.

Este só veio em 1990, contra o São Paulo, com gol de Tupãzinho, como um Romarinho, que há uma semana saiu do anonimato e do banco de reservas para calar a mítica e temida Bombonera.

Hoje o novo xodó da torcida ficará no banco de novo.

Título internacional só houve em 2000, o Mundial de Clubes. A Fifa organizou e reconhece a conquista, mas ainda falta a Libertadores.

E o Corinthians está perto de ganhá-la em grande estilo. Se bate o Boca hoje, será o primeiro a conquistar a Libertadores de forma invita desde 1978, quando o mesmo Boca alcançou tal proeza, mas em apenas seis jogos.

Entre os brasileiros, só o Santos de Pelé conseguiu em 1963, mas fez só quatro jogos.

Tite não perde na Libertadores desde que o Tolima quase o derrubou do cargo, em fevereiro de 2011. São 13 partidas desde então.

O time que nunca se deu bem na América pode conquistá-la com autoridade após passar por venezuelanos, mexicanos, equatorianos, paraguaios, cariocas, e santistas --com Neymar.

Hexacampeão da Libertadores, décima decisão, fama de mau, o Boca tenta igualar-se ao Independiente como maior campeão da Libertadores, como sete conquistas.

Contra a pesada camisa azul e ouro do Boca, o Corinthians terá a seu favor um Pacaembu lotado e febril.

Cada metro quadrado do tradicional estádio é disputado a gritos por torcedores, patrocinadores, cartolas, políticos, jornalistas, enquanto ingressos são vendidos a preços de carro. O clube instalou telões no sambódromo, mas milhares estarão na porta do Pacaembu mesmo sem entrada. Tudo para saber se tanta espera valeu a pena.